domingo, 31 de outubro de 2010

Que a temporada comece





Para ler escutando: Golden Skans - Klaxons

Eis que chega novembro. E o cinéfilo, cansado de caminhar no deserto, entre remakes de filmes de terror e comédias que mais parecem remakes, começa a ver coisas no horizonte. Os festivais iniciam a temporada, e cada vencedor de Cannes, Veneza, Toronto, entre outros, acelera o coração dos pobres andarilhos. E na esperança de que essas miragens virem oásis de verdade, acabamos a entediante caminhada e começamos a correr para os cinemas.Aí vai uma lista dos filmes que você não pode perder se não quiser ficar para trás.

1- A Rede Social (The Social Network)
A história: O filme conta a história da criação do fenômeno Facebook direcionando os holofotes para a controversa figura de seu criador Mark Zuckerberg.
O Hype indica: Indicações certas para Melhor Filme, Melhor Direção (David Fincher), Melhor Ator (Jesse Eisenberg), Melhor Roteiro Adaptado (Aaron Sorkin, famoso pela série The West Wing) e Melhor Ator Coadjuvante (provavelmente Andrew Garfield, mas Justin Timberlake, sim, ele mesmo, e Armie Hammer também possuem chances). Até mesmo sua trilha, composta por Trent Reznor e Atticus Ross está cotada para o prêmio na categoria.
A data: 03/12

2- The King’s Speech
A história: O filme de época do ano conta a história do rei inglês George VI, e o ousado terapeuta de voz que é contratado para curar sua gagueira.
O Hype indica: Além de constar entre os principais candidatos à Melhor filme, deve receber indicações para Melhor Ator (Colin Firth) e Melhor Ator Coadjuvante (Geoffrey Rush).
A data: 11/02

3-A Origem (Inception)
A história: Esse todo mundo conhece. Ladrões especializados no subconsciente humano se preparam para um último trabalho.
O Hype indica: Se existe justiça no mundo, A Origem é indicado para Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original, além de prêmios técnicos e Melhor trilha sonora.
A data: Já foi.

4- 127 Hours
A história: Jovem alpinista fica preso sob uma pedra em uma região de cânions no Arizona. O filme acompanha sua luta solitária pela sobrevivência. História real.
O Hype indica: Mais um forte concorrente para o grande prêmio da noite. Além disso, James Franco deve ser reconhecido por sua atuação. O diretor Danny Boyle tem grandes chances de ser indicado, porém a vitória em 2008 por Quem quer ser um milionário pode atrapalhar seus planos.
A data: Sem data definida no Brasil.

5-Bravura Indômita (True Grit)

A história: Garota contrata matador para vingar o assassinato de seu pai. Remake do filme que deu um Oscar a John Wayne.
O Hype indica: True Grit não foi lançado em nenhum festival ou país ainda, mas já aparece na maior parte das listas de favoritos para Melhor Filme e Melhor Direção. A surpresa pode vir com a indicação de Hailee Stanfield, de apenas anos de idade, para o prêmio de Melhor Atriz.
A data: Sem data definida no Brasil.

6- Cisne Negro (Black Swan)
A história: Bailarina perde os limites entre a realidade e a loucura após a chegada de uma talentosa rival. Estranho, sombrio e psicologicamente complexo.
O Hype indica: O burburinho diminuiu após os primeiros festivais, mas Natalie Portman deve garantir sua vaga na categoria Melhor Atriz e Darren Aronofsky pode ser lembrado na hora da escolha dos 5 melhores diretores do ano.
A data: Sem data definida no Brasil.

7- Minhas mães e meu pai(The kids are all right)
A história: Uma crise familiar começa na casa de Annette Bening e Julianne Moore quando seus dois filhos decidem conhecer o pai biológico.
O Hype indica: Eu vi o filme e garanto, Annette Bening é nome certo para a categoria Melhor Atriz. Grandes chances de indicações para Melhor filme e Melhor Roteiro Original.
A data: 12/11

8-Blue Valentine
A história: O filme basicamente acompanha a vida de um jovem casal, interpretado por Michelle Williams e Ryan Gosling.
O Hype indica: Seria um forte candidato às grandes categorias se não fosse pela classificação 18 anos imposta pelo órgão responsável nos EUA. Mas ainda é um queridinho da crítica e pode surpreender.
A data: 31/12

9-Além da vida (Hereafter)
A história: Três diferentes histórias conectadas por um tema em comum, a morte. Matt Damon interpreta um médium no filme.
O Hype indica: É, tudo indica que o Sr. Oscar, Clint Eastwood, perdeu o jeito. Após o fracasso de Invictus, mais um filme do diretor começa a desaparecer como um fantasma das listas de possíveis indicações. Mas não podemos menosprezar um filme de Eastwood.
A data: 11/02

10-Um Lugar Qualquer (Somewhere)
A história: Uma visita de sua filha de 11 anos de idade faz um ator famoso repensar sua vida vazia. O filme tem fundo autobiográfico, revelando aspectos da relação entre Sofia Coppola e seu pai Francis Ford.
O Hype indica: Grande vencedor do Festival de Veneza, Somewhere corre por fora na disputa para uma das 10 vagas na categoria de Melhor Filme.
A data: Sem data definida no Brasil.

11- The Fighter
A história: História real de boxeador irlandês...sim, você já viu essa história várias vezes.
O Hype indica: A Academia adora uma biografia, e também curte um filme sobre boxe, então esse azarão pode se tornar um peso-pesado na hora da escolha dos indicados. As atuações também prometem. Christian Bale, fã de transformações físicas drásticas, perdeu peso para interpretar o irmão complicado do boxeador Micky (Mark Wahlberg).
A data: 24/12

12- Atração Perigosa (The Town)
A história: Ladrão de bancos se apaixona pela gerente de um dos locais que assaltou.
O Hype indica: A recepção crítica da nova obra do diretor e ator Ben Affleck foi ótima, e tudo indica que o filme vai longe na temporada do tapete vermelho.
A data: 29/10, corre pro cinema!

13- Como você sabe? (How do you know?)
A história: Reese Witherspoon fica dividida entre o executivo fracassado Paul Rudd e o jogador de baseball Owen Wilson.
O Hype indica: Comédia Romântica que juntará novamente Jack Nicholson e seu diretor em Melhor é Impossível, James L. Brooks. Precisa dizer mais? Deve ficar com a “vaga para comédias” do ano.
A data: 04/02

Coadjuvantes na disputa: Os thrillers O Turista e 72 Horas, de Florian Henckel e Paul Haggis respectivamente, podem surpreender. A Academia pode colocar uma animação no Top 10 de gente grande novamente, e a escolhida seria Toy Story 3. Jennifer Lawrence deve ser indicada como melhor atriz por seu misterioso Winter’s Bone. Woody Allen sempre tem chances nas categorias de roteiro e direção, dessa vez com Você vai conhecer o homem de seus sonhos.

domingo, 24 de outubro de 2010

Playlist TTF #21 – And if a double-decker bus…

Olá. Eu podia estar roubando, eu podia estar matando, mas só estou aqui para te sugerir uma trilha sonora especial para usar o agradável transporte público da sua cidade. Para melhorar seu humor naquelas horas que o desodorante parece uma mercadoria mais valiosa que o petróleo, e para te deixar mais dócil quando você tiver, inevitavelmente, que levantar de seu “confortável” assento para ajudar um cidadão da terceira idade. E se alguém na sua linha esquecer o fone de ouvido e colocar aquele funk nas caixas de som, aumenta o volume e transforme aquela lata de sardinhas em um verdadeiro Mercedes-Benz com motorista.

1- Get me away from here, I’m dying – Belle and Sebastian
Além do título da música já descrever exatamente o que sentimos dentro de um ônibus lotado, Stuart Murdoch diz “Aqui estou, sozinho em um ônibus” na música que é, para mim, a melhor de um dos melhores cds dos anos 90.

2- Wasted Hours – Arcade fire
A letra explica sua colocação na lista melhor do que qualquer texto que eu escreva aqui. A discografia da melhor banda canadense de todos os tempos é uma trilha sonora fantástica para o ônibus. Digo por experiência própria.

3- Shady Lane – Pavement
Escute Pavement no ônibus e observe a magia do mundo ficando em câmera-lenta à sua volta. Em ônibus matutino, então, naquela hora que a cidade ainda está acordando... Perfeito.

4- Here comes your man – Pixies
Uma música feita pra ser ouvida em movimento. Só toma cuidado pra não cantarolar e iniciar um air guitar em pleno transporte público.

5- Woke up this morning (The Sopranos Theme) – Alabama 3
A abertura de The Sopranos pode até mostrar um carro, mas é ainda melhor ouvir sua música tema sem se preocupar com a direção, com um braço apoiado na janela e um olhar concentrado no horizonte.

6- Born under a bad sign – Moneybrother
Uma música que faz a falta de sorte e de dinheiro soar cool. Para aquele dia em que a pessoa que entra na sua frente na catraca pega a última cadeira.

7- The Heinrich maneuver – Interpol

Olha, admito que essa escolha pode não fazer muito sentido para vocês. Mas sempre que eu ando de ônibus no entardecer/noite essa música fica na minha cabeça. Quem sabe você também acha apropriado.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Na Prateleira #3

Filme: Grey Gardens – Do luxo à decadência (Grey Gardens, 2009)
Nota: 8,25
Poderia ter na trilha: Fake Empire- The National
Pontos positivos: Atuações, direção, roteiro e figurinos dignos de tela grande, em uma produção televisiva.
Pontos negativos: Assista sabendo que vai te atingir emocionalmente. É um filme denso.

“Duas estradas divergiram na floresta amarela, e considerando uma, escolhi a outra, e isso fez toda a diferença...” (adaptado do poema de Robert Frost)
Edie Beale, em Grey Gardens (1975)


Uma escolha errada pode levar uma pessoa a uma vida frustrada e enlouquecedora. Edith Beale, parte da dinastia americana Bouvier (famosa por incluir a icônica Jackie O.), errou ao abandonar sua paixão pela música para ser a esposa ideal dos anos 50. Essa escolha a levou para uma espiral de autodestruição e estagnação. Mas ainda piores são as escolhas que nos são impostas e também só resultam em frustração. Edith, ao contemplar sua vida vazia e seu casamento fracassado, resolve impedir sua promissora filha, Edie, de viver como atriz e dançarina. E dessa maneira, as duas passam a viver num universo paralelo, numa luxuosa casa nos Hamptons. E com o empobrecimento e o descaso de sua rica família, as Beales passam a viver no meio do lixo, dos animais e da loucura. Esse ótimo filme feito para a TV pela genial HBO é uma encenação dos acontecimentos retratados no documentário de mesmo nome, gravado na década de 1970, e mostra a decadência da forma mais direta e deprimente possível. Destaque para as interpretações ótimas de Jessica Lange (genial) e Drew Barrymore (brilhando em um de seus primeiros papéis dramáticos).


Filme: Maré de Azar (Extract, 2009)
Nota: 6
Poderia ter na trilha: Good days, bad days – Kaiser Chiefs
Pontos positivos: Você irá curtir o filme nos seus 92 min.
Pontos negativos: 92 minutos será o que você vai precisar para esquecer do filme.

Fases difíceis não se restringem a jogos de plataforma. Problemas gostam de viajar em grupos, e o efeito dominó que esses pequenos desastres iniciam é impressionante. E a comédia, sempre apaixonada por pequenos desastres, adora tramas desenvolvidas em fases ruins da vida de um pobre personagem injustiçado. A vítima da vez é Jason Bateman, confortável no papel do “cara comum” Joel, e as suas desventuras são acompanhadas por um ótimo elenco de coadjuvantes. O filme funciona muito bem como entretenimento, mas é comum e esquecível demais. Destaques para as ótimas cenas com o insuportável vizinho Nathan.

Filme: Rebelde com causa (Youth in revolt, 2009)
Nota: 7
Poderia ter na trilha: Teenage Riot – Sonic Youth
Pontos positivos: Melhor que o besteirol adolescente genérico.
Pontos negativos: Porém, não deixa de ser um besteirol adolescente.

Feche os olhos e tente imaginar o Michael Cera como um cruel, frio e calculista vilão. Tenta, faz uma forcinha aí. Não conseguiu? Apesar de ter começado sua carreira como um assassino psíquico em um episódio de La Femme Nikita (veja aqui), Cera é o arquétipo do bom garoto, tímido e desajeitado. “Rebelde com causa” brinca com essa imagem que temos do ator, e conta a história de um garoto certinho que cria uma segunda personalidade, chamada “François Dillinger” (melhor nome de alter-ego da história) , com o objetivo de ser expulso de casa e conquistar uma menina. O filme não tem nada de revolucionário, mas vale por mais uma interpretação boa de Cera e por uma trama um pouco ousada e criativa para um filme adolescente. Mesmo assim, o jovem ator parece continuar interpretando o mesmo papel, uma eterna reprise de Paulie Bleeker, assim como Ellen Page parece repetir sua Juno em todos os seus filmes. Juno, um pequeno grande filme, marcou seus protagonistas tanto quanto uma grande franquia ou adaptação literária.

domingo, 17 de outubro de 2010

Playlist TTF #20 At the movies

Desde os tempos dos trovadores, a música é usada como uma forma de contar histórias. E o cinema, com os recentes musicais que exploram o catálogo de Beatles e Abba e o anúncio da filmagem de Faroeste Caboclo, clássico com C maiúsculo da Legião Urbana, finalmente resolveu utilizar esses pequenos contos em forma de poesia como esqueletos de roteiros maiores. Aí vão 7 músicas que mereciam uma chance nas telonas. Já aviso que essa lista não inclui “It’s the end of the world”, então, Roland Emmerich, pode desistir.

1- Two – The Antlers
Dir. Jonathan Dayton e Valerie Faris
Elenco: James Franco, Natalie Portman
Sinopse: Jovem casal em crise constante se vê diante de um problema muito maior do que a rebeldia da personagem de Portman e a frieza do personagem de Franco, quando Portman é diagnosticada com câncer terminal. Uma virada mais dramática para Dayton e Faris, sumidos desde o sucesso de “Pequena Miss Sunshine”.


2- Levi Johnston’s Blues – Ben Folds
Letra
Dir. Jason Reitman
Elenco: Tina Fey (Sarah Palin), Andy Samberg(Levi), Amanda Bynes (Bristol)
Sinopse: A história da gravidez de Bristol Palin, tão falada durante as últimas eleições americanas, vista pelos olhos de Levi Johnston, o pai da criança. Jason Reitman já mostrou que sabe fazer sátira política (“Obrigado por fumar”) e com certeza, sabe retratar problemas familiares e adolescentes como ninguém.

3- A Boy named Sue – Johnny Cash
Dir. Joel & Ethan Coen
Elenco : Joseph Gordon-Levitt (Sue), James Gandolfini (Pai)
Sinopse: Garoto recebe um nome feminino de seu pai (que o abandona em seguida) em pleno velho oeste. Sue jura encontrar seu pai e matá-lo, até que eles um dia se encontram em um saloon. Esse clássico do homem de preto parece ter sido feito sob medida para os irmãos Coen. Gordon-Levitt tem a veia cômica necessária pro papel de Sue, sem perder a expressão séria e concentrada, e James Gandolfini seria perfeito no papel do vilão da história, o pai.

4- Disco 2000 – Pulp
Dir. Cameron Crowe
Elenco: Chloe Moretz/Michelle Williams (Deborah), Ator mirim desconhecido/ John Krasinski
Sinopse: Vizinhos, garoto estranho e garota popular combinam de se reencontrar numa fonte no ano 2000. O filme se passaria em duas épocas diferentes, e Cameron Crowe saberia equilibrar a nostalgia dos dias de colégio e as reflexões da vida adulta. E ainda contaríamos com uma boa trilha sonora, espero.

5- The River – Bruce Springsteen
Dir. Sean Penn
Elenco: Emile Hirsch, Jennifer Lawrence (Mary)
Sinopse: A história de dois jovens no interior dos Estados Unidos, que se vêem casados e pais com 21 anos, vivendo de lembranças e enfrentando dificuldades financeiras e frustrações. Sean Penn e Emile Hirsch trabalharam juntos no maravilhoso “Na Natureza Selvagem”, e Lawrence é nome certo nas indicações pro Oscar 2010 por “Winter’s Bone”.

6- Spaceman – The Killers
Dir. Wes Anderson & Tim Burton
Elenco: Michael Cera, Alec Baldwin (Spaceman), Helen Mirren (Star Maker), Dream Maker (Johnny Depp)
Sinopse: Garoto (Cera) fixado com ufologia passa seus dias tentando ser abduzido, até que finalmente consegue. Porém, como um experimento, o garoto é devolvido para a Terra com um chip na cabeça, que o faz receber as vozes de um novato e desastroso pesquisador alien (Baldwin), uma pacífica e poderosa líder (Mirren) e um insano vilão (Depp). Obviamente, em animação stop-motion. E os limites entre sonho e realidade nunca estariam muito claros.

7- Eleanor Rigby – The Beatles
Dir. Clint Eastwood
Elenco: Liam Neeson (Father Mckenzie), Meryl Streep (Eleanor Rigby)
Sinopse: A história do romance entre a solitária Eleanor e o padre McKenzie, que cria uma polêmica em uma pequena cidade inglesa, e termina com o ostracismo de McKenzie e a morte de Eleanor. Clint Eastwood sabe dirigir a solidão, e Meryl poderia criar uma Eleanor inesquecível.

sábado, 16 de outubro de 2010

Autor-personagem


Filme: Tudo pode dar certo (Whatever works, 2009)
Nota: 7,5
Para ler escutando: Common People - Pulp

Nada mais difícil para um escritor, seja ele autor de post-its ou de romances de 900 páginas (ou de críticas em um blog), do que conseguir se distanciar do que escreve e não tornar tudo uma grande autobiografia disfarçada. Vários escritores e roteiristas, inclusive, não fazem muita questão de criar uma barreira entre o inventado e o vivenciado, e se diluem em diversos personagens, mantendo sempre um tipo de alterego fictício nas suas obras. Fellini, por exemplo, era adepto disso, colocando sempre aspectos diferentes de sua personalidade nos seus filmes. Mas preso em algum lugar no meio das frases “Escreve sobre o que conheces” e “Conhece-te a ti mesmo”, temos Woody Allen. Woody Allen sabe sim fazer filmes nos quais sua personalidade não transparece. Seus dramas, por exemplo. E até mesmo a comédia recente “Vicky Cristina Barcelona”, que muita gente ainda jura que é do Pedro Almodóvar. Mas na maior parte de suas comédias, Woody nem se dá ao trabalho de atenuar os traços autobiográficos.
Quem é Woody Allen? Woody Allen é um proto-indie (que frase pretensiosa da minha parte). O diretor-roteirista é um dos primeiros a adotar esse estilinho camisa xadrez, óculos de avô e sarcasmo na ponta da língua que tanto é copiado atualmente. Neurótico, de fala rápida, descrente, entediado e impressionado com o mundo a sua volta, Woody se coloca em cada personagem seu da maneira mais límpida possível. E em “Tudo pode dar certo” o proto-indie faz um estudo sobre todos os cults e alternativos de New York, e coloca no centro da história o seu tradicional alterego, dessa vez escolhendo não interpretá-lo, passando a responsabilidade para Larry David, famoso por dividir com Jerry Seinfeld os créditos de criador da série de comédia Seinfeld.
“Tudo Pode Dar Certo” firma suas estruturas em um ótimo roteiro que Allen escreveu ainda nos anos 70, e faz rir sem dificuldades e com freqüência. Mas o filme, apesar de estar acima da média geral de comédias lançadas nos últimos tempos, não sobressai numa filmografia como a de Allen. Não é um “Scoop”, mas não chega a ser um “Noivo neurótico, noiva nervosa”. Larry David não faz um bom trabalho como Boris, e atua como se todo o filme fosse uma gigante apresentação de stand-up comedy. Mas isso só acontece pois Allen cometeu o infeliz pecado de criar um personagem que “quebra a quarta parede”. Quebrar a quarta parede é olhar diretamente para a câmera e dialogar com o espectador. Na maior parte dos casos nos quais esse recurso é utilizado, o resultado é incômodo e desconcertante. Nem todos são Ferris Bueller.
Mas se o filme falha no tratamento de seu protagonista, compensa na construção de seus coadjuvantes. Melody é o contraponto preciso para o intelectualismo exagerado de Boris, e Evan Rachel Wood a interpreta perfeitamente. Além disso, Patricia Clarkson rouba a cena como a mãe de Melody.
A grande diferença entre Boris e os outros personagens autobiográficos de Woody é que o solitário físico de “Tudo pode dar certo” não conquista a simpatia do público e nem quer. Boris é mais amargo, rude e anti-social e o pior, pretensioso. Talvez isso reflita o momento pelo qual o diretor está passando. Boris treina sua aprendiz Melody para evitar clichês, mas o fim do filme não consegue fugir do grande clichê da festa de fim de novela. Sinceramente? Nada disso atrapalha o brilho da escrita de Woody Allen, que não perde o timing cômico com os anos. E as qualidades e os defeitos do filme se misturam no seu final, no qual o diretor nova-iorquino basicamente confessa que, no meio de todas suas peculiaridades, é só um cara normal, e no meio de toda ironia, esconde-se um sentimental de carteirinha. Mas, pro bem do cinema, Sr. Allen, não fique normal demais.

domingo, 10 de outubro de 2010

Playlist TTF #19 – Working Class Heroes

Músicas para dançar, pra ir pro parque, pra viajar. As Playlists do TTF já cobriram os fins de semana como ninguém. Até a última, que falava de amor, faz parte desse contexto, de acordo com The Cure e sua “Friday I’m in Love”. Mas nem tudo é ócio e diversão nessa vida, amigos. Pra quem é de trabalho, essa lista é pra amenizar o stress das cobranças dos chefes, das longas horas e dos prazos difíceis. Pra quem ainda é de estudo, como eu, essa lista é perfeita (e já foi testada inúmeras vezes) para aquele dia antes de uma prova ou entrega de trabalho, no qual você venderia até um rim pra comprar tempo, se este fosse realmente dinheiro.

1-Welcome to the working week – Elvis Costello
Segunda feira. O dia mais temido, mais odiado de todos. Mas quem sabe esse “Bem vindo à semana de trabalho” de Elvis Costello não tira a gente daquela horrorosa síndrome de Garfield. Não? Teremos que apelar para a Lasagna.

2-No Surrender – Bruce Springsteen feat. Brian Fallon
Eu escuto essa música depois de toda prova cujo resultado não é, well, favorável. Logo, ela anda no Repeat há um tempo. Dá uma injeção de ânimo boa, vinda direto da Telecaster amarela do mestre do Rock da classe trabalhadora americana. O chefe não podia faltar na playlist do trabalho, né?

3-Harder, Better, Faster, Stronger – Daft Punk
Pra ligar o piloto automático em tarefas repetitivas, nada melhor que os Robôs do Daft Punk. Para você trabalhar melhor, mais rápido e com mais força. Pena que a música te lembra que o trabalho nunca acaba.

4- The Salesman (Tramp Life) – White Rabbits

“Posso até agir como um humano, mas tenho vivido como um cachorro”. É, apropriado pra alguns dias nos quais você simplesmente não agüenta mais...

5- Ain’t no rest for the wicked – Cage the elephant

…mas você tem que continuar, não? Então lembre dos seus objetivos e cante esse refrão.

6- Stop for a minute – Keane Feat. K’naan
Por que às vezes trabalhar é bom, tira a cabeça de outros problemas, sabe, já que cabeça vazia é oficina do diabo. É, eu tentei ser convincente, mas você provavelmente não comprou a idéia. Isso é coisa de Workaholic.

7-Answer to yourself – The Soft Pack
Só trabalhar é pros fracos, essa genial música de 2009 ta aí pra te incentivar a buscar aquela promoção que parece tão distante nos dias de preguiça.

sábado, 9 de outubro de 2010

Heavy Metal Thunder


Filme: Homem de Ferro 2 (Iron Man 2, 2010)
Nota:8
Para ler escutando: Salute Your Solution - The Raconteurs

Histórias em quadrinhos não são feitas só de meninas com coelhinhos e meninos de língua presa. Essa frase deixou de ser só um mantra nerd, utilizado para convencer bullies de que suas coleções caríssimas são legais, e virou uma verdade conhecida por multidões. Os tempos de Adam West subindo em prédios vestido em leggings acabaram. Até mesmo a série de filmes do homem de aço dirigida por Richard Donner são cenas de um passado distante agora. E nessa transição, as coloridas páginas das HQs ganharam cores mais sombrias. É possível dizer que tudo começou com nosso mestre do obscuro, Tim Burton, quando este resolveu dar a sua cara para um dos favoritos do público, Batman. Não gosto muito do resultado, mas foi a primeira tentativa de criar um clima diferente em um filme de super-heróis (e os diretores seguintes da franquia não ajudaram nada nessa tentativa). Aí veio o primeiro salvador nerd: Bryan Singer. Singer, fã da Marvel, trouxe temas sérios e bom elenco para seu X-Men e começou uma onda fantástica (mais uma vez, o diretor seguinte da franquia destruiu tudo). Sam Raimi popularizou ainda mais a fórmula com Spider-man (esse nem precisou de sucessor pra errar a mão), e Singer tentou sem sucesso revitalizar o Superman. Eis que chega o novo defensor geek: Christopher Nolan. Christopher Nolan fez as duas primeiras adaptações de HQ que nem precisavam do herói e das fantasias pra funcionar. São dois grandes épicos de ação, dois filmes policiais psicologicamente complexos. E agora o ambicioso Nolan está escrevendo o retorno do homem de aço. Dirigindo? Zack Snyder, da sombria e plástica adaptação de Watchmen.

Sim, Nolan é um gênio, e foi capaz de dar a Gotham exatamente o tratamento que ela precisava. Ele fez o filme de super-herói ser levado a sério. Mas o que eu adoro na série Homem de Ferro, que chega ao seu segundo capítulo nas mãos de Jon Favreau, é que ela não se leva tanto a sério. Favreau se diverte com Iron Man, tanto no seu papel de diretor, quanto na frente das câmeras como o motorista Happy. O diretor quer providenciar um alívio cômico à geração que aplaudiu de pé a luta entre o Homem Morcego e o Coringa. Enquanto Nolan é profundamente adulto, Jon Favreau traz um gênero fundamentalmente adolescente de volta para seu público.

A grande atração de Homem de Ferro 2, para os entendidos, é a introdução de Nick Fury, e o filme inteiro funciona como a primeira Prequel de Os Vingadores. Quem conhece a história fica babando com as piadas internas e referências (escudo do Capt. América, o Novo México de Thor), mas os não-entusiastas do tema ficam à deriva, assim como estão agora lendo esse texto. Sou nerd e estou escrevendo como nerd. A minha expectativa para o filme de Joss Whedon, que unirá parte dos heróis do universo Marvel, não podia estar maior agora. E com o anúncio do desenvolvimento de Superman e Lanterna Verde e a possibilidade de produção de Flash e Mulher Maravilha, podemos esperar uma batalha de super-times no futuro, Os Vingadores X Liga da Justiça? Marvel x DC? O estilo Favreau X o estilo Nolan? *respira*

O elenco de Homem de Ferro 2 está afiado, com uma performance sólida da instável Gwyneth Paltrow, e Sam Rockwell, o homem que devia ter sido indicado ao Oscar por sua atuação genial em Lunar. Scarlett, Cheadle e Rourke não atrapalham nem impressionam.Mas parte da qualidade da franquia Iron Man depende de uma variável chamada Robert Downey Jr. RDJ, a mais nova fênix do cinema americano, fez de Tony Stark exatamente o que ele precisava ser. Tony Stark não é um torturado e sinistro vigilante. Deixe isso pra Bruce Wayne e Rorschach. Tony Stark é um Rockstar. Voando ao som de AC/DC. E a explicação do sucesso de Tony entre os geeks? Ele fez o geek, o gênio dos computadores, o engenheiro, o físico ser um rockstar. Coisa que antes de Iron Man, só o Neo de Matrix tinha feito.

Bruce Wayne e Tony Stark possuem elementos em comum, na verdade. Ambos são homens sem super-poderes, que se tornam super-heróis pois querem deixar um legado maior do que suas empresas e sua riqueza. Mas enquanto o Batman é um personagem traumatizado e complexo, e sua história deve adquirir um ritmo de grande ópera pra funcionar, o Homem de Ferro é um Frontman, e é com o som das guitarras, um grande palco e uma multidão de adolescentes gritando que ele deve ser recebido.

domingo, 3 de outubro de 2010

Playlist TTF #18 - Falling in and out of love

Depois de duas semanas sem posts, o Through the frames tem orgulho de apresentar uma playlist histórica. A playlist TTF #18 é conceitual e quer ser a “(500) Dias com Ela” das playlists. 14+1 faixas, dois temas antagônicos e inseparáveis, dois lados de uma mesma moeda.
Qualquer que seja a sua idade, você provavelmente conhece a sequência descrita por essa lista. Da romântica viagem à lua de Frank Sinatra, até o dramático “Você não vê o que fez com meu coração? É uma terra destruída agora” do Interpol, essa lista retrata o sentimento mais batido de todos, do início ao fim, sem exagerar no açúcar e sem cair no lado The Police da fossa (Sting, suas letras só conquistam uma ordem de restrição).

Primeira parte – What a world, what a life, you’re in love.

1- Whistle for the choir – The Fratellis
Uma cantada cantada (perdoem o trocadilho), essa música é a trilha perfeita pro dia posterior ao dia em que você conheceu alguém interessante. Você ainda não sabe se vai pra frente, mas não consegue parar de pensar naquela pessoa.

2-Funny little frog –Belle and Sebastian
Vocês ainda estão na fase platônica. Nada melhor que a declaração de amor imaginário super romântica de Stuart Murdoch. Sim, ele está falando com uma capa de revista, eu acho. Mas não deixa de ser romântico.

3-Something Stupid – Frank and Nancy Sinatra
Agora alguns encontros já aconteceram, aquele nervosismo inicial ainda está presente e você ainda não tem certeza dos seus sentimentos. Mas de uma coisa você tem certeza: As borboletas no estômago e aquele sorriso bobo estão lá e está bom demais.

4- Just Like Heaven – The Cure
Agora seu pé já não toca o chão mesmo. E essa pérola do The Cure é a trilha perfeita pra esses dias de cabeça nas nuvens.


5-All my loving – The Beatles
Sentir saudades também faz parte. Eu podia ter colocado Something aqui, mas não resisti e coloquei uma das minhas músicas favoritas de todos os tempos.

6-Made up love song #43 - Guillemots
Nada mais lindo do que dizer que “o amor faz até uma lata de coca-cola vazia soar poética”. Obrigada, Fyfe Dangerfield, por inventar essa tal quadragésima terceira canção de amor.

7-Último Romance – Los Hermanos
A música mais romântica do rock nacional retrata um relacionamento com simplicidade e beleza. Pra casais de longa data, um sentimento mais sólido.


Segunda parte – Love will tear us apart

8-Sentimental – Los Hermanos
Mas, Amarante, você não acabou de cantar a música mais romântica do rock nacional? É, nem assim se pode evitar. Bem-vindos à segunda parte da playlist. As crises começam aqui. Ah, o abismo que é pensar em sentir…

9-When your mind is made up– The Swell Season
Se o filme é de quebrar o coração, muito se deve à sua doída trilha, que chega ao ápice com essa música brutal. Coloque o cd e chore à vontade.

10-No one’s gonna love you – Band of horses
Um verdadeiro hino pros corações partidos, usa todos os lugares-comuns da classe, como “é como se tivessem arrancado uma parte do meu corpo” e “ninguém vai te amar mais do que eu”. Mas o resultado não é breguice, e sim tradução perfeita dessa fase ruim.

11-Here’s looking at you, kid – The gaslight anthem
Uma fossa só é para os fracos. Em “Here’s Looking at you, kid”, Brian Fallon revisita todos seus relacionamentos fracassados em menos de 5 minutos, 5 ótimos e depressivos minutos.

12- F*** was I – Jenny owen youngs
Pra mim, a melhor descrição de decepção amorosa já escrita. Violenta. Sem rodeios. Simples assim.

13-How we walk –Mando diao
Essa gaita me destrói. Sim, a letra também, e o resto da melodia, mas a gaita só piora tudo. Um lamento sobre a influência que algumas pessoas exercem na gente, e a subseqüente falta que elas fazem quando resolvem sair das nossas vidas.

14-Everybody’s gotta learn sometimes – Beck
“Everybody’s gotta learn sometimes”, um cover de uma banda chamada The Korgis cantado pelo gênio Beck já teria lugar garantido aqui só por sua letra e melancolia, mas ainda marca mais pontos por ser parte da trilha de “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”. Profundamente apropriado.

Faixa Bônus

15-Fuck you – Cee lo green
Só porque algumas pessoas usam a fossa de maneira mais agressiva, e, nesse caso, engraçada. Espera que um dia você vai querer cantar esse refrão pra alguém.