quarta-feira, 28 de abril de 2010

Amor de cinema


Filme: Cupido é Moleque Teimoso (The Awful Truth, 1937)
Nota: 9,25
Para ler escutando: Love Song – Sara Bareilles

Sou uma entusiasta das comédias românticas. Já vi tantas, mas tantas, que não vale mais a pena nem passar pela seção na locadora. Sei várias praticamente de cor (“Mensagem para você” e “Diário de Bridget Jones”, por exemplo) . E eu fico triste de ver o gênero morrendo na frente dos nossos narizes. Afinal, a produção de boas comédias românticas está diminuindo exponencialmente, com a dinâmica de um casal sendo substituída por super-elencos que fazem um cartaz ficar pequeno pra tantos nomes.

A influência do gênero no mundo é tão grande que a Universidade de Heriot-Watt em Edimburgo desenvolveu uma pesquisa indicando que fãs de rom-coms (gíria norte-americana pro gênero) tendem a ter problemas com seus relacionamentos amorosos. Por quê? Esses filmes acabam exatamente no momento que a vida realmente começa, e a idealização do “Felizes Para Sempre” fixa suas raízes na cabeça dos ingênuos espectadores. Porém, essa influência raramente atinge os corações de pedra dos críticos e dos prêmios, e as rom-coms são sempre criticadas e esquecidas.

As comédias românticas dependem completamente da seguinte sequência de fatores: do charme e romantismo de seus roteiros e diálogos, do bom uso de comédia física e de um casal de protagonistas carismáticos. Mas a existência dessa pequena fórmula para o sucesso não significa que o enredo do mesmo também deva seguir uma fórmula mágica. Ultimamente, grande maioria dos filmes do gênero segue a mesma ordem de fatos:

1º- Eles se conhecem. Algo diz que o romance é impossível. Pode ser um impedimento social ou familiar, como em todos os spin-offs de Romeu e Julieta, ou pode ser a incompatibilidade de personalidades (ele é mulherengo, ela é esnobe, e por aí vai).
2º-Eles se apaixonam. Mas eles não querem admitir isso. Nesse momento, relacionamentos coadjuvantes podem acontecer.
3º- Um deles vai se casar/mudar/_____. O outro percebe então que o amava. Logo, esse outro vai correr, triunfantemente, ao som de uma música igualmente épica, para impedir que isso aconteça.
4º- E então eles viveram felizes para sempre. A não ser que tenha sequência.

Não estou dizendo que todos os filmes que seguem essa fórmula são ruins. Na verdade, vários são geniais. Porém, para pegar essa fórmula e transformar em um bom filme, você tem que ser um roteirista de talento mesmo.

Já que essa fórmula existe (e está aí para qualquer um que quiser juntar uma câmera, a Renée Zellweger e o Hugh Grant, e fazer um filme) eu fico completamente maravilhada quando algum filme consegue sair dessas linhas, mesmo que parcialmente. E fiquei mais maravilhada ainda quando vi um filme de 1937 que fez isso com maestria. Tanta maestria que seu diretor, Leo McCarey, conquistou o Oscar no mesmo ano. Sim, uma comédia romântica ganhando Oscar de direção, isso parece a coisa mais inesperada do mundo nos dias de hoje. Dias em que Sandra Bullock quase não levou o prêmio por sua atuação maravilhosa em “Um sonho possível” apenas por ter conquistado sua fama em rom-coms.

“Cupido é moleque teimoso” é o filme em questão. O enredo acompanha o divórcio de um casal após a descoberta de adultério, tanto da parte de Lucy Warriner quanto da parte de Jerry Warriner. Nada de incomum, não é? Mas o diferencial está nos personagens. Irônicos e hilários, Jerry e Lucy estão sempre provocando um ao outro. E essa dinâmica é deliciosa de se ver na tela.Ainda mais quando interpretada com perfeição por Cary Grant e Irene Dunne. O filme mostra que obras como “O amor custa caro” dos Irmãos Coen, “Leis da atração” e “Como perder um homem em 10 dias” não são novidade, e que filmes antigos podem ser completamente modernos. Tão modernos que várias vezes durante o filme eu pensei: “Por que ninguém fez um remake disso ainda?” . Deviam fazer. Com George Clooney e Renée Zellweger nos papéis principais.McCarey equilibra perfeitamente a comédia irônica, presente em cada fala e olhar, com a comédia física, centrada no personagem de Grant e, em alguns momentos, no adorável cachorro Mr. Smith.

Cara Universidade de Heriot-Watt, eu não tenho medo da síndrome do fã de comédias românticas. Sou viciada e se você quiser que eu vá para a reabilitação, eu digo não, não, não (10 pontos pelo esforço da piadinha). Mas como toda viciada, espero minhas próximas doses de risadas e choros envergonhados no final com grande expectativa. Richard Curtis, Garry Marshall, Nora Ephron, Hugh Grant, Richard Gere, Julia Roberts, Meg Ryan, onde estão vocês? E onde estão os charmosos novatos que receberão a missão de continuar a missão que foi cumprida com mérito por Cary Grant e Irene Dunne? Por vocês aguardo, com pipoca, chocolate e a eterna crença em um final feliz.

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