domingo, 30 de maio de 2010

Playlist TTF #3 – Músicas pra curtir no inverno

Inverno, tempo de céu azul , cobertor e chocolate quente. Tempo de roupas bem mais interessantes (apesar de que tá ficando cada vez mais raro ver alguém, principalmente do sexo feminino, de roupa de frio). Tempo de sentir fome o tempo inteiro (e a primavera é o tempo de ver os danos dessa prática de inverno e tentar controlar a situação pro verão). Tempo de gente espirrando no ônibus (não reclame da pessoa que está sentada tossindo atrás de você, essa pessoa muito provavelmente é você amanhã). E principalmente, tempo de diminuir o ritmo e curtir boa música e bons filmes.
É inevitável, com esse tema, que a terceira playlist que aqui coloco seja quase tão lenta quanto a lista anterior. Aí vai:

1- Belle and Sebastian – The Fox in the snow
Parte de um dos melhores CDs da década de 90, The Fox in The Snow é uma música sobre solidão e auto-destruição e não sobre uma raposa na neve, mas toca na minha cabeça toda vez que vejo, nas ruas, as pessoas que realmente sentem os efeitos devastadores do frio, da fome e dos olhos fechados da sociedade. Eu sei que eu interpretei errado a letra, mas tá valendo.

2-Bon Iver – Re:Stacks
“Bon Iver” quer dizer Bom Inverno em Francês(na verdade, o correto em francês é Bon Hiver, mas o erro foi intencional). Isso já diz muita coisa sobre o folk gélido de Justin Vernon, que funciona melhor numa floresta canadense coberta de neve, mas continua belíssimo nos nossos “congelantes” 16ºC.

3-Foals – Spanish Sahara
Uma música com nome de Deserto mas clipe absolutamente polar (por sinal, assista o vídeo), Spanish Sahara começa nos -89ºC (temperatura mais baixa já registrada na Terra, TTF também é cultura) e vai aumentando a temperatura aos poucos, criando uma atmosfera completamente própria.

4-Kings of Leon – Cold Desert
O angustiado desabafo de Followill chega aos ouvidos como um vento cortante de inverno, congelando até seus ossos. Boa para aqueles dias que o frio não está apenas no termômetro,mas também na sua cabeça e no seu coração (oi, breguice).

5- Mumford and Sons – Winter Winds
Essa é para quem está apaixonado no inverno. Ou para aqueles que vão viajar pro interior, curtir um pouco da vida bucólica, com direito a Banjo e Sanfona. Mas não se preocupe: Mumford and Sons tem um pé no Folk Country e um no viajado som do Beirut, e nada de Victor e Léo ou Fernando e Sorocaba.

6-The National – Bloodbuzz Ohio
Inverno do hemisfério norte. A fumaça que sai a cada expiração, os sobretudos,os cachecóis. Alguma coisa na seriedade da voz de Matt Berninger te transporta pra essa realidade. Ótima música para caminhadas. Ótimo álbum para absolutamente qualquer ocasião.

7- The Beatles – I'll Follow the Sun
Depois de tanto frio, tudo o que você quer é se aquecer um pouquinho. Essa canção impecável é para aquelas horas nas quais todo mundo se junta no único metro quadrado com sol do pátio da Faculdade ou no único banquinho com sol da Praça, e sente a camada de gelo sobre sua pele derreter lentamente. Perfeito.

Vulpes Vulpes Sapiens



Filme: O Fantástico Sr. Raposo (The Fantastic Mr. Fox, 2009)
Nota: 10
Para ler escutando: The Beach Boys – I Get Around



Em algum dia dessa semana, em uma descompromissada conversa sobre música, disse aqui em casa que existem 2 tipos de pessoas no mundo: As que acham Wake Up do The Arcade Fire um festival de vocais desafinados e esquisitices, e os que a acham uma música épica e emocionante. Não estou, de maneira alguma, dizendo que os que apreciam tal música são melhores que os que não sentem nada ao ouvi-la. Só estou dizendo que existem pessoas que gostam do estranho, do exótico, do diferente. E nada é mais estranho, exótico e diferente do que a filmografia de Wes Anderson. E, na opinião de nós, que somos diferentes, não há nada mais empolgante também.
Sou fã do trabalho de Anderson. Desde a primeira vez que vi “Os Excêntricos Tenenbaums”, fiquei fascinada por aquele universo de táxis ciganos (ou outro elemento usado pelo diretor para “costurar” as cenas de suas obras) ,capítulos divididos, roupas estranhas, trilhas sonoras “vintage” e um senso de humor curioso que você não encontra em nenhum outro lugar. E quando vi que o próximo filme do cineasta seria uma adaptação em stop-motion (ganhou 1 ponto) com roteiro adaptado de um livro de Roald Dahl (cresci lendo os livros desse gênio, ganhou mais 1 ponto) e contando com vozes de George Clooney, Meryl Streep, e os já “tradicionais-em-filmes-do-Sr.Anderson” Bill Murray, Jason Schwartzman e Owen Wilson (ah, parei de contar antes que o contador explodisse de tanta expectativa), admito que já imaginei que o filme seria nada menos que incrível. Mas o Fantástico Sr. Anderson conseguiu exceder as minhas absurdas expectativas.
Uma pena que só assisti “O Fantástico Sr. Raposo” muito tempo depois de postar neste blog minha lista de melhores de 2009. Junto com “Lunar” de Duncan Jones, esta animação entraria fácil no meu humilde ranking. Começando os elogios pelo visual. Além dos personagens serem graficamente maravilhosos, os enquadramentos, nas singelas cenas nas quais a câmera pára como em uma página de livro e nas dinâmicas cenas dos roubos e fugas de Raposo e Cia., nunca são óbvios. Cada trecho me deixou como aquele menino que ganhou o Nintendo 64 de Natal (veja o vídeo aqui). A trilha sonora inclui Beach Boys e uma participação especial de Jarvis Cocker. Precisa comentar mais?
Wes Anderson, junto com seu fiel escudeiro Noah Baumbach (que dirigiu “A Lula e a Baleia”), faz mais um roteiro impecável (palavra que define minha impressão do filme). Adaptando um livro infantil que foi publicado em 1970, a dupla dinâmica fez uma história contemporânea para adultos, nos moldes de “Os Incríveis”, porém com trajetórias e ambições diferentes das presentes no genial longa-metragem da Pixar. Não é uma animação dirigida por Anderson. É um filme de Anderson que, por acaso, também é uma animação.
George Clooney faz do personagem título uma versão daquele cara que ele sempre interpreta em filmes dos Irmãos Coen. Cheio de manias e frases de efeito, porém com o charme de Danny Ocean. E Jason Schwartzman faz de Ash o mesmo cara que ele sempre interpreta (em qualquer filme), completamente excêntrico e absurdamente hilário. Meryl Streep infalível como sempre como a adorável esposa de Mr. Fox,Willem Dafoe (o Rato) e Michael Gambon (não deixe que a voz do Dumbledore te engane, aqui, Gambon é mau) sensacionais como os vilões e os desconhecidos Wally Wolodarsky e Eric Anderson (irmão do diretor, nepotismo super válido) emprestam suas vozes pros personagens “rouba-cena” Kylie e Kristofferson.
“O Fantástico Sr. Raposo” é uma história sobre o desejo de se auto-afirmar que rege várias de nossas atitudes. A busca de Ash pela aprovação de seu pai, suas tentativas de igualar seus feitos para ganhar seu respeito, que apesar da camada de insegurança, não difere em nada da necessidade que seu pai e seu primo possuem de mostrar suas grandezas a cada minuto. Também é um filme sobre frustração, sobre aquelas partes da nossa personalidade as quais abandonamos, mas sem elas nunca mais nos sentimos completos, e sobre o desejo de recuperá-las. Mr.Fox se conhece bem, como “animal selvagem” que é, e sabe que nunca será feliz se negar sua identidade, como Felicity deseja que ele faça. Sobre a necessidade de se manter verdadeiro à quem você é. Cada um deve permanecer fiel ao seu talento,às suas qualidades tão únicas, como a representada por cada animal da trupe de refugiados. Sobre ambição, sobre não se contentar com uma morada na caverna, com tanta terra, escuridão e frustração sobre sua cabeça. Sobre manter a dignidade, mesmo quando tudo lhe é levado, até mesmo sua cauda.
Os personagens aqui podem ser animais selvagens, mas a história é sobre o ser humano, sobre as emoções e buscas que motivam cada pessoa, e sobre como fazer essa individualidade triunfar sem que a coletividade se perca no caminho. Porque ser você é tudo o que você pode fazer, afinal (valeu pela frase, Audioslave).

domingo, 23 de maio de 2010

Playlist TTF #2 – Canções de ninar

Primeiramente, quero agradecer todos os comentários, sugestões e visitas dessa semana! Vou escutar cada banda e, mais pra frente, fazer uma nova playlist de bandas nacionais novas.
Segundamente (XD), o Through the frames vai sofrer não uma paralização completa, mas uma desaceleração nas próximas duas semanas. A playlist vai continuar, mas as críticas vão se ausentar nesses 2 fins de semana. A faculdade está apertando e eu tenho que estudar muito.Agora sim, o post:

Sabe aquele dia que você está exausto, passa o dia inteiro reclamando de sono, e quando chega a hora de dormir mesmo, não há quantidade de ovelhas suficiente numa planície escocesa que te faça fechar os olhos?
Aqui estão 7 músicas perfeitas para embalar seu sono. Dizer que essas músicas são perfeitas para embalar o sono de alguém não consiste em um insulto às mesmas. Não estou dizendo que essas músicas dão sono como aquela aula de história do Brasil que você nem via passar, só via depois a marca da espiral do caderno na sua bochecha, e sim em um bom sentido. Elas relaxam, acalmam e dão aquele pesinho bom nas pálpebras. Espero que vocês gostem!

1- Jack Johnson feat. Matt Costa – Lullaby
Música tirada do trabalho infantil de Jack Johnson, a trilha sonora de Curious George, essa aí é a única da lista que realmente é uma música de ninar. Mas escute sem preconceitos e verá que essa ótima faixa não funciona apenas para crianças.
2- The Shins – New Slang
De acordo com a Natalie Portman, essa música vai mudar sua vida (não entendeu a referência? Assista “Hora de Voltar” agora. Deixa dormir pra lá.). Mas aqui eu te digo que, mesmo que ela não mude sua vida, ela vai te relaxar.
3-Snow Patrol – You Could Be Happy
Com um “quê” de caixinha de música, You Could Be Happy é um enorme clichê de músicas para dormir. Mas é um clichê por um bom motivo, ótima faixa, integrante de um ótimo álbum.
4-Joshua Radin – One of those days
Segunda playlist do TTF, primeira música da trilha de Grey’s Anatomy presente. Acredite, isso vai se repetir algumas vezes. Essa é pra embalar seu sono naquele dia no qual tudo deu errado, e tudo o que você quer é dormir e ver como o próximo vai compensar isso tudo.
5-Jenny Owen Youngs – Here is a heart
Infelizmente só achei 2 versões dessa música no YouTube, uma delas envolvendo uma montagem com coraçõezinhos e casais abraçando. Me recuso a colocar montagem do tipo, então vai a ao vivo mesmo. Uma ótima múscia de um cd fantástico lançado ano passado.
6-Editors – Push your head towards the air
A música mais forte e menos “sonolenta” da lista, com certeza, ela deve ser apreciada em volume baixo para causar esse efeito. Mas a letra é perfeita para isso, como se fosse uma canção cantada por seus pais naquelas noites de insônia de sua infância.
7- R.E.M.- Nightswimming
“Nightswimming, deserves a quiet night...” Não estou sugerindo que você desista de dormir e caia na piscina, mas apenas aproveite a sensação de calma que essa pérola proporciona. Dormir ao som desse piano é garantia de ausência de pesadelos.

domingo, 16 de maio de 2010

Playlist TTF #1 – Bandas brasileiras que você pode não conhecer (mas devia)

Inauguro hoje no Through The Frames uma nova seção. Todos os domingos (espero que sim), o blog vai receber uma playlist temática composta por 7 músicas. As listas não estão em ordem de preferência, a não ser quando indicado. O tema da semana foi escolhido porque, em tempos sombrios, nos quais o rock brasileiro está uma puta falta de sacanagem, em tempos nos quais a saudade dos Los Hermanos fica enorme, dá aquela impressão de que tudo está perdido. E isso não é verdade. Aí vão 7 bandas ,boas e nem tão conhecidas, prontas para salvar o dia do Meteoro da Paixão e derivados.

-Ah, e aqui o leitor também participa *voz de locutora de propaganda*! Conhece alguma banda que eu não conheço (mas devia) ? Deixe nos comentários! Seu comentário pode originar uma nova playlist TTF!


1- Sabonetes - http://tramavirtual.uol.com.br/artistas/sabonetes
Escute primeiro: Hotel
Por que está na lista: Pop rock de qualidade altíssima. Coisa que tá em falta demais.

2- Nevilton - http://tramavirtual.uol.com.br/artistas/._nevilton_.
Escute primeiro: Me espere menino lobo
Por que está na lista: Me fez cantar junto na frente da tela do PC e fazer air guitar. Quero ir num show deles.

3- Volantes - http://tramavirtual.uol.com.br/artistas/volantes
Escute primeiro: Vitória
Por que está na lista: Eu escutei Vitória umas 500 vezes só esse fim de semana.

4- Ecos Falsos - http://tramavirtual.uol.com.br/artistas/ecos_falsos
Escute primeiro: Spam do Amor
Por que está na lista: “Quase” é um cd fantástico. Dessas bandas, foi a que eu descobri primeiro e viciei primeiro.

5- Pullovers - http://tramavirtual.uol.com.br/artistas/pullovers
Escute primeiro: Tudo o que eu sempre sonhei
Por que está na lista: A música acima é a melhor dessa lista. Pode parecer meio estranha nas primeiras vezes que você ouve, mas só fica melhor com o tempo.

6- Homemade Blockbuster-http://tramavirtual.uol.com.br/artistas/homemade_blockbuster
Escute primeiro: Sweet Boys Sweet Girls, né?
Por que está na lista: Só tem 2 músicas. Mas gosto bastante dessa. Tem potencial ali.

7- Single Parents - http://tramavirtual.uol.com.br/artistas/single_parents
Escute primeiro: Homesick
Por que está na lista: Eles já fizeram até turnê internacional e você não conhece? Escuta aí.

A Ascensão de um Leão


Filme: Robin Hood (Robin Hood, 2010)
Nota:9/10
Para ler escutando: The Corrs - Rebel Heart

Fui ao cinema ontem com os planos de assistir Homem de Ferro 2. Acabei sendo seduzida pela proposta de ver outro tipo de anti-herói, no filme que, nessa quinta-feira, deu o pontapé inicial ao Festival de Cannes de 2010, Robin Hood.
O que faz de um herói, um herói? Uma história grandiosa. Não em tamanho, mas em propósito. Em ideais. Um personagem que deve transcender as páginas do roteiro, e trazer inspiração, paixão (não apenas por seu par romântico, mas paixão colocada em cada ação, cada discurso, cada chamado para as armas). Robin Hood pode ser uma lenda, mas os valores que esse personagem traz não são irreais. Ou pelo menos não deviam ser. Lealdade, coragem, a disposição para lutar pelo que é certo, o idealismo, não deviam se limitar às antigas histórias de guerreiros,ou nas atuais histórias de super-heróis, e habitar nas nossas atitudes diárias, mesmo que não sejam atitudes grandiosas.
Heróis, sejam eles modernos ou antigos, reais ou falsos, geralmente são figuras que chamam a responsabilidade para si e transmitem esperança para um povo que não tem mais nenhuma opção. O seu passado não importa, muito menos o motivo pelo qual inicia seu caminho, seja para salvar a si mesmo, como Tony Stark, ou para entender melhor suas origens, como o Robin Longstride de Russell Crowe.
Com absoluta certeza, histórias como a de Robin Hood estão gravadas no subconsciente de cada um de nós, e possuem um enorme potencial cinematográfico. Mas pela primeira vez um diretor consegue transferir a história do ladrão de Nottingham para as telonas com a força e seriedade das quais ela necessitava. Como Ridley Scott fez isso? Contando a história de um homem, e não de uma lenda.O filme é uma “prequel” (e, por isso, espero ansiosamente uma sequência,ok, Sr. Scott?), história de origem de um personagem, comumente usada em filmes de super-heróis. Seu Robin Longstride é um honesto arqueiro no batalhão de Ricardo Coração de Leão, que é punido pelo mesmo por ousar falar a verdade ao rei. Com a morte do monarca, Robin foge do batalhão e começa a trilhar seu caminho visando o benefício próprio,mas acaba aprendendo sobre seu misterioso passado e sobre sua família, e encontra assim seu destino. Descrição vaga, mas se eu escrevesse mais que isso, atrapalharia a experiência que você, leitor, terá no cinema.
“Robin Hood” é uma viagem fantástica para os amantes da Idade Média.Extremamente bem dirigido, fotografado e com trilha sonora competente, o filme te proporciona 2 horas e 20 minutos na terra dos castelos e alaúdes, arqueiros e damas. Ridley Scott faz um filme de aventura, com longas cenas de batalha, o que explica o posicionamento da estréia da obra em pleno verão americano, tão longe da temporada de premiações. O diretor, apesar de ter em mãos um talentoso elenco e uma produção grandiosa, não parecia estar mirando em estatuetas douradas.
Talentoso é um adjetivo pequeno para o afinadíssimo elenco deste épico. Russell Crowe brilha mais uma vez em parceria com Scott (sou fã incondicional da parceria, apesar de não ter amado “O Gângster”, nem ao menos gostado, na verdade), fazendo finalmente um Robin Hood nem um pouco caricato, trocando as roupas verdes e justas e penas no chapéu (graças a Deus) por armaduras e o capuz que gerou seu nome (“hood”). Todo o elenco de coadjuvantes foi perfeitamente escalado, com um trio de atores já conhecidos de séries de TV como os companheiros de Hood, os “Merry Men”, e Max Von Sydow e William Hurt fantásticos como sempre. Mark Strong adiciona mais um vilão para sua lista, dessa vez, bem mais convincente do que em Sherlock Holmes.
Cate Blanchett merece um capítulo a parte. Uma das melhores atrizes vivas retrata mais uma vez uma mulher fortíssima, mas coloca uma dose de fragilidade em sua Marion, personagem que se torna tão humana e real que rouba o filme completamente. Se o filme tivesse uma data de lançamento apropriada, Cate poderia estar na lista de indicações para várias premiações. Atualmente, tenho a impressão que três atrizes conquistam todos os grandes papéis femininos: Meryl Streep, Kate Winslet e Cate. E merecem. E fazem desses papéis mulheres reais e inesquecíveis. Eu saí do filme de Scott com a vontade de ser Lady Marion. Sem os ratos andando sobre a comida, óbvio.

Um conselho: Não vá para o cinema esperando um novo “Gladiador”. A força e o tom dramático da história de Maximus Decimus Meridius não estão presentes aqui, e a sua decepção será grande. O objetivo aqui é a aventura, a fusão perfeita de história real da Inglaterra com uma lenda que exerce fascínio há várias gerações. Mas um ponto em comum as duas histórias possuem. A idéia de que pessoas comuns, cordeiros que apenas queriam seguir com suas vidas, quando necessário, podem se tornar leões, irrefreáveis na busca de justiça.

Ps: Acho que o contador do blog está ficando doido. Para saber exatamente quantas pessoas estão visitando, peço a você um favor. Deixe um comentário, nem que seja só dando um Oi. Seja um herói. Salve hoje uma blogueira confusa. Obrigada =)

sábado, 8 de maio de 2010

Dores de crescimento


Filme: “Garota Fantástica” (Whip it, 2009)
Nota: 7,25
Para ler escutando: Keep your head – The Ting Tings

Adolescência. Um período marcado pela busca de uma identidade própria. Após vários anos utilizando a identidade que seus pais criam para eles, os adolescentes resolvem encontrar seus lugares no mundo. Em alguns casos, essa transição ocorre de maneira mais tranqüila, porém, em outros, romper as correntes da vida que se leva requer um pouco mais de ousadia. Aí entra a fase “rebelde”. Alguns fazem tatuagens, piercings, praticam esportes radicais, e em vários casos, fazem coisas das quais se arrependerão no futuro. Para alguns, pode parecer que tudo isso é feito apenas para agredir os mais velhos, porém a motivação de todos esses atos de rebeldia está na confusão gerada pela pergunta: Agora que eu cresci, quem sou EU?
Você começa a achar todos a sua volta patéticos, e busca um novo grupinho, cujos membros, muitas vezes, dividem com você pontos de vista, preferências musicais, modos de se vestir, ou modalidades esportivas. Quando você encontra seu nicho, a sensação é de que apenas estas pessoas seriam capazes de te entender. Seus pais? Seus amigos antigos? Como eles poderiam perceber os problemas que você vive? Na verdade, eles entendem sim, Já viveram isso. Você não é o primeiro adolescente confuso a buscar sua trilha na entediante cidade em que você vive.
Mas todo adolescente é, de certa forma, um patinador inexperiente, dando seus primeiros passos sobre suas próprias rodinhas. Está sempre querendo ir mais rápido, mas aos poucos, aprende que as quedas são inevitáveis quando se corre muito. O importante para o jovem patinador é encontrar o seu equilíbrio. E todos nós sabemos que essa é uma missão difícil.
Na sua estréia como diretora, Drew Barrymore mostrou que é exatamente uma adolescente quando atrás das câmeras. “Garota Fantástica” é um filme cheio de energia, senso de humor, estilo e atitude, porém, Drew ainda não encontrou seu equilíbrio, e levou alguns pequenos tombos. No início, o filme pode parecer confuso, exagerado e bobo. Apesar dos deslizes, “Garota fantástica” ainda é um divertido e interessante show, marcado por ótima música (como já imaginávamos, já que Drew é ex-namorada de Fab Moretti da banda The Strokes e o filme recebeu, em inglês, o título de um sucesso da banda Devo, “Whip it”), boas atuações e uma modalidade esportiva... inusitada.
Ellen Page, a eterna (sim, eterna) Juno MacGuff, dá mais uma demonstração da sua habilidade de retratar adolescentes incomuns, inteligentes e cativantes, como Bliss “Babe Ruthless” Cavendar, garota que não agüenta mais as pessoas e o marasmo de sua cidade natal, e os concursos de beleza que sua mãe (a ótima Marcia Gay Harden) a obriga à participar. E (Juno) Bliss finalmente encontra seu grupo ao conhecer o esporte “Roller Derby”, uma espécie violenta de corrida sobre patins (que, acredite, é um esporte real) , e principalmente, ao conhecer o azarão time “Hurl Scouts” e suas integrantes, um grupo de adultas que agem como teens o tempo inteiro, com treinos de patinação, festas e indie rock. O elenco adulto é muito bom, porém algumas atrizes (especialmente Juliette Lewis, que interpreta a vilã Iron Maiven) estão exageradamente afetadas. Drew Barrymore entregou a si mesmo o papel da distraída e imprevisível Smashley Simpson, e arranca algumas risadas, porém o destaque vai para Kirsten Wiig, atriz de Saturday Night Live, que faz a coadjuvante mais interessante do filme, e menos caricata, a mãezona do time Maggie Mayhem.
Como todos os filmes de superação esportiva, “Garota Fantástica” segue um roteiro levemente previsível, mas isso não se torna um problema em nenhum momento. A sub-trama do relacionamento entre (Juno) Bliss e Oliver é uma atração à parte, gerando cenas memoráveis como a bela sequência da piscina e a da procura pelas chaves. Além disso, Oliver é um personagem importantíssimo para o amadurecimento da personagem de Ellen Page.
Esse pequeno filme, repleto de energia, mostra que muita coisa boa pode vir do amadurecimento de Drew Barrymore como diretora e de Ellen Page como atriz. Porém, essa fase “adolescente” de seus trabalhos, assim como a fase adolescente de qualquer um de nós, é marcada por um tipo de diversão que nunca mais conseguiremos atingir na vida. E cada vez que assistirmos “Garota Fantástica”, despretensiosamente, numa tarde cheia de tédio, o saudosismo vai bater à nossa porta, assim como quando passamos na frente do nosso antigo “High School” ou vemos fotos antigas de um tempo que não volta mais.