Quando crianças, recebemos uma dose gigantesca e constante do cinema produzido nos EUA. Começamos com os desenhos da Disney, partimos para os grandes blockbusters de aventura e as comédias, e conhecemos nossos primeiros grandes filmes através de premiações como o Academy Awards. Velhos hábitos são difíceis de mudar, e criamos um pequeno bloqueio em relação ao cinema do resto do mundo. Até mesmo a ausência do som da língua inglesa pode nos incomodar. Taxamos o cinema europeu, oriental, e até mesmo sul-americano como chato, sonolento, pretensioso, incompreensível. Muitas vezes sem nem dar uma chance verdadeira para essas filmografias. Eu também sou filha do cinema americano. Eu também fazia esse julgamento, e quero parar. Então, todo mês, a partir de agora, separo um fim de semana para essa Rehab da língua inglesa. E contarei minhas experiências aqui no TTF, em pequenas críticas. Quero sugestões de vocês, meus amigos cults que adoram o cinema internacional. Coloque dicas de filmes para a próxima Babel TTF nos comentários, e creditarei seu nome e twitter aqui. Vamos agora ao que interessa.
A Partida (Okuribito, Japão, 2008)
Nota: 8,75
Para ler escutando: I’ll follow you into the dark – Death Cab For Cutie
Remake americano destruidor: Um guitarrista perde sua banda e se reencontra em um novo emprego cheio de confusões. Piadas com cadáveres incluídas.
Mini-crítica: Filme japonês sobre morte. Primeira coisa que vem à sua cabeça: Os orientais vêem a morte com outro olhar. Segundo pensamento: Vai ser lento e extremamente deprimente.
O objetivo de A Partida é destruir completamente a idéia que você criou sobre a película e te surpreender. O filme, um sutil retrato de um homem que perde o seu grande sonho e acaba se encontrando no lugar mais improvável de todos, mostra que as visões sobre o fim da vida não variam com culturas, variam com pessoas. Após destruir este mito, através de vários personagens que expressam seus sentimentos enquanto enfrentam o maior símbolo da despedida, o velório, o filme desconstrói o mito do filme oriental contemplativo e faz rir, garanto, mais de uma vez. E mesmo seu final, levemente previsível e um pouquinho piegas, fornece um perfeito desfecho para os dramas do protagonista. O seu desfecho? Uma caixa de lenços.
Há tanto tempo que te amo (Il y a longtemps que Je T’aime, França, 2007)
Nota: 9,25
Para ler escutando: Run - Snow Patrol
Remake americano destruidor: Quer destruir o filme? Substitui a atriz principal. Só isso.
Mini-crítica: “Há tanto tempo que te amo” e sua protagonista são como uma caixa feita de gelo. No início, a frieza é cortante e é quase impossível identificar o que aquelas paredes de transparência difusa ocultam. Mas o calor lentamente derrete aquelas espessas paredes, e aos poucos, os segredos que os olhos de Kristin Scott Thomas escondem se tornam claros. A atriz britânica dá a performance de sua vida em francês. Seus silêncios realmente doem. Mas prepare-se, pois ao final deste grande filme, você estará devastado.
Os Famosos e os Duendes da Morte (Brasil, 2010)
Nota: 9
Para ler escutando: The Sound of Silence – Simon and Garfunkel
Remake americano destruidor: Todo o mistério, que torna o filme tão atraente, seria revelado na primeira cena em uma narração em off dramática e exagerada.
Mini-crítica: “Estar perto não é físico”. A proximidade não é um conceito matemático e não pode ser medida em centímetros, metros e quilômetros. Fantasmas e os sentimentos que estes provocam em nós podem parecer mais próximos do que aquilo que está exatamente do seu lado. A solidão também não é física. Mas ela parece tomar uma forma concreta na pequena e enevoada cidade natal do protagonista de Os Famosos e os Duendes da Morte. Uma cidade tão fechada que exclui inevitavelmente aqueles que nunca a pertenceram. Mas eles nunca saem realmente de lá.
Peço desculpas por ter afirmado tantas vezes que o cinema brasileiro estava improdutivo e estagnado. Esse filme genial, de estrutura européia e roteiro desafiador, merecia a vaga para representar o Brasil na disputa do Oscar. Nos seus primeiros minutos, você pode querer desligar o DVD e desistir daquelas belas imagens incompreensíveis e trilha-sonora folk. Mas não o faça. É tudo parte de algo maior, acredite.
Três ótimos filmes. O primeiro consegui assistir só em DVD mas os outros dois no cinema. Belos filmes, mesmo.
ResponderExcluirSugestão: http://www.imdb.com/title/tt0405094/
ResponderExcluirOi! Primeira vez visitando aqui,e gostei bastante.Bom,vc já viu filme de Truffaut? "Os Imcompreendidos" é lindo! É um filme de 1959,ótimo.
ResponderExcluirTem um argentino,atual,q eu adoro,chamado "As leis de família".Espero q goste tb.=)
bjs=***************
Ana, um dúvida: você tem o costume de baixar filme?
ResponderExcluir.
'Quero sugestões de vocês, meus amigos cults que adoram o cinema internacional.'
Atendendo ao chamado (risos), de primeira indico os filmes do Christophe Honoré: http://screamyell.com.br/site/2010/07/01/a-impossibilidade-do-amor-em-3-cenas/
E dos Irmãos Dardenne: http://www.cineplayers.com/perfil.php?id=12365 /