terça-feira, 13 de julho de 2010

Fúria e seus titãs


Filme: Maldito Futebol Clube (The Damned United, 2009)
Nota: 7
Para ler escutando: Represent - Weezer

Neste domingo tivemos uma final de copa do mundo que foi muito mais do que uma final de copa do mundo. Muito mais do que a disputa entre dois países. Foi épico, filosófico. O que vimos nos gramados da África do Sul foi a vitória do futebol-arte quando em confronto com o futebol-força. Foi a justiça sendo feita. Nos tortuosos caminhos de uma copa cheia de erros de arbitragem, a justiça arrumou um jeito de aparecer toda vez. E o time que jogou bonito, o time que, pelo o que me lembro, não ganhou um jogo sequer favorecido pelo apito errado de um juiz, prevaleceu. A Alemanha derrubou a Inglaterra com um gol inválido. A justiça foi feita. A Argentina fez o mesmo com o México em um impedimento escandaloso. A lança de Atena caiu sobre Maradona. Até mesmo sobre nosso país, que mostrou um futebol feio, violento, defensivo e que teve como grande lance um gol com dois toques de mão.
Essa luta entre o futebol bonito e o dito “eficiente” é retratada no filme inglês “Maldito Futebol Clube”. Nesta obra, o personagem (real) Brian Clough, quando assume o posto de técnico do então campeão inglês Leeds United, diz que o time ainda não podia se intitular campeão. Pois cada vitória tinha sido conquistada através de violência, de deslealdade, de injustiça. Não existe mérito na vitória injusta. Existe mais dignidade na derrota do que na vitória injusta. A Holanda de Van Marwijk jogou como o Leeds United que Brian tanto criticava. Desleal, nas agressões físicas explícitas e até mesmo nas devoluções de bola, faltando com o Fair Play tão incentivado pela Fifa. E como na carreira de Clough, interpretado no filme por Michael Sheen (em mais um bom papel biográfico), os pequenos triunfos podem ir para os times “eficientes” (Brasil na Copa das Confederações, por exemplo), mas o futebol bonito recebe as maiores glórias.
“Maldito Futebol Clube” é um filme interessantíssimo para quem gosta de futebol. Após assisti-lo, você adquire uma idéia mais sólida da função e dos problemas de um técnico em um time ou seleção. A individualidade dos jogadores é importante sim, mas a maneira como estes vão se comportar em grupo é responsabilidade daquele que monta e treina o elenco. Quando formado, um time é um organismo próprio e seu cérebro (ou a falta dele) é o treinador. O corpo do organismo pode ser forte, preparado e talentoso, mas se o cérebro não funciona, não se adapta a controlar aqueles membros, o resultado vai ser caótico e descoordenado. Foi o que aconteceu quando o jeito de pensar rígido de Dunga se juntou com a fluidez do futebol brasileiro.
Ok, ao filme. “Maldito futebol clube” não é um filme de esporte que segue uma estrutura comum de filmes de esporte, fato que se acentua no final do filme. É bem dirigido e bem interpretado, mas não é muito interessante para quem não se interessa pelo assunto, assim como esse texto.

A lição do filme é a mesma lição da Copa do Mundo 2010. O verdadeiro futebol não é feito de Felipe Melo e De Jong, mas dos passes de Xavi e dribles de Villa. A garra que levou Diego Forlán ao prêmio de melhor da copa não é a garra violenta, é a garra apaixonada. Das lágrimas de Casillas, jogador símbolo da conquista de uma Fúria nada furiosa.

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