domingo, 21 de março de 2010

Um lugar para chamar de lar


Filme: “Por uma vida melhor” (Away we go, 2009)
Nota: 9
Para ler escutando: Wait – Alexi Murdoch

Famílias disfuncionais estão para o cinema Indie Americano como crianças descabeladas estão para o terror japonês. Problemas familiares, pais estranhos e filhos que se tornam mais estranhos ainda são essenciais para esse “gênero” que eu amo tanto (vários dos meus filmes favoritos são dessa leva de pequenos grandes filmes). E quando Sam Mendes, diretor de “Beleza Americana”, “Estrada para Perdição” e “Foi Apenas um Sonho” resolveu entrar no clube das pequenas comédias dramáticas com “Por uma vida melhor”, o que todos os críticos esperavam era um retrato ácido de mais uma família problemática. Então, quando o resultado da iniciativa de Mendes chegou aos cinemas, os críticos mais nervosinhos começaram o coro, dizendo que o casal criado pelos roteiristas Eggers e Vida olhava para o mundo e para as pessoas que conheciam com uma falsa sensação de superioridade.
Essa não é a impressão que eu levo da jornada de Burt Farlander e Verona de Tessant, duas pessoas perfeitamente cientes dos problemas que carregam, por um lugar pra chamar de lar e criar o filho que estão esperando. O polêmico diretor da trama não está tentando perpetuar uma idéia de que existem famílias perfeitas, afinal, seu primeiro e premiadíssimo filme “Beleza Americana” foi feito exatamente para destruir essa idéia. A questão que é levantada por esse sensível filme é a dificuldade de começar uma família. Ninguém começa uma família já com o intuito de que dê tudo errado. Burt e Verona se amam, amam o filho que esperam e se encontram num período de extrema insegurança. Todas as famílias, todos os lares que encontram, falharam na busca de uma vida familiar sólida, saudável. E eles tentam, desesperadamente, na forma de promessas e fórmulas mágicas, fazer aquilo dar certo. A questão é: Nenhuma família disfuncional já começa assim. Os erros não são planejados. Grande parte dos casais quer uma família feliz, e buscam isso da maneira que acham que vai dar certo. E muitas vezes, não dá certo. Pois não existe fórmula mágica pra nada que envolva seres humanos.
A questão que eu passo para os críticos que disseram que Burt e Verona estão errados na sua busca por normalidade, é bem simples: O que acontece se as pessoas pararem de buscar isso? É errado querer ser melhor do que os maus exemplos que observamos? É melhor parar de acreditar que qualquer coisa pode dar certo? Não.
Voltando nossas lentes para os aspectos técnicos, a direção de Mendes é belíssima. Os atores principais, John Krazinski e Maya Rudolph, ambos com um passado extremamente ligado à comédia televisiva, saem de suas zonas de conforto e apresentam personagens sensíveis, adoravelmente esquisitos e em nenhum momento, exagerados. O elenco do filme é extremamente competente, mesmo com papéis bem caricatos.
Mas nada se compara à trilha sonora. Alexi Murdoch dita o ritmo do filme com seu folk impecável. É o tipo de trilha sonora que você espera os créditos acabarem pra descobrir quem fez, e, no meu caso, corre para o YouTube instantaneamente após o fim do filme. O maior triunfo do filme. Uma das melhores trilhas que eu já vi.
Para construir seu lar, sua família, a sutil Verona de Maya Rudolph foge das convenções do casamento, e resolve viver no único lar que julga feliz, a casa de seus pais (que morreram quando Verona tinha 22 anos). Ingenuidade? Somos todos ingênuos quando se trata de relações humanas. LN e sua crença numa criação alternativa para seus filhos, sem carrinhos de bebê, o irmão de Burt e a vontade de ter sua mulher de volta, Munch e sua vontade de ter um filho biológico. Mas ainda é melhor ser ingênuo do que ser cético. Por que o cético não tem motivo pra se mexer, então, fica estagnado. Fica a dica para os críticos.

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