domingo, 7 de novembro de 2010

Proximidade




Filme: Minhas Mães e meu Pai (The Kids are All Right, 2010)
Nota: 9,25
Para ler escutando: Taller Children - Elizabeth and the Catapult

A arte é uma imitação da vida. Muitos cineastas, produtores e artistas acreditam nessa máxima, e a busca pela fidelidade e realismo no cinema só se intensifica. Mas o avanço da tecnologia, as imagens em alta definição, Imax, o som digital, todas as maravilhas da modernidade só tem afastado os criadores do verdadeiro sentido da imitação da vida. A realidade pede menos imagens tridimensionais, e mais histórias tridimensionais. São as pequenas falhas, hesitações, ambigüidades e dificuldades de cada personagem que cativam o público, que tornam suas interações na tela fascinantes, que determinam a diferença entre um filme grande e um grande filme. E são personagens humanos e inteligentes que fazem de “Minhas mães e meu pai” uma comédia dramática surpreendente.

“Minhas mães e meu pai” é um filme que não julga nem cria uma separação entre mocinhos e vilões. Apenas expõe as fragilidades de cinco personagens. Dessa maneira, você torce pela felicidade de todos os membros dessa família, sem exceções. Por trás da controladora e alcoólatra Nic (Annette Bening), temos alguém que só quer manter sua família unida. Jules (Julianne Moore) pode ser adúltera, mas só trai pois precisa de atenção para suprir suas inseguranças, causadas pelo contraste entre sua vida profissional incerta e a carreira bem sucedida de Nic. E Paul, o doador de esperma, quase causa a destruição do casamento de Nic e Jules, mas exerce uma influência extremamente positiva em seus filhos. Paul funciona como um catalisador, e apenas acelera uma crise que estava fadada a acontecer.

Na abertura do filme, já é possível perceber que o título original, “As crianças estão todas bem”, não reflete a realidade dos adolescentes Joni e Laser. Eles funcionam como espelhos das personalidades de suas respectivas mães biológicas, compartilhando defeitos e conflitos internos. Laser reflete a impulsividade e o sentimento de derrota de Jules, e Joni luta com o perfeccionismo e os altos padrões impostos por Nic.

Não é só a crítica, o público e as premiações que amam personagens complexos e cheios de camadas, esses são os favoritos dos atores também. E o elenco de “Minhas mães e meu pai” dá uma verdadeira aula de interpretação. Annette Bening está magistral, roubando algumas cenas apenas com suas expressões faciais sutis e incisivas. Julianne Moore e Mark Ruffallo também brilham, e Mia Wasikowska se firma como uma das promessas da nova geração de atrizes. Josh Hutcherson é um ator competente, mas ganha o papel mais apagado da película.

O realismo cortante de “Minhas mães e meu pai” não é feito apenas de pontos positivos. A diretora e roteirista Lisa Cholodenko erra a mão e exagera nas cenas de sexo desnecessárias. Mas este é o único erro de Lisa, que criou um filme moderno e inteligente que deve ser lembrado em premiações na categoria Melhor Roteiro Original e, quem sabe, na categoria Melhor Filme.

Qualquer coisa, quando observada de uma distância, parece perfeita. Mas quando aproximamos nosso olhar, detalhes e imperfeições chamam a nossa atenção. O casamento, a família, as aproximações definitivas de pessoas, repletas de detalhes e imperfeições, sempre criam dinâmicas complicadas, que exigem tolerância e compreensão. Quando o zoom fica intenso demais, apenas os pequenos defeitos se tornam nítidos e assumem o foco completo do nosso olhar. É necessário então um afastamento, mesmo que indesejado, para que tantos closes se tornem uma imagem completa novamente.

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