sábado, 6 de fevereiro de 2010
Cinema Italiano
Filme: Nine
Nota: 4,75
Para ler escutando: Be Italian – Fergie
O que faz um grande diretor? São as características que o tornam diferente de qualquer um, a sua assinatura. E por isso mesmo, nada bom pode vir de uma releitura de um filme de um grande diretor. Por que qualquer alteração tira a verdadeira alma do original. E Rob Marshall, diretor do genial musical Chicago, resolveu se arriscar a filmar a adaptação de 8 ½ de Federico Fellini para a Broadway, Nine. E fiasco é a única palavra capaz de descrever o que Marshall conseguiu com essa adaptação.
Quais são os charmes de 8 ½? Um visual maravilhoso, em preto-e-branco, que Marshall destruiu com as cores e o exagero estilo cabaret, repetindo tudo o que deu certo em Chicago, dos números musicais. 8 ½ é sutil, dá pra compreender a história mas nada é descaradamente explicado para o espectador. Nine chega ao ponto de se tornar piegas, com os problemas no casamento de Guido Contini e Luisa. O próprio personagem principal, o diretor de cinema de sucesso Guido, que vive uma crise criativa, e, no processo de realizar um novo filme, reflete sobre sua vida e as mulheres que marcaram a mesma, muda de personalidade na releitura de Marshall. Guido, em 8 ½ , é calado e não quer falar com a imprensa pois não tem o que dizer sobre um filme que não existe. Já em Nine, Guido precisa de falar sobre todos esses problemas que ele vive, sempre com piadinhas prontas. Por que? Porque Rob Marshall acha que se ele não explicar tudo, o espectador não vai entender o que se passa ali. Mas sim, nós entenderíamos.
Talvez o maior problema de Nine é que 8 ½ é autobiográfico. Fellini criou Guido como seu alter-ego, e colocou todos os seus problemas, a pressão de criar filmes cada vez melhores, a sua infância católica, as mulheres de sua vida. A história, quando contada por outra pessoa, perde aquilo que fazia dela especial. Fica impessoal.
Aí você pode pensar, e eu, que não vi 8 ½, e não vou perder meu tempo comparando as duas obras, vou gostar de Nine?
O elenco de Nine é fantástico, isso não deixa dúvidas, mas é desperdiçado em personagens bobos e sem profundidade. Penélope Cruz está impecável como sempre, e traz latinidade para um filme que clamava por isso. Marion Cotillard já deu provas suficientes que é uma das melhores atrizes de sua geração, e faz uma Luisa incrível. Daniel Day-Lewis? Não chega nem perto dos seus grandes papéis, e faz um Guido completamente sem carisma e naturalidade, ainda mais quando comparado com o GÊNIO Marcello Mastroianni.
Outra grande falha de Nine: Um musical precisa de músicas maravilhosas. E apenas três músicas se destacam no filme, sendo que as outras são entediantes, não acrescentam nada à história. “Take it All”, a única canção de Nine que fora indicada ao Oscar, não parece pertencer a essa obra, e sim a Chicago.
Rob Marshall tinha tudo: Talento de sobra, que provou com Chicago e Memórias de uma gueixa, um elenco afiadíssimo, e um gênero de filme que o deixava confortável. Mas não adianta, o jogo estava perdido antes mesmo de começar. Nine não funciona como releitura, não funciona como filme, não funciona como musical. 8 ½ não se completou ao se tornar 9, mas perdeu o que o tornava completo: Sua personalidade.
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