domingo, 25 de abril de 2010

"Tão louco quanto um chapeleiro"



Filme: Alice no país das maravilhas (Alice in wonderland - 2010)
Nota: 8
Para ler escutando: Crazy - Gnarls Barkley


"Sim, você é louco, completamente maluco, mas vou te contar um segredo, as melhores pessoas são " - Alice Kingsleigh

Essa é uma opinião compartilhada pelos três alicerces da recente adaptação cinematográfica de “Alice no país das maravilhas”.O escritor Lewis Carroll , o diretor Tim Burton e o ator Johnny Depp são grandes estudiosos e admiradores da loucura e da excentricidade, e esse filme é uma declaração de amor à insanidade.

Existe uma fina linha que separa o excesso de criatividade e imaginação e a loucura. Na verdade, o próprio processo criativo pode levar à perda da sanidade. Vários grandes artistas eram loucos, como Van Gogh, Lispector, Mozart. E é sobre essa linha que Tim Burton gosta de trabalhar, sempre centrando seus filmes em personagens no mínimo excêntricos. E ninguém gosta mais de interpretar esse tipo de personagem que Johnny Depp. Assim uma parceria que já dura 7 filmes se consolidou, e é quase impossível separar esses dois nomes.

Quando esta adaptação de Alice de Lewis Carroll foi anunciada, cinéfilos do mundo inteiro criaram expectativas monstruosas para o filme. Todos esperavam a obra-prima de Burton, afinal, tudo conspirava pra isso. Grande elenco, história icônica e completamente doida, e uma liberdade artística enorme (afinal, com o sucesso de sua carreira, hoje em dia Burton tem praticamente carta branca pra fazer o que quiser). Ainda por cima, seria o primeiro filme do inovador diretor a utilizar a tecnologia 3D.

Aí veio o resultado final e as críticas começaram a aparecer. Algumas delas, direcionadas ao roteiro. Burton não adaptou diretamente nenhum dos dois livros da saga de Carroll, e não agradou os fãs da obra. E também não agradou os que, erroneamente, esperavam um filme com uma história forte, que fosse mudar a sua vida. Tim Burton não é um diretor de palavras, e sim um diretor de estética, de imagem. Reclamar de uma história superficial em um filme dele é igual procurar uma mensagem maior em Kill Bill Vol. 1, de Tarantino.
“Alice no País das Maravilhas” possui tudo o que eu espero de um bom filme de Burton. O filme segue o mesmo raciocínio de um de seus melhores filmes, “Peixe Grande E Suas Histórias Maravilhosas”, numa reflexão sobre sonho, imaginação e loucura, e pega emprestada a estética colorida de “A fantástica fábrica de chocolates”, mas dessa vez com toques mais sombrios, mostrando a devastação do mundo subterrâneo durante o reinado da Rainha de Copas. O visual do filme é muito interessante, mas nos primeiros 20 minutos, o 3D me incomodou. Cenas muito rápidas, quando em 3D, não funcionam. Você não enxerga em três dimensões, você simplesmente não enxerga. Mas logo o ritmo diminuiu, e o uso da nova tecnologia foi primoroso. A primeira cena no castelo da rainha de copas é incrível.

Outra reclamação recorrente foi a da escolha da atriz que interpretaria Alice, Mia Wasikowska. A escolha poderia ter sido melhor (quem sabe, diminuir a idade da personagem um pouquinho e colocar a Dakota Fanning?), mas Mia não faz feio e traz para Alice toda a inocência e a estranheza que a personagem precisa. Na verdade, todo o elenco está ótimo, inclusive os ótimos dubladores Alan Rickman (alguém não vê o Snape toda vez que vê o Absolem?) e Stephen Fry (adorei o gato risonho). A única crítica vai para Anne Hathaway, que está inexplicavelmente mal no papel da rainha branca. Seus movimentos de mão estão tão exagerados que você não consegue prestar atenção no resto da cena.

Depp é um caso à parte. O Chapeleiro Maluco se torna humano em suas mãos. O ator injeta uma complexidade no personagem que eu realmente não esperava. Mas de um ator que nos trouxe Willy Wonka e Capt. Jack Sparrow, o erro de esperar uma interpretação simples foi meu.

Sem dúvida nenhuma, o final do filme foi o que ganhou minha admiração. Nele, Burton declara explicitamente que é a ousadia dos que se atrevem a ir além do que a sociedade espera dos mesmos, a sonhar, mesmo que isso signifique sofrer o julgamento dos que se julgam normais, é o que move o mundo para frente.Os que acreditam em seis coisas impossíveis antes do café-da-manhã são os únicos capazes de torná-las possíveis. E os que se julgam normais, são apenas coadjuvantes na história. E para Tim Burton, os que importam são os protagonistas.

3 comentários:

  1. Adorei a crítica. Estou ansiosa por ver o filme!
    =P

    By: Gabi

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  2. linda crítica, Ana =) concordo com você! Pode não ter sido o melhor filme ever do Tim Burton (eu acho Sweeney Todd genial), mas não é esse horror que a crítica vem falando por aí. =) Só uma coisa, eu adoro a Anne Hathaway, não achei ela ruim no filme xD (e eu acho que os movimentos das mãos são pra ser exagerados mesmo xD)

    Essa frase da Alice, pra mim, é uma daquelas frases que mais marcam em filmes xD Achei foda!

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  3. Ana, uma das melhores, ou a melhor crítica sobre o filme que já lí... essa frase pra mim diz tudo!
    No filme A menina no país das maravilhas, o pai de Alice diz essa mesma frase para a Alice quando ela pergunta ao pai se ela é louca...
    O filme é adoravel...
    Parabéns!

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