sábado, 8 de maio de 2010
Dores de crescimento
Filme: “Garota Fantástica” (Whip it, 2009)
Nota: 7,25
Para ler escutando: Keep your head – The Ting Tings
Adolescência. Um período marcado pela busca de uma identidade própria. Após vários anos utilizando a identidade que seus pais criam para eles, os adolescentes resolvem encontrar seus lugares no mundo. Em alguns casos, essa transição ocorre de maneira mais tranqüila, porém, em outros, romper as correntes da vida que se leva requer um pouco mais de ousadia. Aí entra a fase “rebelde”. Alguns fazem tatuagens, piercings, praticam esportes radicais, e em vários casos, fazem coisas das quais se arrependerão no futuro. Para alguns, pode parecer que tudo isso é feito apenas para agredir os mais velhos, porém a motivação de todos esses atos de rebeldia está na confusão gerada pela pergunta: Agora que eu cresci, quem sou EU?
Você começa a achar todos a sua volta patéticos, e busca um novo grupinho, cujos membros, muitas vezes, dividem com você pontos de vista, preferências musicais, modos de se vestir, ou modalidades esportivas. Quando você encontra seu nicho, a sensação é de que apenas estas pessoas seriam capazes de te entender. Seus pais? Seus amigos antigos? Como eles poderiam perceber os problemas que você vive? Na verdade, eles entendem sim, Já viveram isso. Você não é o primeiro adolescente confuso a buscar sua trilha na entediante cidade em que você vive.
Mas todo adolescente é, de certa forma, um patinador inexperiente, dando seus primeiros passos sobre suas próprias rodinhas. Está sempre querendo ir mais rápido, mas aos poucos, aprende que as quedas são inevitáveis quando se corre muito. O importante para o jovem patinador é encontrar o seu equilíbrio. E todos nós sabemos que essa é uma missão difícil.
Na sua estréia como diretora, Drew Barrymore mostrou que é exatamente uma adolescente quando atrás das câmeras. “Garota Fantástica” é um filme cheio de energia, senso de humor, estilo e atitude, porém, Drew ainda não encontrou seu equilíbrio, e levou alguns pequenos tombos. No início, o filme pode parecer confuso, exagerado e bobo. Apesar dos deslizes, “Garota fantástica” ainda é um divertido e interessante show, marcado por ótima música (como já imaginávamos, já que Drew é ex-namorada de Fab Moretti da banda The Strokes e o filme recebeu, em inglês, o título de um sucesso da banda Devo, “Whip it”), boas atuações e uma modalidade esportiva... inusitada.
Ellen Page, a eterna (sim, eterna) Juno MacGuff, dá mais uma demonstração da sua habilidade de retratar adolescentes incomuns, inteligentes e cativantes, como Bliss “Babe Ruthless” Cavendar, garota que não agüenta mais as pessoas e o marasmo de sua cidade natal, e os concursos de beleza que sua mãe (a ótima Marcia Gay Harden) a obriga à participar. E (Juno) Bliss finalmente encontra seu grupo ao conhecer o esporte “Roller Derby”, uma espécie violenta de corrida sobre patins (que, acredite, é um esporte real) , e principalmente, ao conhecer o azarão time “Hurl Scouts” e suas integrantes, um grupo de adultas que agem como teens o tempo inteiro, com treinos de patinação, festas e indie rock. O elenco adulto é muito bom, porém algumas atrizes (especialmente Juliette Lewis, que interpreta a vilã Iron Maiven) estão exageradamente afetadas. Drew Barrymore entregou a si mesmo o papel da distraída e imprevisível Smashley Simpson, e arranca algumas risadas, porém o destaque vai para Kirsten Wiig, atriz de Saturday Night Live, que faz a coadjuvante mais interessante do filme, e menos caricata, a mãezona do time Maggie Mayhem.
Como todos os filmes de superação esportiva, “Garota Fantástica” segue um roteiro levemente previsível, mas isso não se torna um problema em nenhum momento. A sub-trama do relacionamento entre (Juno) Bliss e Oliver é uma atração à parte, gerando cenas memoráveis como a bela sequência da piscina e a da procura pelas chaves. Além disso, Oliver é um personagem importantíssimo para o amadurecimento da personagem de Ellen Page.
Esse pequeno filme, repleto de energia, mostra que muita coisa boa pode vir do amadurecimento de Drew Barrymore como diretora e de Ellen Page como atriz. Porém, essa fase “adolescente” de seus trabalhos, assim como a fase adolescente de qualquer um de nós, é marcada por um tipo de diversão que nunca mais conseguiremos atingir na vida. E cada vez que assistirmos “Garota Fantástica”, despretensiosamente, numa tarde cheia de tédio, o saudosismo vai bater à nossa porta, assim como quando passamos na frente do nosso antigo “High School” ou vemos fotos antigas de um tempo que não volta mais.
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Caramba, gostei muito do seu blog! vou passar aqui mais vezes, prometo!
ResponderExcluiras músicas que você escolhe para os seus posts são ótimas, sem contar que só a idéia de sugerir músicas para ouvir lendo é genial.