quinta-feira, 3 de junho de 2010
Causando a ira dos deuses
Filme: “Percy Jackson e o ladrão de raios” (Percy Jackson & the Olympians: The Lightning Thief, 2010)
Nota: 5
Para ler escutando: Heaven Can Wait – Charlotte Gainsbourg feat. Beck
Mitologia. A maneira usada pelos nossos ancestrais para explicar tudo o que parecia inexplicável, cada fenômeno natural e grande acontecimento. E acima de tudo, a mitologia é repleta das histórias mais complexas, fascinantes e ricas que já foram contadas no mundo. Pena que uma história forte pode ser facilmente enfraquecida por um contador que, além de pecar no quesito talento, não conhece a história direito. E isso foi o que encontrei na superprodução “Percy Jackson e o Ladrão de Raios”.
Eu prometo para vocês, leitores, não estou me tornando aquele tipo de pessoa que odeia blockbusters e só assiste oscarizados e filmes europeus. Eu juro, em um tom digno de Scarlett O’Hara, que não ficarei assim nunca. Eu adoro filmes de aventura baseados em livros para o público infanto-juvenil. Sou da geração Harry Potter com muitíssimo orgulho, e também sou fã da série literária e cinematográfica “As crônicas de Nárnia”.Mas “Percy Jackson” testou muito minha paciência.
Primeira coisa: Quer fazer um filme sobre mitologia? Faz o dever de casa primeiro. O Hades não é o Inferno como concebemos. É simplesmente o mundo dos mortos. O verdadeiro abismo é o Tártaro. O cão que guarda o Hades é o Cérbero, com três cabeças, mas imagino que eles escolheram os “Hell Hounds” porque não quiseram parecer demais com Harry Potter. E porque, oh, porque todos os deuses, portais, criaturas e artefatos mitológicos estão localizados nos USA? O portal pro Olimpo , casa dos deuses gregos (detalhe: gregos), fica no topo do Empire State Building? Junto com a Meg Ryan e o King Kong?
Os problemas com o roteiro não ficam na Grécia Antiga. Bem no início do filme (logo, não estou estragando nada), o herdeiro de Poseidon vê sua mãe desaparecer na sua frente nas mãos de um minotauro, muito provavelmente morta, e parece impassível. Ele ainda parece empolgado com a idéia de sua nova vida no acampamento de semi-deuses. Perturbador. Isso sem mencionar todos os discursos em meio às batalhas, afinal, explicações completamente óbvias sobre mitologia não podem esperar o fim de um ataque de hidra.
Os dois capítulos da saga Harry Potter dirigidos por Chris Columbus podem não possuir o arrojo do capítulo de Alfonso Cuarón, o encantamento visual do de Mike Newell ou a seriedade dos de David Yates, mas possuíam o tom necessário para marcar o início da série. Harry era apenas uma criança, e foi com olhos de criança que Columbus abordou a história do menino bruxo. Mas agora, com mais um elenco de apoio fortíssimo e jovens atores iniciantes, o diretor falhou feio. Quando vi a primeira cena do longa-metragem, já percebi que aquilo não ia dar certo. Poseidon precisava de sair como gigante da água em plena New York? Ele não tem forma humana?
Grandes atores decepcionaram em Percy Jackson. Nenhum recebeu muito tempo de cena, mas todos impressionaram nos minutos nos quais estavam presentes (e a impressão não foi boa). Catherine Keener, depois de uma sequência de filmes consistentes, parece inexperiente em meio a todo o drama de sua Sally Jackson, mãe de Percy. Sean Bean causa até mesmo risos em sua primeira aparição como Zeus. Não que este fosse o objetivo. Porém, garanto que nenhuma interpretação aqui é tão decepcionante quanto à de Uma Thurman. Alguém podia proibir a atriz de participar de qualquer filme que não tenha Quentin Tarantino atrás das câmeras? Foi na primeira aparição de sua Medusa que perdi completamente a fé no filme. Pierce Brosnan não cai na mesma armadilha que os colegas de elenco, porém mal aparece.
Se o elenco experiente não cumpriu o que prometeu, o elenco jovem salvou o dia, não é? Não. Logan Lerman não está péssimo como o protagonista, caindo na mesma categoria de Daniel Radcliffe (isso não consta como elogio). Mas acho que tem potencial, se presenteado com um personagem melhor. Já os coadjuvantes (seguindo a linha Harry Potteriana “Garota Prodígio e Garoto Alívio Cômico”) caem na mesma categoria, digamos, da tempestade que Zeus promete armar caso seus raios não sejam devolvidos. Desastres completos. Se eu fosse a ladra de raios, faria questão de mandar alguns naqueles dois, viu. E no filhinho de Hermes.
Se você está esperando um filme digno de deuses, fique longe de “Percy Jackson e o Ladrão de Raios”. Esta obra está longe do Olimpo dos filmes de aventura, e próxima do limbo das Sessões de Sábado da TV Globo. E os deuses, semideuses e heróis ainda aguardam, sob a ameaça de raios e trovões, por um diretor que aceite e seja bem sucedido na tarefa hercúlea de filmar (o genial Hércules da Disney não vale, estou falando em Live Action) a grandiosidade de uma cultura que já foi a verdade absoluta, a mentira condenada pelos homens da ciência, e hoje pode ser vista da maneira correta:Repleta de histórias eternas.
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O filme é realmente terrível, e o fato de o elenco infantil ter algumas décadas de vida dificulta algumas reações. A série de livros é bem mais atraente e explica porque a porta do Olimpo é no Empire States. O diretor pecou, e muito, na concepção desse filme, que tinha potencial(a estória original)para ser uma nova série de sucesso, como Harry Potter, mas foi muito mal aproveitada, utilizando-se de personagens desnecessarios e excluindo outros personagens realmente relevantes para a trama.
ResponderExcluirJá tinha vontade de ler o livro, agora , com seu comentário, minha curiosidade até aumentou...Adaptações de livros que atingem o status de "Febre Adolescente" tem uma tendencia horrorosa pra dar errado, acho que os produtores confiam demais na base de fãs e fazem tudo de qualquer jeito...Harry Potter parece ser a unica franquia que é levada a sério pelos realizadores...
ResponderExcluirObrigada por ler e muito obrigada por comentar!