sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Tempos de Guerra





Filme: Harry Potter e as relíquias da morte-Parte I (Harry Potter and the Deathly Hallows pt1, 2010)
Nota: 9,75
Para ler escutando: Afraid of everyone – The National

Se você tem aproximadamente 20 anos, você entende: Somos a geração que cresceu com a série Harry Potter. Não só com a série, mas também com os personagens. Os primeiros anos em Hogwarts refletiam nossos primeiros anos na escola. Os conflitos, a adaptação, o amor maternal. Aí nossos interesses mudaram, os conflitos ficaram mais existenciais e o amor ganhou novas caras, e juntamente conosco, os aprendizes de feiticeros passaram por novas experiências. Mas a geração Harry Potter cresceu muito. E hoje, quando fui caminhando para a minha sétima estréia da série, eu não conseguia encontrar o ânimo de outrora. Quando eu me sentei na enorme fila, no meio de muitos pré-adolescentes em crise, eu me sentia ausente de tudo aquilo. Foi com este espírito que vi o letreiro da Warner Brothers, em meio às nuvens, surgir na minha frente pela sétima vez.

Mas não foi só a idade que pesou sobre meus ombros ao adentrar a sala de cinema. David Yates, há um ano, tinha me decepcionado bastante. Ao adaptar uma grande saga, um cineasta encontra dois caminhos: Agradar ao jovem público que não tem uma ligação emocional com a série, ou recompensar os velhos fãs pela fidelidade. O primeiro caminho sempre leva às grandes bilheterias. Ao status de febre juvenil. E Yates sucumbiu a essas frivolidades. Ignorou grandes momentos do interessante sexto livro. E deixou buracos que eu julgava impossíveis de tapar.

O filme começou. David Yates teve a ousadia de colocar uma cena que não constava nos livros. Na cena (não é um grande spoiler, ok), Hermione, interpretada magistralmente por Emma Watson, perante notícias de assassinatos de “trouxas” e “sangues-ruins”, apaga a memória de seus pais e deixa para trás tudo o que amava. Naquele momento, no meio de gritinhos histéricos de adolescentes que ignoravam o peso daquela ação, eu engoli seco e pensei: “Esse filme é nosso”. A partir daí, tudo foi uma grande jornada recompensadora e fascinante.

De todas as críticas que já escrevi, essa foi a mais fácil de nomear. Tempos de Guerra. Não existe espaço para corujas, aulas de transfiguração ou jogos de quadribol em tempos de guerra. E lentamente Harry Potter deixa de ser uma série sobre um mundo paralelo no qual todos nós queríamos viver para ser uma série sobre o nosso mundo. Paranóia? Propaganda Fascista? Tortura? Seqüestro? Um ministério corrupto? Racismo? E quando eu ouvi alguém dizer no cinema “Eu adoro a Belatriz”, eu pensei novamente: “Esse filme não é para eles. É nosso.”.

Relíquias da Morte (Parte 1) é um filme sobre a guerra, porém não é um filme de ação, então não espere batalhas grandiosas. A ação fica para a segunda parte, que chega aos cinemas em Junho de 2011. Com uma acentuada diminuição de ritmo, o foco do filme se torna o conflito interno provocado pelo conflito externo, em cada personagem. Amizades são testadas, famílias são separadas, laços se estreitam. Com o aumento da complexidade dos personagens, os bons atores da saga mostram seu talento. Emma Watson brilha com uma Hermione que diz mais em momentos de silêncio do que qualquer fala do filme. Rupert Grint surpreende com um Ron Weasley tomado pela revolta, intenso e apaixonado. E Daniel Radcliffe? Continua sendo ofuscado por tudo e todos. Mas não esperávamos nada mais do que isso. E nos seus poucos segundos em cena, Tom Felton dá um olhar tumultuado e conflituoso ao garoto Draco Malfoy.

David Yates, uma fã lhe aplaude de pé nesse instante. O diretor, que nos trouxe um sexto filme que deveria receber o título de Hogwarts School Musical, acha a redenção perfeita. Yates mostra versatilidade, alternando o sombrio e o casual e dirigindo sequências memoráveis, como a invasão ao ministério da magia e a animação que conta a história das Relíquias.

Na última cena da obra, que não revelarei aqui, a inocência da série chega ao fim. Nós crescemos, e a série Harry Potter cresceu conosco. Não vemos os acontecimentos com um olhar infantil e esperançoso mais, e a câmera não as retrata dessa maneira para acompanhar nossas dores de crescimento. Conclusão sobre o filme? Vou dizer de maneira simples: Quando caminhar para o cinema, em uma tarde de julho, para ver o capítulo final, o entusiasmo estará de volta.

2 comentários:

  1. Preciso comentar de novo: "Eu adoro a Belatriz", eu falei pra Lu assim que ela apareceu. Pra mim, é uma das minhas personagens favoritas de livros.

    É incrível como o filme tomou uma outra proporção, e mais incrível pensar que tudo nos envolve de uma maneira tão penetrante que chega a incomodar. De certo modo (ou de todo o modo), a nossa essência transparece nos conflitos das personagens, mais do que nunca.
    De um modo assustador, vc chega a conclusão de que está tão envolvido numa história ficcional que a idéia de um final, machuca.
    Com certeza, não na mesma proporção -devido ao seu olhar de cinéfila- tinha um certo medo do filme ser devastadoramente frustrante, mas logo na primeira cena eu senti que seria o primeiro filme da saga a me conquistaria inteiramente. Dito e feito.
    E não só conquistou, como surpreendeu. Nunca fui fã da Emma, mas é inevitável admitir que ela conseguiu provar que sabe atuar e saberá ser mais que Hermione.
    A cada filme Rupert me fascina mais. A cada filme Rony me apetece mais. Como também, a cada filme tenho certeza de que o Daniel precisa de mais aulas de teatro e de um botox urgentemente!!!
    A tarde foi incrível, mais uma vez eu fui levada prum mundo cercado de complexidade e magia. Mais uma vez eu me dei conta do poder de um bom livro. Mais uma vez eu me apaixonei pela literatura. Mais uma vez eu soube que tenho amigos incríveis, que cresceram comigo, com bruxos e elfos e vão continuar juntos mesmo sem varinhas e portais.

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  2. Até arrepiei aqui lendo sua crítica. Realmente a série é algo muito importante pra quem cresceu com Harry Potter. Até agora, falo por mim, estava totalmente decepcionada e desmotivada com os filmes. Meu entusiasmo também acabou de voltar minha amiga. Estarei alegre e saltitante para assistir ao final ano que vem. Continue escrevendo, pq vc não só tem ótimas opiniões, mas sabe perfeitamente como expressá-las de forma contagiante. Abraço!

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