sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ciclo Vicioso


Filme: Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds, 2009)
Nota: 9,75
Para ler escutando: Seven Nation Army –The White Stripes


Dois anos seguidos, dois filmes geniais abordando o mesmo tema: A segunda guerra mundial e o regime nazista. O melhor filme de 2008, “O Leitor” surpreendia e assombrava o espectador por dias, por seu roteiro impecável e interpretação histórica de Kate Winslet. E em 2009, Quentin Tarantino nos premia com uma história nada real, mas inteligentíssima e fascinante, sobre esse evento trágico que marcou a humanidade.
Por que, nessa crítica de “Bastardos Inglórios”, eu estou falando de “O Leitor”? Simplesmente porque essa comparação é extremamente útil para explicar o principal tema da película de Tarantino. Em “O Leitor”, a personagem Hanna Schmitz (Kate Winslet) é julgada por um acontecimento no qual 300 mulheres judias são trancadas em uma igreja em chamas. E ao assistir essa cena, qualquer um de nós, espectadores , sente raiva, indignação, repulsa. E, no final de Bastardos Inglórios, um cinema com 380 pessoas ligadas ao partido nazista é incendiado, com suas portas trancadas e atiradores nos camarotes descarregando seus pentes. E o que você sente pode ser descrito em uma frase. “Eles merecem”.
Em Bastardos Inglórios, a vingança se torna justificativa para a crueldade extrema, mas isso só gera um ciclo vicioso. Violência gerando violência. Mas durante o filme, você não pensa nisso. Porque o vilão Hans Landa, interpretado magistralmente por Cristoph Waltz (que já podia pegar seu Oscar antes mesmo da cerimônia), causa uma revolta tão grande no espectador, devida a seu cinismo e frieza, que tudo parece justificado.
Quentin Tarantino consegue unir o estilo, o visual e a ironia de seus outros trabalhos com um tema inteligente e complexo, e cria cenas que se tornam inesquecíveis (e eu não uso essa palavra pra tudo). A trilha sonora é uma bela homenagem ao cinema (Ennio Morricone é GÊNIO) e a fotografia, impecável. O personagem de Brad Pitt se aproxima muito do caricato, mas em uma cena específica o ator mostra que sabe perfeitamente o que está fazendo e brilha. Mélanie Laurent merecia uma indicação ao Oscar por sua interpretação de Shosanna, pois passa uma intensidade absurda apenas com suas expressões faciais.
Requer muito talento para um roteirista escrever uma cena como a primeira cena de Bastardos. Visualmente fantástica, diálogos inteligentes e MUITA tensão.O filme já te conquista ali. Algumas cenas, especialmente as envolvendo o personagem de Michael Fassbender, o tenente/crítico de cinema Archie Hicox, poderiam ser mais curtas, pois atrapalham o ritmo do filme sem acrescentar nada à história.
Em Bastardos Inglórios, os vingadores comandados por Brad Pitt fazem questão de marcar os nazistas que deixam vivos, para garantir que ninguém saia impune. É essa necessidade de punir que permeia a história, cegando os personagens e o espectador. Assistimos o filme sem perceber isso, até que nosso olhar encontra a fúria no olhar de Donny Donowitz ao matar Hitler, e uma pergunta pode passar pela cabeça dos mais atentos: Se o mundo seguir a lei do “Olho por olho, dente por dente”, quando a violência encontrará um ponto final?

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