sábado, 23 de janeiro de 2010

Delphic - Acolyte


Nota: 8
Parece com: New order, Strobe dos Friendly fires em alguns pontos
Escute primeiro: Halcyon
Pode ser trilha de: Qualquer festa ou reunião de amigos, se você quer um som cool e que não atrapalhe ninguém de conversar.

Em todo início de ano, várias revistas, rádios e emissoras de TV gringas criam listas de ‘Fique de olho nesses artistas esse ano’, e alguns artistas conseguem ser unanimidade nessas listas. Ano passado, em praticamente todas Hype Lists estavam La Roux, Florence and the machine e Little Boots, e valeu a pena seguir as sugestões. Esse ano, as maiores unanimidades são Ellie Goulding (que parece pertencer mais à lista de 2009, pelo estilo do seu som), Two Door Cinema Club (uma banda interessantíssima que até agora não lançou uma música ruim) e Delphic. É sobre a última, mais uma banda da cidade que mais exporta bandas indie no mundo desde a década de 80, Manchester, que escrevo hoje, mais especificamente sobre o álbum Acolyte, que acabou de sair e está disponível no MySpace da banda.
O ponto forte de Acolyte é que não é um álbum de pop eletrônico que você só vai querer ouvir antes, durante ou depois da balada. Não é cansativo, ele corre macio e pode ser até relaxante (sim, você leu direito, eletrônico relaxante e não é parte de uma coletânea do Luciano Huck). A banda já lançou 3 singles, Counterpoint, perfeita como introdução ao som dos caras, mostra que eles conseguiram fazer algo difícil, que é colocar emoção em um disco de eletrônico, This Momentary, fantástica, com uma letra curta que quase parece um mantra, começa discreta e vai se tornando grandiosa aos poucos (Fica a dica: o clipe é muito bom) e por último, Doubt, mais futurista, dançante e com um quê de Klaxons. Depois de ouvir três singles como esses, as expectativas para o LP eram altas, e foi decepcionante escutar a faixa-título Acolyte, um instrumental de 8 minutos que entedia fácil e cria a dúvida: Será que vai ser só mais uma banda juntando dance e rock?
Não, não é. O próximo single, Halcyon, é irresistível, guitarras e batidas eletrônicas criando uma pérola que merecia sucesso nas rádios. Submission diminui a BPM pra criar um ambiente mais dramático e Remain é pop mesmo,linda e cheia de classe.
As novas caras de Manchester não parecem ligar para as comparações inevitáveis e certeiras com New Order. Mas desde quando parecer com uma banda tão incrível virou insulto? Delphic é o novo New Order mesmo. E com essa sonoridade, fizeram um álbum de estréia fascinante e irresistível.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Cortando o fio certo

Filme: Guerra ao terror (The hurt locker, 2008)
Nota: 8
Para ler escutando: Percussion Gun, White Rabbits


A fragilidade pode se esconder atrás das fachadas mais fortes, um prédio ameaçado por uma bomba, um soldado extremamente corajoso ou uma diretora talentosa ao se deparar com um roteiro de tema difícil e polêmico. Pode-se dizer então que “Guerra ao terror”, de Kathryn Bigelow, é um filme sobre fragilidade, ou, praticamente um sinônimo, humanidade.
Esse filme, que já possui uma indicação quase certa pro Oscar 2009, saiu direto em DVD no Brasil e não recebeu nenhuma atenção da mídia ou campanha publicitária decente, pois seu elenco não possui estrelas (apenas participações-relâmpago de Ralph Fiennes, David Morse e Guy Pearce) e a diretora Bigelow é menos conhecida pelos seus trabalhos “K19-The Widowmaker” e “Caçadores de emoção” do que como ex-mulher do diretor mais bem-sucedido do ano, James Cameron. Mas, já na primeira cena de “Guerra ao terror” é possível chegar à conclusão de que a diretora tem um talento enorme que sua filmografia anterior não revelava. Ela cria um ambiente de tensão permanente, no qual em cada varanda, em cada beco, pode existir um inimigo. O filme segue um estilo próprio, saindo completamente dos clichês presentes em filmes que retratam guerras antigas, uma mudança que o torna, na minha opinião, o primeiro filme a representar bem o novo ritmo da guerra moderna. Outro destaque do filme é Jeremy Renner, que merece uma indicação (no mínimo) ao Oscar pela sua interpretação do Sargento Will James. O desconhecido ator constrói um personagem humano, que parece não ter nenhum medo da sua própria morte e gostar de ser um desativador de bombas, mas se mostra absurdamente sensível quando se trata da vida do outro. É um personagem interessante e complexo, tipo raro em filmes de guerra que tendem a cair na caricatura do bom soldado,patriota, corajoso e durão. James está lá para salvar vidas, não pelo seu país.
Porém, nem tudo nesse filme pode ser elogiado. A linha tênue que separa esse filme de se tornar uma propaganda militar americana algumas vezes é ultrapassada, e no meio de bons soldados americanos, sensíveis e despreparados, mas que parecem ver a guerra como uma fonte de adrenalina (o vício na adrenalina parece permear todos os filmes de Bigelow), a micro-aparição de David Morse como um coronel cruel e frio parece estar lá apenas para acalmar os que odeiam os EUA. É um filme que ignora o fator político de um fato intensamente político. Mas a culpa não é de Kathryn, que merece mais a estatueta de melhor direção do que seu ex-marido e sua super-produção Avatar. A diretora, que com um roteiro de temas e abordagem tão complicados, estava pisando em campo minado, mas conseguiu fazer de “Guerra ao terror” um filme que vai do filme de ação, tenso e emocionante, à um drama sobre a condição do soldado e a maneira com a qual cada um lida com a guerra. Para alguns como o personagem Eldridge, vêem a guerra como sinônimo de morte, e nela um erro pode ser fatal, para você ou para seu colega. Já para outros, como o Sgt. James, a guerra é um vício e a vida cotidiana não consegue suprir a necessidade de adrenalina. E para esses, a única solução é conseguir mais uma dose dessa droga que é a guerra.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Tempo de Monstros
Nota: 9,5
Para ler escutando: Hideaway, Karen O and The Kids


Meu professor de literatura do 3ºAno um dia, ao falar sobre o saudosismo que todos nós temos em relação à infância e sobre aquela frase que você provavelmente já usou, “eu era feliz e não sabia”, disse que a época mais infeliz, assustadora e angustiante é a infância, porque as coisas ruins acontecem com você e você não entende nada. E o pior, o mundo adulto cobra da criança que ela compreenda o motivo das mudanças, dos comportamentos dos familiares, dos colegas, uma compreensão que algumas pessoas não conseguem atingir nem na maturidade. No filme “Onde vivem os monstros” de Spike Jonze, um livro infantil que trata de um tema simples como a imaginação se torna uma reflexão sobre os efeitos que os acontecimentos adultos causam na mente de uma criança.
O livro de Maurice Sendak que serviu de base para a inventividade de Jonze conta a história de Max, um menino que faz bagunça em casa, é posto de castigo por sua mãe, e no castigo, se imagina como rei de uma terra distante, cheia de monstros, na qual ele pode fazer o que quiser. Mas o diretor criou um personagem Max, conflituoso e solitário, que vê a sua família se afastando dele (sua irmã entra na adolescência, sua mãe está com problemas no trabalho e namorado novo), e essa alteração traz vida ao livro. Em um dos filmes mais conhecidos de Spike Jonze, os personagens descobrem uma maneira de entrar na mente de outra pessoa (Quero ser John Malkovich) e é numa jornada como esta que todos somos inseridos em “Onde vivem os monstros”. Através da imaginação de Max, os aspectos de sua personalidade são divididos em diferentes monstros, com maior destaque para Carol, retrato de sua impulsividade e revolta perante a solidão e confusão que sente. Os acontecimentos na terra dos monstros são apenas um reflexo dos acontecimentos da casa de Max, no qual a monstro KW representa sua mãe, que se afasta do bando por que encontrou novos amigos (no caso da mãe, o namorado). Os amigos de KW falam em uma língua que Max não consegue entender, deixando ainda mais clara a falta de entendimento entre o mundo adulto e infantil.
A trilha sonora é um caso à parte. É raro encontrar uma trilha que combina tanto com o ritmo e visual de um filme, e essa trilha de Karen O, vocalista do Yeah Yeah Yeah’s e ex-namorada do diretor Jonze é perfeita, lúdica e inventiva. O visual do filme é tão bonito que dá vontade de congelar a imagem e fazer um quadro pra pendurar na sala.
Como na tagline do filme, “There's one in all of us”. Existe uma criança, assustada e imaginativa, em cada um de nós.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

E o meu blog finalmente sai do status de “Resolução de ano novo” pra existência concreta. Decidi no início do ano passado, 2009, que eu ia montar um espaço na internet pra falar, nem que seja com o vento, sobre Filmes, Música e Séries, três coisas sem as quais eu não consigo viver (beleza, eu consigo viver sem séries...mas a vida não teria a mesma graça). Agora que ele existe, mesmo que feio e subnutrido, eu vou parar de usar só o twitter pra falar sobre o que eu estou vendo e escutando no momento (sim, meus seguidores, podem comemorar agora, vocês vão ter que agüentar menos comentários sobre Vampire Weekend e Grey’s Anatomy). Eu tenho a tendência de abandonar todos os blogs que eu faço, mas o Through the Frames vai ser pra valer, agora.
Eu não queria que meu primeiro post fosse uma crítica de filme ou álbum, então, vou fazer o que eu mais gosto: Listas! Quem não gosta de listas? De concordar com elas, de discordar delas, de aproveitar suas sugestões... Acho que listas de melhores da década vão ficar pra próxima semana, mas ficam aqui as minhas listas de melhores músicas e filmes de 2009.

Melhores músicas de 2009


Ano passado foi um ano melhor quando se trata de cultura. 2009 foi um ano morto no cinema, e até decente quando se trata de músicas, mas vai ficar na sombra da genialidade de 2008, isso é fato.
1- 1901 – Phoenix – Em listas de revistas e blogs conceituados, o chique é eleger alguma coisa do Animal Collective (odeio) ou do Grizzly Bear (adoro, mas é supervalorizado), e elogiar a inventividade, o som experimental, essas coisas. Mas nada é melhor do que uma música que te deixa feliz, um pop tão bem feito numa época que a música pop é tão padronizada. Escutar 1901 sem abrir um sorriso é impossível pra mim, então, ela merece #1 na lista.
2-
Islands – The XXI – Eles fizeram um som completamente diferente. E acho que o álbum de estréia dessa banda inglesa deve ser o melhor do ano, apesar de que eu reluto com essa afirmação, afinal, as músicas são parecidas demais entre si. Tive que escolher entre Crystalized, Islands e Heart skipped a beat, mas essa decisão fica fácil quando o refrão dessa pérola começa a soar.
3- Resistance – Muse – Sim, o álbum The Resistance podia ter sido muito melhor. Sim, a banda está ficando pretensiosa demais. É, Undisclosed Desires parece uma música do Timbaland. Mas a faixa-título é um resumo da alma da banda. Épica, pesada mas extremamente melódica, um chamado para a guerra (os cavaleiros de cydonia adoram falar de guerra, né) feito especialmente para os palcos.
4-Paparazzi - Lady Gaga – É, você que torce o nariz para o pop mainstream, essa é pra você! Paparazzi está na lista até da antipática porém essencial revista NME, e é impossível ignorar a primeira pessoa a realmente merecer o título de nova Madonna. É 100% diversão, não é uma música que vai mudar sua vida, mas é certeira no seu propósito.
5- Cliffer - The Answering Machine -
Essa banda desconhecida de Manchester fez um CD de guitarras rápidas e divertido, o tipo de CD que o Arctic Monkeys fazia antes de cair na influência de Josh Homme e “amadurecer”. Fica de olho nessa banda!
6- Zero – Yeah Yeah Yeah’s – Eu não quero colocar mais de uma música de synth-pop na lista, e entre In For The Kill da La Roux e Remedy da Little Boots, fico com Zero dos YYYs por que eles tiveram a coragem de mexer em time que estava ganhando, mas com isso, fizeram uma goleada. Muito classe.
7-Drumming Song – Florence + The Machine – Uma música pode melhorar a cada reprodução, mas essa me ganhou nos primeiros 10 segundos. A batida, o jeito que a música parece que tem sua própria pulsação. Intensa.
8- Kiss of life – Friendly Fires – Gringos no samba, era a direção que a banda inglesa, dona de um dos melhores álbuns de 2008, queria tomar com esse single. E, juntando uma percussão sensacional, uma letra interessante e um clipe extremamente bonito, eles fizeram o dever de casa muito bem.
9- The Fear – Lily Allen – Pra mim, um dos 5 melhores discos do ano. Mas foi extremamente difícil escolher uma música que se destacasse, que fosse melhor que as outras. Quase que escolhi um dos dois covers sensacionais que a crazy Allen gravou esse ano (Straight to Hell ou Womanizer) mas a letra de The Fear é uma obra-prima.
10- We share the same skies – The Cribs – Imagina se um ídolo seu resolvesse se juntar a sua banda? Isso aconteceu com a banda The Cribs, que agora conta com a lenda Johnny Marr do The Smiths na guitarra. E dessa forma, fizeram uma música que podia estar num álbum de uma boa banda dos 80’s, com uma levada meio New Order. Viciante.

Menções Honrosas: Cornerstone (Arctic Monkeys) ,Last Person (Jenny Owen Youngs), Kingdom of Rust (Doves), Percussion Gun (White Rabbits), Little Secrets (Passion Pit), entre outras (não vou colocar nada nacional, porque esse ano foi fraco, viu)