domingo, 19 de setembro de 2010
A Caligrafia dos Sentimentos
Filmes: Brilho de uma paixão (Bright Star, 2009) e Amor extremo (The edge of Love, 2009)
Notas: 9,25 / 7,25
Para ler escutando: Set the fire to the third bar – Snow Patrol feat. Martha Wainwright
A arte só pode vir da intensidade. Grandes obras de arte devem ser feitas por pessoas intensas, sobre pessoas intensas. Um sentimento que pode ser ignorado, deixado pra lá, esquecido na rotina não gera nada de interessante, apenas o épico, o que te tira do seu equilíbrio normal, o que você não pode ignorar, sai naturalmente na forma de poesia, filme, pintura, pois é grande demais pra ser contido por qualquer um. E a grande maioria dos sentimentos intensos são meros derivados do inspirador de gerações e gerações de poetas, o amor. A saudade, o ciúme, o luto, até mesmo o ódio, todos estão profundamente relacionados com a hoje banalizada palavra com A. E um verdadeiro poeta ou artista se entrega completamente à intensidade dos seus sentimentos, mesmo sabendo que uma chama tão forte pode consumir tudo e todos, e só é eterno enquanto dura, como diria nosso intenso poeta Vinícius.
Em 2009 o cinema inglês resolveu contar a história de dois poetas do país, John Keats e Dylan Thomas. Duas personalidades diferentes que geraram dois filmes diferentes, porém com uma semelhança. Como o personagem Dylan em “Amor Extremo” diz, o poeta se alimenta de amor, e tanto ele quanto Keats vivem desta maneira, imersos completamente em seus sentimentos.
“Amor extremo” é um retrato de um grupo de pessoas que funciona como um elástico esticadíssimo. As forças que os unem são tão intensas, os sentimentos tão fortes (e nada saudáveis), que o espectador sabe, desde o início, que alguma hora esse equilíbrio frágil acaba e o elástico estoura. Essa atmosfera de tensão é criada através do desgaste emocional constante de cada um dos membros do frágil quarteto amoroso, que é unido pelo egoísmo e imaturidade do poeta Thomas. O poeta sabe que aqueles sentimentos fortes e destrutivos são importantes para o seu ofício, e por isso os cultiva, sem se preocupar com a devastação que causa nas pessoas que ama. O filme é filmado de maneira belíssima, com uma fotografia impecável, e possui interpretações seguras de Cillian Murphy e Matthew Rhys e uma interpretação brilhante de Sienna Miller. Keira Knightley? O ponto fraco do elenco, Keira começa a me convencer de que ela nunca foi boa atriz, afinal. Um bom filme, mas que poderia ser melhor se diminuísse o tom melodramático.
“Brilho de uma paixão” é, talvez, o filme mais romântico que eu já vi. É o filme que a saga Crepúsculo queria ser, com sua história de amor impossível, sua heroína inteligente e independente e uma versão melhorada (e real) do Edward Cullen, sem precisar de glitter. A construção do amor entre o hoje famoso (e odiado pelos seus contemporâneos) John Keats e Fanny Browne é tão linda e tão sutil que é apaixonante até mesmo para o espectador. Uma vez me disseram que “Amor à flor da pele” foi o primeiro filme que retratou o sentimento amor, não apenas um amor. Com a intensidade dos olhares, versos apaixonados e magnetismo sutil, “Brilho de uma paixão” é um exercício perfeito na filmagem de um sentimento, e seu trágico final dói, mesmo para os que conhecem a história real e sabem, de antemão, o que acontecerá. O elenco está incrível, com destaque para a ótima performance de Abbie Cornish como Fanny. Jane Campion dirige esse lindo filme com segurança e precisão. Um poema visual.
Dois filmes sobre a experiência intensa de estar apaixonado. Em “Amor extremo”, Thomas destrói seus amores e amigos com o exagero e a inquietude de seus sentimentos, e o filme cai nessa mesma armadilha, sucumbindo à sua própria atmosfera trágica de ópera. Já em “Brilho de uma paixão”, a sutileza e a sinceridade emanam da tela como o fazem dos poemas de Keats, e o filme corre como um sonho bom, dando ao espectador uma nostalgia de uma época que ele nem viveu, uma época de amores líricos e profundos, ainda que trágicos.
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Ana, simplismente incrivel, e na medida que eu ia lendo o texto, não se podia esperar alguma coisa a mais. Está totalmente equilibrado, e o talento de escolher palavras voce tem não é de hoje.
ResponderExcluirParabens,
Matheus Navarra.
Ei Ana!!
ResponderExcluirSou Luísa, aquela caloura, lembra?? Adorei o jeito que você escreve, fiquei me sentindo super apaixonada! Não vi nenhum dos dois filmes, mas com certeza vou procurá-los, ainda mais ''Brilho de uma Paixão''. Não sei se você iria gostar tanto quanto eu, porque a protagonista quem faz é a Keira, mas ''Orgulho e Preconceito'' tem uma fotografia também linda e uma construção do amor que me deixa toda apaixonada! Se você assistir, por favor, assista o final alternativo. É uma opção romântica de final feliz!
Oi Luisa, blz? Lembro sim, óbvio! Valeu por ler o blog, e te digo uma coisa: Eu sei o filme Orgulho e Preconceito de cor, sério, e cito falas dele no meio de conversas aleatórias. E nele a Keira está muito bem, num dá pra entender é como que ela tem piorado ultimamente. Acho que ela está fazendo exatamente o mesmo papel em todos os filmes, e piorando as atuações em cada um. Mas Orgulho e Preconceito é um CLÁSSICO. Jane Austen rules.
ResponderExcluirps: Nunca vi o final alternativo. Verei.
Gostei das listas hem?
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