terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Do sociável ao social


Filme: A Rede Social (The Social Network, 2010)
Nota: 9,75
Para ler escutando: Creep - Radiohead

“I want you to notice when I'm not around, You're so fucking special, I wish I was special” Radiohead

Algumas vezes, a criação é o espelho exato do criador. O Facebook pode ser um filho adotado (na verdade, roubado na maternidade) por Mark Zuckerberg, mas ele é cara do pai. A motivação que levou à criação do Facebook é a mesma motivação que levou seu enorme público a criar uma conta no site. O que motiva as ações humanas? Aqueles que respondem 'dinheiro', estão ignorando que existe uma razão escondida atrás dessa busca por dinheiro. Por exemplo, se um homem ganancioso, ambicioso, ganhar uma fortuna mas ser forçado a aproveitar seu dinheiro em uma casa isolada, em um país distante, ele será feliz? Não. A busca humana não passa só por notas e moedas, afinal, a moeda de maior valor não é física: O Status.

Mark Zuckerberg é o bilionário mais jovem do mundo. Mas ele não criou o Facebook visando seu primeiro bilhão de dólares. Na versão de sua história relatada com maestria por Aaron Sorkin e David Fincher em "A Rede Social", o sócio e "melhor amigo" Eduardo Saverin tinha que lhe avisar constantemente sobre o potencial comercial do Facebook. Desde a primeira cena do filme, Zuckerberg não age como uma caixa registradora, e sim como um garoto, humano, desesperado por atenção. Estas não são as motivações de um super-vilão.

Ele perde sua namorada porque está fixado com status, clubes, universidades de elite. Ele cria o Facemash para irritar Erica, como uma criança que quebra um vaso em casa para chamar a atenção dos pais. E se ele cria o Facebook para ser conhecido por todos, ele expande o Facebook por Erica. Um jovem liderando uma empresa para jovens, que criam uma empatia com o site porque o raciocínio de Mark, do Facebook e de seu público é absolutamente idêntico: Seja popular, conquiste o mundo, conquiste quem você quer.

Se vários “nerds” se contentam com um lugar atrás de uma tela de computador, Mark Zuckerberg não é um deles. Se ele fosse um cientista, ele só se contentaria com um Nobel. Mas o criador do Facebook é um programador, e apenas receber uma menção de pé de página nunca foi seu estilo. Enquanto alguns espectadores dizem “Como ele permitiu que A Rede Social fosse filmado?”, a resposta é simples: Ele está nas grandes telas, ele está ganhando prêmios, sua história está atingindo multidões. Esse filme deve ser um dos maiores orgulhos do garoto que só queria um lugar nos holofotes. Sua história, recente e extremamente controversa, gerou um grande filme.

“A Rede Social” segue uma fórmula que me torna instantaneamente descrente. Biografia, grande diretor, lançada dias antes do burburinho dos tapetes vermelhos começar a surgir nos ouvidos de todos. É tudo certinho e seguro demais. Mas o roteiro inteligente de Sorkin, a direção perfeita (mesmo que quase invisível em alguns momentos) de Fincher e as atuações brilhantes de seu jovem elenco me converteram, mesmo precisando de duas idas ao cinema para isso. Jesse Eisenberg está magnético como o complexo personagem principal, tão impressionante que nos conquista com um personagem que facilmente se tornaria repulsivo, detestável, e ofusca seus coadjuvantes incríveis, como Andrew Garfield, Justin Timberlake e Armie Hammer (em uma competente interpretação dupla de personalidades completamente diferentes). “A Rede Social” não ganha meu voto para os Oscars como melhor filme, mas merece atenção em todas as categorias, especialmente Melhor Ator e Trilha Sonora.

Muitos andam dizendo por aí que “Scott Pilgrim Vs. O Mundo” é o filme de nossa geração. Esses estão com dificuldade de absorver e abraçar o lado sombrio de seu próprio mundo. “A Rede Social”, com a iluminação fraca de um notebook, a ambição social, a solidão, o humor seco, a ausência de julgamentos, esse sim é o espelho da geração, sem distorções, cristalino, mesmo que sua claridade possa doer nos olhos dos que cruzarem seu ângulo de reflexão. Mark Zuckerberg viu em Sean Parker todos os seus sonhos e ambições. O Cool. O Popular. Mas enquanto o mito de Parker se desfazia perante seus olhos, e levava junto toda a sua vida, suas ilusões, Zuckerberg viu a necessidade de uma redefinição. O que o garoto Zuckerberg quer ser quando crescer? Minutos antes do apagar da tela, descobrimos que a resposta continua a mesma: Ser aceito. Por Erica, pelos clubes, pelo mundo.

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