quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Um filme no "In-Between"




Filme: Um olhar do paraíso (The Lovely Bones, 2009)
Nota: 6,25
Para ler escutando: Your Ghost - Greg Laswell

No ínicio de “Um olhar do paraíso”, a narradora-personagem Susie Salmon diz que foi assassinada numa época que não eram comuns, nos jornais e na vida de todos, notícias de violência, especialmente contra a criança. Já o público que está indo aos cinemas para assistir o novo filme de Peter Jackson vive em outra época.

Um dia antes de ir ao cinema para assistir “Um olhar do paraíso”, li que um dos responsáveis pela morte brutal de João Hélio estava livre.E pensei na quantidade de crimes horríveis realizados contra crianças nos últimos anos, cada vez mais violentos e chocantes. E o efeito que o filme tem no seu espectador é exatamente o de trazer a indignação perante o horror, a brutalidade desse tipo de crime.

Stanley Tucci cria um Sr. Harvey dissimulado, cínico, e claramente perturbado, que dá asco no espectador. Posso dizer que os dois melhores atores coadjuvantes (Tucci e Cristoph Waltz) do ano interpretaram vilões repulsivos e detestáveis, que te deixam com aquele impulso de entrar na tela só pra impedir aquilo tudo. O filme brilha nos momentos que está presente a tensão, seja na morte de Susie, na paranóia de seu pai ou na iminência de um novo ataque do psicopata.
Com um diretor premiadíssimo (Jackson) e um tema interessante, “Um olhar no paraíso” podia ter sido um filme inesquecível. Mas o filme caiu em todas as armadilhas que esse tipo de roteiro coloca na estrada, e posso dizer que a culpa está exatamente sobre os ombros do diretor de Senhor dos Anéis. Jackson cria um filme que só funciona nas cenas do mundo real, porque o exagero e o sentimentalismo das cenas do “In Between”, o mundo dos mortos, chega a incomodar. O visual do “In Between” é bonito e marcante, mas é bem lugar-comum, colinas com árvores e esquemas de cores que mudam com o humor de Susie. Esse visual idílico só causa efeito na cena inicial do crime, a tela dividida em sombras e luz, criando mais tensão. No resto, fica “Amor além da vida” demais. A trilha sonora quer acompanhar esse clima de paraíso iniciado pela fotografia, mas consegue em poucas cenas.

Além disso, o filme para de fazer sentido quando seu foco se torna o amor de Susie e Ray, que simplesmente não convence.Uma paixão platônica de colégio que adquire uma importância absurda para Susie no pós-morte fica forçado demais e culmina num final que vai te deixar xingando a tela de cinema por um tempo. A busca da menina pelo primeiro beijo se torna uma fixação meio irritante, ainda mais quando sua família entra em declínio e ainda é o gazebo no qual deveria encontrar Ray que ela vê o tempo inteiro.

Apesar de contar com um bom elenco, o filme decepciona um pouco. Rachel Weisz praticamente não tem espaço para mostrar seu talento, e Mark Wahlberg é competente mas não te impressiona hora nenhuma. Eu considero Saorise Ronan uma atriz impressionante desde “Desejo e Reparação”, mas sua Susie Salmon é prejudicada por um roteiro...comum demais.

Não li o livro de Alice Sebold que originou o filme, logo, não posso comentar sobre o roteiro como adaptação. Durante o filme, você se sente muito mal por todas as crianças que têm suas chances de viver roubadas, todas as futuras fotógrafas de vida animal que nunca viajarão para a África. Mas como Manuel Bandeira disse sobre a morte e a doença quando aparecem muito cedo na vida de alguém, “A vida inteira que poderia ter sido e não foi”, esse é um filme que poderia ter sido e não É.

Um comentário:

  1. Acho que sou a única pessoa do mundo que gostou/amou esse filme...rsrsrs

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