domingo, 22 de agosto de 2010

Playlist TTF #14 – Keep it Cool

Cool. Em português, o intraduzível adjetivo foi aproximado pelo horroroso “Descolado” (tão não-cool comparar ser cool com um adesivo). Um adjetivo díficil de definir, subjetivo, pessoal e em mudança constante. Mas Cool não é um adjetivo pra ser definido. É impossível explicar o que torna uma coisa ou uma pessoa ou uma obra cool. É simplesmente algo que se sente, e vira um consenso quando todo mundo sente também.

No cinema e na fotografia, a estética Black and White, Marcello Mastroianni e Audrey Hepburn, óculos escuros, Gene Kelly dançando na chuva, Bogart e o piano de seu amigo Sam, George Clooney roubando um cassino, Gordon-levitt explodindo um elevador em câmera-lenta. Na TV, a HBO ainda comanda o mundo dos descolados, com séries como Mad Men.

Na moda, no comércio em geral, Cool é o que as agências de publicidade querem que você ache cool. Geralmente a estética minimalista e moderna, que levou a Apple ao topo do status de marca cool, prevalece. A Ray-ban com seu Wayfarer e a Converse com seu All Star também souberam injetar “coolness” extrema nos seus produtos.

E na música? O Jazz é o maior expoente dessa linha, com a aura fortíssima de estilo que o cerca. E é dele que vêm muita das nossas noções de música descolada, como um som de baixo forte, a bateria e um piano marcados, a guitarra mais interrompida e chorada. Aí vão 7 músicas que descrevem melhor esse adjetivo do que qualquer coisa que eu possa escrever aqui, em toda a minha falta de Coolness.
PS: Repetir o adjetivo cool tantas vezes não é nada cool. Mas se cool não tem um sinônimo cool, o que me resta é não ser cool.

1-Ulysses – Franz ferdinand
Muita gente define o ser “cool” como ter aquela cara de tédio. Então, nada melhor do que Alex Kapranos cantando sobre seu tédio pré-balada em cima de um baixo preguiçoso e todas as características sonoras que fizeram a fama desses rapazes escoceses tão estilosos.

2-Mack the Knife – Frank Sinatra and Jimmy Buffet
A música mais Cool de todos os tempos, vinda do cara mais Cool da história da música. Experimenta dançar Mack the Knife sozinho em casa. Pode ir. Não se envergonhe.

3- Sultans of swing –Dire Straits
Mark Knopfler não canta, ele conversa, resmunga, como se estivesse sentado numa mesa de um bar esfumaçado, no qual apenas uma guitarra chorava ao fundo. Oh, so cool.

4-Clint Eastwood – Gorillaz
Damon Albarn já era descolado ao extremo na sua modesta e desconhecida banda dos anos 90, o Blur. Mas foi com o cd de estréia de seu projeto paralelo que ele conseguiu a perfeição nesse quesito. Até o conceito por trás da banda é style.

5-Heartbreak Hotel – Elvis Presley
O jeito mais cool de curtir uma fossa. Simplérrima e minimalista, Heartbreak Hotel é um clássico. Música mais descolada de um cara que fez “A Little less conversation”...lembra? A música da propaganda da Nike?

6-Never There – Cake
Todos aqueles elementos que eu mencionei antes estão aí. O baixo, uma seção de metais meio jazzy, os vocais preguiçosos. É de escutar numa estrada desértica, de óculos escuros num conversível, bem Nina Persson no clipe de My Favourite Game.

7-Pale Blue Eyes (The Velvet Underground Cover) – The Kills
Substituindo a melancolia da original da trupe de Lou Reed, Alisson Mosshart canta essa pérola com sutileza e displicência. Fechando essa lista bem demais.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O labirinto



Filme: "A Origem" (Inception, 2010)
Nota: 10
Para ler escutando: My Body is a Cage - Arcade Fire

Interpretação de sonhos. Desde Carl Jung até os livrinhos de banca de revista, todos nós buscamos em algum lugar uma lógica para essa curiosa manifestação do nosso subconsciente. De números de loteria aos nossos desejos mais escondidos, queremos encontrar o que está no fundo de cada cofre que vislumbramos durante nosso sono. O maior obstáculo nessa nossa busca ávida por respostas é que nem sempre o sonho quer revelar seus segredos e propósitos. Muitas vezes acordamos exatamente na hora que ia acontecer “aquilo” que ia explicar tudo. Acordamos no momento de maior suspense e ficamos órfãos de uma resposta. Acordamos no momento mais feliz e repleto de realizações e num piscar de olhos, ou melhor, num abrir de olhos, nada era real. E se o objetivo desse jogo do seu subconsciente não fosse a resposta, e sim o questionamento? O subjetivo? Não estou aqui pra discutir a subjetividade, a dualidade do final de “A Origem”. Estou aqui para discutir a subjetividade, a dualidade do filme inteiro. Não falarei spoilers.

Fazer uma crítica é, de certa forma, interpretar esse sonho filmado de outra pessoa. E “A Origem” oferece duas interpretações (repito,não estou me referindo ao final). Uma interpretação é psicológica e a outra, mais artístico-literária. Admito que só percebi a segunda interpretação após ler um trecho da revista Total Film (não leio críticas antes de escrever aqui, só vi um trecho da crítica deles pois estava curiosa demais).

“A Origem” impressiona inicialmente por ser um filme sobre o funcionamento da mente humana. Como grande parte da sua trama se passa dentro do subconsciente de diversos personagens, o espectador tem a chance de distinguir, personificados na forma das “Projeções”, sentimentos, defesas e fixações da nossa mente. O sentimento de culpa, a auto-sabotagem e o luto do personagem Cobb se tornam os verdadeiros vilões do filme, através de uma casca humana, a personagem de Marion Cotillard, Mal. Logo, para o maestro Christopher Nolan, nós podemos ser os piores vilões da nossa própria história. Nossos traumas são armas apontadas para nós e todas nossas relações. Idéias são os vírus mais destruidores. Trancamos em cofres nossos segredos. Cofres que nem mesmo nós temos a combinação. Prendemos em nossa mente tudo aquilo que não estamos preparados para ver partir. Mas tudo o que prendemos tenta nos destruir até, por fim, achar uma saída. Saída que só nós mesmos podemos permitir.

Porém “A Origem” também é um filme metalinguístico. Nolan apresenta o cinema como a arte de fazer e compartilhar sonhos, e representa todo o processo de produção de um filme de maneira metafórica no decorrer de sua obra. Ao interpretar “A Origem” dessa maneira, podemos perceber que Cobb é a representação do diretor de cinema, que percebe que não consegue mais impedir a interferência de seus fantasmas pessoais no seu processo criativo, e pára de escrever seus próprios filmes. Assim, Ariadne é a representação da sensibilidade, curiosidade e liberdade criativa de uma jovem roteirista, enquanto Eames é o talentoso ator, Arthur o prático e nada criativo produtor e Mr. Saito a influência excessiva do investidor,do estúdio. O cinema é apresentado como vício, obsessão e única forma possível de criar de forma plena para quem o faz, e como jogo de espelhos, golpe bem estruturado para encantar e enganar quem o assiste.

Christopher Nolan é um ilusionista. A frase que serve de espinha dorsal para uma de suas obras (O Grande Truque), “Você está prestando atenção?”, parece ecoar por todos os minutos de sua filmografia, que desafia nossa percepção e inteligência a todo o tempo. Nolan consegue, com “A Origem”, combinar pela primeira vez na história do cinema moderno, o visual (efeitos especiais de primeira), o cerebral (roteiro complexo e genial escrito por ele mesmo) e o emocional. Desta maneira, me atrevo a dizer que o ainda jovem diretor inglês criou o blockbuster perfeito. As cenas em câmera-lenta são algumas das mais bonitas dos últimos tempos. Coisa de Oscar, me escutou, Academia?

O elenco do filme brilha, sem elos fracos, com Leonardo diCaprio finalmente me convencendo à apagar a imagem de “menino do Titanic” que eu mantinha dele e apresentando um protagonista aflitivamente contido, apesar do turbilhão interno que o habita. Ellen Page e principalmente Joseph Gordon-Levitt reafirmam seus status de revelações do cinema atual e Tom Hardy é uma ótima surpresa como Eames. A trilha sonora de Hans Zimmer é impressionante, marcante de forma incomum para uma trilha instrumental.

Se o cinema é a arte dos sonhos compartilhados, nada melhor do que deixar que as linhas entre a realidade e o subconsciente sejam borradas através dos fantásticos delírios de Nolan, um homem que sabe que não se deve ter medo de sonhar um pouco mais alto. Ele sabe também que tantos sonhos dentro de sonhos, tantos filmes dentro do mesmo filme, tanta vontade de implantar idéias, pode resultar em um filme instável. Mas ele sabia que era um arquiteto à altura do desafio. Falhas? Sim, existem. Mas quando você acorda, é até difícil de lembrar-se delas diante de um filme tão grande e ambicioso. Ver 148 min passarem como 20 min. E o melhor: poder voltar pro mesmo sonho. Eu voltei. E saí querendo voltar de novo.

domingo, 15 de agosto de 2010

Playlist TTF #13 – Túnel do tempo

Aniversários me deixam pensativa. Eu simplesmente não gosto deles. Sou nostálgica demais pra realmente gostar de um dia que celebra a passagem do tempo. E pra mim é inevitável, na proximidade de um dia como esse, pensar em toda a minha trajetória de vida.
Martha Medeiros disse a seguinte coisa: "A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa.".
A questão é: A graça de se autoconhecer, de responder questionários, de definir favoritismos, de se caracterizar, é perceber como que, se você faz isso com freqüência, as respostas mudam sempre. Você se autoconhece exatamente pra se reconhecer como um ser que muda de opinião.
Então, porque não olhar pra trás e se perguntar: “Como que eu cheguei aqui?”
Vou fazer isso musicalmente. As músicas que marcaram a minha trajetória so far. Que a nostalgia comece.

1-Os primeiros anos

Música-símbolo: Ping-pong – Trem da alegria
Outros exemplos:Festa do estica e puxa (Xuxa) Pó pra tapar taio (Sandy & Júnior), CDs da Eliana e de historinhas
Um filme: A volta ao mundo dos Chipmunks
Comentários: Oh, eu tive infância. Sentada do lado da vitrola, com o meu amado vinil do Trem da alegria e um tecladinho de brinquedo, bons tempos, velhos tempos. A infância ’90 foi a última infância, pobres crianças de hoje.

2-Agora, música de verdade
Música-símbolo: Shout – Tears for fears
Outros exemplos: A hard day’s night, All my loving (The Beatles), You are the one (A-ha), Big in Japan (Alphaville), Like a Virgin (Madonna)
Um filme: Pequeno Grande Time
Comentários: A pequena Ana descobriu um VHS do Tears for fears na locadora, e ficou completamente doida com a banda. Era só pedir pra mãe passar a música lenta e chata (Woman in chains) e tava feliz. Outra atração do meu dia era ver o clipe de A Hard Day’s Night. Os Fab Four correndo da polícia era a coisa mais genial do mundo pra mim na época (e bem que continua sendo genial).

3-Popmania
Música-símbolo: I Want it that way – Backstreet Boys
Outros exemplos: Stop (Spice Girls), Bye bye bye (N*Sync), Ônibusfobia (Jota Quest), Keep on Movin’ (Five), Oops I did it again (Britney Spears), If Only (Hanson)
Um filme: 10 coisas que eu odeio em você
Comentários: Eu tava indo num caminho tão Cult né? Então. Ninguém escapava à febre pop do final dos anos 90. Não podemos julgar as Bieber maníacas de hoje. Eu tinha uma fita só de clipes do BSB e via todo dia. Gritinhos ao ver o Kevin incluídos.

4-Dores de crescimento:
Música-símbolo: Numb – Linkin Park
Outros exemplos: Bring me to life (Evanescence), Stay together for the kids (Blink 182), The kids aren’t alright (The Offspring)
Um filme: X-Men 1 e 2
Comentários: Ah, a rebeldia pré-adolescente. Ninguém me entende, todos são tão bobos e infantis, eu sou tão rebelde. Aí dá nisso. Eu escutava Linkin Park umas 15 horas por dia.

5- Abrindo os olhos

Música-símbolo: Hard to explain – The Strokes
Outros exemplos: I bet you look good on the dancefloor (Arctic Monkeys), The Best of You, D.O.A. (Foo Fighters), 19/2000 (Gorillaz), Sleepwalker (The Wallflowers), The Blower’s Daughter (Damien Rice)
Um filme: Uma Vida Iluminada
Comentários: Aí tudo começou. Eu comecei a ver um programa da MTV chamado Pulso. Acho que só eu lembro dele, era com a Penélope e com o Léo Madeira, e me apresentou a Strokes, Arctic, Kings of Leon, Radiohead... Eternamente grata. Eu dizia que Hard to Explain era o meu hino oficial e que Foo Fighters era a melhor banda do mundo. Muitas músicas dessa época ainda estão entre minhas favoritas.

6- Admirável Mundo Novo

Música-símbolo: Spiralling - Keane
Outros exemplos: Oxford Comma (Vampire Weekend), Golden Skans (Klaxons), Australia (The Shins), Amsterdam (Coldplay), Munich (Editors), Trains to Brazil (Guillemots), How we walk (Mando diao)
Um filme: Pequena miss sunshine
Comentários: A experiência de ir ao show do Keane mudou muita coisa pra mim. Comecei a usar mais a internet, fui conhecendo cada vez mais bandas, fiz Last.fm, Twitter, blog e descobrindo a emoção de caçar música nova online. Bandas menores, filmes menores, visão mais ampla.

7- E agora?

Música-símbolo: Ready to start – Arcade Fire
Outros exemplos: (?)
Um filme: A Origem
Comentários: Que músicas marcarão a fase que começa agora na minha vida? Não sei. Um universo de opções está sempre se abrindo na minha frente e prometo continuar de antenas ligadas, e colocando tudo de interessante que aparecer no caminho aqui no blog. Deixo aqui um agradecimento a todos que lêem o TTF e confiam na opinião dessa criança confusa que aqui escreve. Você percebe, foram 20 anos de muita pesquisa pra chegar até aqui.

domingo, 8 de agosto de 2010

Playlist TTF #12 – Thriller night

“It’s close to midnight, something evil’s lurkin in the dark”. O que faz uma música ser especialmente assustadora? Algumas vezes, motivos pessoais. Pra mim, essa é a música mais assustadora de todos os tempos. Porquê? Assim que eu troquei de PC, eu não estava familiarizada com as funções da máquina. Eu tava toda feliz escutando música nele, usando um fone de ouvido, quando diminui o volume pra estudar. Nesse momento, uma música começou a tocar baixinho, e eu não sabia que música era. Desliguei o iTunes, fechei a janela do navegador, e a música continuou. E ficou mais alta. Fiquei extremamente perturbada com a idéia até descobrir que o PC tinha receptor de rádio e ele tava meio desregulado. Eu tava captando uma Antena 1 da vida. Mas para que uma música seja universalmente assustadora, as regras são as mesmas que valem para um filme. Ela deve, acima de tudo, criar uma atmosfera estranha, densa. Se o clipe ajudar, ou a letra trazer elementos perturbadores? Aí ela vem parar aqui, na lista dessa semana do TTF.

1-Interpol-Evil

Além do boneco estranho do clipe, que algumas pessoas parecem achar assustador (vide comentários no YouTube), a própria temática da música intriga (já vi umas 500 interpretações dessa letra) e seu título já tem tudo a ver com a Playlist. Por essas e outras que escolhi essa genial canção de Paul Banks e Cia. como “Para ler escutando” do meu texto sobre Silêncio dos Inocentes e Psicose.

2-The Beatles- Maxwell’s Silver Hammer

Você escuta essa música pela primeira vez: “Que música feliz! Nossa, muito fofa!”. Você escuta uma segunda vez. Dessa vez, você começa a reparar na letra, enquanto canta animado aqueles “Bang! Bang! Maxwell’s Silver Hammer” e…calma, peraí…esse cara tá matando todo mundo. Os rapazes de Liverpool conquistam seu lugar nessa lista ao compor a música mais feliz do Mundo sobre um serial killer.

3-The Killers feat. Lou Reed – Tranquilize


Existe uma escola em Hollywood que pensa da seguinte maneira: Todo roteiro de terror pode ser mais assustador se incluir crianças.
Não sei se funciona, odeio filme de terror, mas pra esse dueto genial, funciona. Além disso, Brandon Flowers e Lou Reed (principalmente o Reed com sua voz cavernosa) cantando suas paranóias é bem apropriado para essa lista.

4-Keane- Atlantic

Eu vi essa música ao vivo. A iluminação torna tudo o que está ao seu redor vermelho, e no telão, um olho gigante pisca. Estado de transe é o melhor jeito de explicar minha reação. Isso, somado com o clipe SINISTRO inspirado em “O Sétimo Selo” de Ingmar Bergman e uma letra que fala sobre morte e solidão, me dá arrepios.

5-Night Terror – Laura Marling

Eu tenho medo da Laura Marling. Os títulos das músicas dessa menina de 20 anos revelam uma fixação absurda com o obscuro (Fantasmas, Meu Maníaco e Eu, O Diabo Falou, Terror Noturno) não combinam normalmente com seu folk tranqüilo e letras sobre amor, mas aí vem um clipe igual o de Night Terror e...putz.

6-Radiohead-There There

A voz trêmula de Thom Yorke, apesar de ser associada comumente com a tristeza e a melancolia, também pode criar um clima sombrio, como nessa faixa do cd Hail to the thief. Junto com seu clipe estranho e a frase “ Só porque você sente, não quer dizer que está ali” , a música gera uma atmosfera sobrenatural.

7-Pato Fu – Live and let die (Wings Cover)

Olha só, pra mim não dá pra ficar mais assustador que isso. Adoro Pato Fu, mas criancinhas berrando “Viva e deixe morreeer” no meio de acordes de um piano de brinquedo é puro terror psicológico. Morro de aflição, mas pode ser só eu.

sábado, 7 de agosto de 2010

Maratona aquática




Para ler escutando: Summer '78- Yann Tiersen

Assistir filmes é como nadar. Se você não dedica seu tempo, aprende, se empenha, você fica preso em águas rasas, histórias rasas. Mas não há como aprender a nadar sem, well, nadar. Você tem que se desafiar aos poucos em águas cada vez mais profundas. E nessas histórias mais profundas, você é forçado a mergulhar de verdade. Emoções fortes podem tirar seu fôlego, ou as ondas podem te deixar um pouco perdido ou à deriva em histórias difíceis de entender. Mas só assim você vai ver as belezas que estão longe da superfície. E acima de tudo: Você não pode ter medo de nadar.

Mais ou menos perto do meu aniversário de 17 anos eu comprei a revista “100 filmes essenciais”, uma edição especial da revista “Bravo!”. E ao folhear pela primeira vez, pensei: “Putz, tem muito filme esquisito aqui. Não vou ver nem a metade desse jeito”. Os nomes eram intimidadores. Godard, Truffaut, Fellini, Resnais, Kubrick. Achava impossível assistir tais coisas. Aí eu fui atacando a lista, primeiro pelos mais fáceis.Os mais recentes, os americanos antigos (um melhor que o outro). Quando eu vi, os fáceis estavam acabando. E agora? Abandonar o projeto?

Não fiz isso e realmente não me arrependo. Agora, estou me aproximando da marca de 60% da lista completa, e só tenho boas surpresas. Os clássicos às vezes parecem inacessíveis e assustadores. Mas não são. Eles se tornam clássicos pela sua qualidade e beleza, e se são tão famosos, é porque muitos os amam. Logo, não devem ser tão inacessíveis assim, né?

Comecei minha trajetória pelos caminhos dos cults por Jules & Jim, de Truffaut. Uma escolha estranha e ousada da minha parte, influenciada por um clipe do “Sixpence none the Richer” para Kiss Me, que homenageava o diretor francês. Começar por Nouvelle Vague não é a melhor idéia do mundo, pois desafia a estrutura a qual estamos acostumados, mas Jules & Jim me encantou com seu triângulo amoroso fascinante.

Depois vieram dois italianos, “Roma Cidade Aberta” de Rossellini com sua estrutura quase documental e atuações fortes (um ótimo filme pra começar a ver cinema europeu) e “O Conformista” de Bertolucci, misterioso e insanamente bem dirigido. Pronto, eu já tinha sido conquistada. Eu já não tinha mais medo desses nomes do cinema, e sim respeito e fascinação.

Agora, depois de já ter visto um filme de Godard (“Acossado”, visualmente cool até o osso) como a Mônica da música da Legião, levado um soco no estômago de “Hiroshima Meu Amor” de Resnais e “ O Homem-Elefante” de David Lynch, visto a densidade de uma troca de olhares em Hong-Kong em “Amor à flor da pele” de Wong Kar-wai, entre outros grandes filmes, me apaixonei pelo o que vi da obra de Federico Fellini. Aluguei 8 ½ achando que ia odiar e fiquei boquiaberta com a precisão visual, o jeito frenético dos diálogos e a sinceridade nas mentiras de um diretor que adora fingir que é tudo auto-biográfico. Aí assisti “Noites de Cabíria” e percebi que é extremamente acessível, olha só.

O bom de usar uma lista pra te guiar é que você conhece um pouco de tudo, de cada gênero, de cada autor. E assim você descobre do que gosta e do que não gosta. E quando acabar essa exploração geral pode retomar aqueles diretores que te fascinaram durante o caminho. Ver suas obras completas.

Não vou dizer que alguns nomes na lista não me intimidam mais. Ainda não tenho a mínima vontade de alugar nada do sueco Ingmar Bergman, fujo de Dogville por preguiça e aluguei meu primeiro filme japonês apenas essa semana. Mas fiquei viciada em me desafiar. A emoção de nadar cada vez mais pro fundo do oceano é fantástica. Faz bem subir à superfície várias vezes e aproveitar as belezas de lá (que são muitas, adoro filme grande, blockbuster mesmo). Eu? Vou nadar minha vida inteira, até que meu fôlego acabe. Mesmo assim, não vou conhecer nem 1/10 do oceano que é a arte. E eu te desafio a vir nadar também. A água tá boa!

domingo, 1 de agosto de 2010

Playlist TTF #11 – Meus personagens favoritos da história das séries de TV (e uma boa música-tema para cada um)

Não existe mais uma fronteira de qualidade e profundidade separando séries e filmes. As obras que vemos na TV hoje em dia estão muito distantes de clássicos superficiais e engraçadinhos como “A Feiticeira” e “Jeannie é um gênio”. Do aprimoramento na arte das sitcoms observado no final dos anos 90 até a ascensão das séries dramáticas com elencos de nível altíssimo dos anos 00, a produção televisiva não fica devendo nada para as telonas. E o melhor: Como um filme tem apenas aproximadamente 2 horas de duração, o tempo de desenvolvimento de um personagem é muito maior no mundo das séries. Logo, a complexidade de cada personagem é muitas vezes melhor retratada na telinha.
Nesse fim de semana, chego ao fim da série mais aclamada (e provavelmente a melhor) da história da TV, “The Sopranos”. E no auge da minha fascinação pelos seus complexos personagens, não consegui pensar em outra lista para escrever aqui. Destaco que eu não acompanho todas as séries do Mundo, logo, posso estar ignorando algum grande personagem e fazendo inúmeras injustiças. Inclusive, não incluí personagens de séries que acompanho à pouco tempo (senão, Don Draper de Mad Men e prof. White de Breaking Bad poderiam entrar na lista). Mas das séries que acompanho, e não são poucas, esse time de sete fascinantes criaturas representa o melhor que tá tendo.
P.S.: As letras das músicas em questão são importantes.

1-Phoebe Buffay– Friends
Devia ser sua música-tema:I Feel It All – Feist
Letra
A excêntrica massagista era a personagem mais complexa e intrigante da melhor sitcom de todos os tempos. E nem o seu passado complicado atrapalhava seu timing cômico impecável.

2-Christopher Moltisanti – The Sopranos
Devia ser sua música-tema: The High Road – Broken Bells
Letra

Numa série que tem os personagens mais bem construídos da história, Chris é o melhor pois nunca se contenta com o que o destino preparou para ele. E por ele torcemos até o final da série. Extremamente humano.

3-Effy Stonem- Skins
Devia ser sua música-tema: Tin man – Animal Kingdom
Letra

As séries adolescentes costumam ser repletas de personagens bidimensionais, preocupados apenas com dinheiro e popularidade. Skins é a série adolescente mais impactante e bem feita de todas, e seu primeiro episódio brilhante é centrado exatamente na misteriosa garota inglesa, que traz o caos por onde passa.

4-Dra. Cristina Yang – Grey’s Anatomy
Devia ser sua música-tema: Details in the Fabric – Jason Mraz feat. James Morrison
Letra

A maioria das pessoas odeia a Yang quando está assistindo as primeiras temporadas de Grey’s Anatomy. A aparente insensibilidade da médica é desconstruída aos poucos, revelando uma das personagens mais humanas de minha série favorita.

5-Lorelai Gilmore – Gilmore Girls
Devia ser sua música-tema: Upside down – Jack Johnson
Letra

Se você acompanha todas as séries que eu coloquei nessa lista, a única escolha que fiz que deve ter te surpreendido foi essa. No meio de tantos personagens densos e psicologicamente conturbados, Lorelai está aqui exatamente por ser um retrato de uma pessoa normal, que construiu uma vida pra si e para sua filha, com bom humor e sensibilidade.

6-Dr. Gregory House – House M.D.
Devia ser sua música-tema: Comfortably Numb – Pink Floyd
Letra

House é uma unanimidade. Irônico, viciado e machucado, não só na perna, mas no coração, o nosso médico favorito é indiscutivelmente genial. Mesmo numa série cuja premissa foi ficando batida (todos episódios seguem o mesmo arco), Greg House é um espetáculo a parte no nosso Prime Time.

7-Benjamin Linus – Lost
Devia ser sua música-tema: Cara estranho – Los Hermanos
Letra

O final de Lost foi decepcionante, e pra mim muita coisa na série não merecia nem 50% dos elogios, mas o fenômeno pop dos anos 00 com certeza tinha coadjuvantes sensacionais. Mas nenhum ficará mais na memória de todos como o misterioso Ben, que foi de psicopata temido à frágil marionete buscando aceitação durante a nossa estadia na ilha mais famosa do mundo.