terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Filme de época



Filme: Cavalo de Guerra (War Horse, 2011)
Nota: 7,5
Para ler escutando: PJ Harvey - On Battleship Hill

Parece inevitável. Filmes excessivamente emotivos com animais excepcionalmente inteligentes que unem as pessoas, catalisam eventos, e é claro, sofrem bastante no percurso, proporcionam ao espectador mais implicante a sensação de que quem está sendo adestrado é, na verdade, ele mesmo. Pulando cada obstáculo narrativo exatamente no momento que o treinador comanda. Se emocionando naquele momento feito precisamente para isso, como um filhote que dá a pata ou finge de morto. Steven Spielberg é um excelente treinador, mas não consegue impedir que Cavalo de Guerra, seu mais novo filme, cause essa sensação implacável em parte de seu público.

Cavalo de Guerra é um filme que acerta, beirando a perfeição, em inúmeros níveis, e falha em um apenas: a própria história que é contada. Seu roteiro é completamente prevísivel e seus personagens parecem promessas de desenvolvimento nunca cumpridas, tipos intrigantes que te fazem implorar por mais tempo de cena, mais desvendamento, mas nunca permanecem. Assim, eles não ganham os minutos necessários para que se transformem em algo mais que bidimensionais. A única constante em meio aos golpes transitórios da guerra é Joey, o cavalo, e a própria Primeira Guerra Mundial, que se transforma no mais bem construído personagem da película, o vilão perfeito e complexo para o herói e mártir Joey, que leva o conforto para tantos outros peões, vítimas do conflito, localizadas em diferentes lados das trincheiras mas igualmente afetadas, devastadas e, apesar de tanta violência, bem intencionadas, separadas pela guerra mas unidas pela compaixão, pela afetividade e pela coragem que o cavalo espalhava pelo front.

Os personagens humanos, rasos, não deram espaço para que o elenco revelasse todo o seu potencial, mas cada peça de Cavalo de Guerra prova seu valor no seu curto tempo de tela. Os destaques do elenco não escolhem faixa etária, e vão dos veteranos Emily Watson, Peter Mullan e Niels Arestrup até nomes que ganham cada vez mais a atenção de Hollywood, como Benedict Cumberbatch e Tom Hiddleston. Jeremy Irvine não falha em sua missão de protagonista, mas também não chama os holofotes para si.

Bom elenco, mas são os aspectos técnicos de Cavalo de Guerra que deveriam conquistar para o filme algumas vagas no Oscar e em outras premiações de 2012. Os olhos e ouvidos de Steven Spielberg, Janusz Kaminski, diretor de fotografia, e John Williams, maestro, transformam Cavalo de Guerra em uma obra de arte com belíssimas imagens, iluminação impecável e uma trilha sonora tão emotiva e "old-school" quanto o filme em si.

"Old-School", por sinal, parece definir a proposta de Spielberg com Cavalo de Guerra, um filme de época, não apenas por retratar os anos 10, mas por parecer pertencer à velha Hollywood. Spielberg perdeu velocidade na corrida do Oscar ao ficar de fora da lista do Director's Guild Awards, mas Cavalo de Guerra está longe de ser uma decepção para a carreira do regente. O diretor prova mais uma vez seu talento incrível para dirigir cenas de batalha (em uma sequência de tirar o fôlego no front francês da WWI), assim como o de dirigir novos e velhos nomes e extrair deles boas performances e, acima de tudo, seu talento para o "cinemão". A habilidade está presente como sempre: só precisamos que o grande contador de histórias se reencontre com uma história digna de sua inspiração. Seria essa história Tintin? Lincoln? Vários projetos promissores no futuro de um diretor que tropeça, sim, mas quando se levanta, convida também a plateia para se levantar - e aplaudir de pé.

Nenhum comentário:

Postar um comentário