terça-feira, 6 de julho de 2010
Simples assim
Filme: Simplesmente Complicado (It’s Complicated, 2009)
Nota: 7,25
Para ler escutando: Wouldn’t it be Nice – The Beach Boys
Envelhecer não é tão complicado hoje em dia. No passado, o medo de ficar velho era tão grande que muitos preferiam “Live fast and die young” do que se conformar com a era dos cabelos brancos. Mas agora, com os avanços da medicina, envelhecer deixou de ser sinônimo para apatia, dores e tédio, e virou uma continuação natural da vida, e o melhor, sem tantas amarras. A partir dessa evolução, o cinema se sentiu na obrigação de divulgar esse novo estilo de vida para os incrédulos, e uma nova moda surgiu: Filmes que mostram pessoas de meia-idade revolucionando suas vidas. Como em toda modinha que toma Hollywood de assalto, primeiro vem a onda de filmes medianos, a técnica se apura, um filme definitivo é lançado, e depois é só descida, cópias sem criatividade, até que o sub-gênero morre. E “Simplesmente Complicado” é o filme definitivo nesse caso.
Até em terras nacionais tivemos películas do gênero, como “A Partilha” (hilário, por sinal) e “Divã” (não me convenceu). Inclusive, um questionamento: Por que 70% dos filmes sobre meia-idade precisam de incluir uma cena com a personagem principal chapada? Reflitam. A piada é sempre a mesma, só muda a grande atriz que vai rir, dançar e comer descontroladamente. A piada teve graça da primeira vez, no caso, em “A Partilha”. Agora já está ficando perturbador. Daqui a pouco, se você escutar um Reggae vindo da casa da sua vizinha, suspeite.
Nancy Meyers, a diretora de “Simplesmente Complicado”, já tinha se enveredado por esse território no extremamente decepcionante “Alguém tem que ceder”. No filme de 2003, Nancy tinha Diane Keaton E Jack Nicholson à sua disposição e absolutamente nada saiu dali. O tipo de filme do qual só os seus pais acham graça. Dessa vez, a diretora reuniu novamente um elenco genial, talvez melhor do que o de seu esforço mal-sucedido, mas transformou todo esse talento num filme com um timing cômico que funciona para qualquer um.
O elenco é, com certeza, a atração principal de “Simplesmente Complicado”. É por esse filme que Meryl Streep deveria ter sido indicada ao Oscar, se o mundo fosse justo com as comédias sem pretensões biográficas, não por sua Julia Child de sotaque forçado. Meryl está tão natural que não parece estar atuando em nenhum momento. Sou fã do Alec Baldwin desde que descobri Jack Donaghy, da melhor série de comédia dos últimos anos, 30 Rock. E ele continua sua boa fase como Jake Adler. Sobre o Steve Martin, ele realmente abandonou seu “eu” comediante dos anos 80/90. Se foi uma boa escolha? Não sei. Steve está sutil e agradável nesta obra, mas se ele conseguisse voltar à velha forma, a comédia agradeceria. E no meio de monstros sagrados como esses, um novato continua mostrando uma competência enorme. John Krasinski rouba a cena em alguns momentos como o genro de Meryl e Alec, e se consolida como a imagem do “engraçadinho que é pra casar” que já tinha mostrado em “Por uma vida melhor”.
Para um filme preso à um sub-gênero como esse, “Simplesmente Complicado” brilha exatamente pois é, acima de rótulos, uma comédia romântica bem escrita, com um tema original e que não força a barra na sacarose. É moderna e bem pensada. Os personagens são sim, “complicados” e os caminhos e escolhas que fazem são mais humanos, reais. Nesse filme sobre envelhecer, o verdadeiro tema é mais amplo: O Tempo. Ele é capaz de mudar pessoas, transformar sentimentos, fazer desaparecer os problemas? E vale a pena apostar nesse velho senhor impiedoso e simplesmente esperar?
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