Tempo de Monstros
Nota: 9,5
Para ler escutando: Hideaway, Karen O and The Kids
Meu professor de literatura do 3ºAno um dia, ao falar sobre o saudosismo que todos nós temos em relação à infância e sobre aquela frase que você provavelmente já usou, “eu era feliz e não sabia”, disse que a época mais infeliz, assustadora e angustiante é a infância, porque as coisas ruins acontecem com você e você não entende nada. E o pior, o mundo adulto cobra da criança que ela compreenda o motivo das mudanças, dos comportamentos dos familiares, dos colegas, uma compreensão que algumas pessoas não conseguem atingir nem na maturidade. No filme “Onde vivem os monstros” de Spike Jonze, um livro infantil que trata de um tema simples como a imaginação se torna uma reflexão sobre os efeitos que os acontecimentos adultos causam na mente de uma criança.
O livro de Maurice Sendak que serviu de base para a inventividade de Jonze conta a história de Max, um menino que faz bagunça em casa, é posto de castigo por sua mãe, e no castigo, se imagina como rei de uma terra distante, cheia de monstros, na qual ele pode fazer o que quiser. Mas o diretor criou um personagem Max, conflituoso e solitário, que vê a sua família se afastando dele (sua irmã entra na adolescência, sua mãe está com problemas no trabalho e namorado novo), e essa alteração traz vida ao livro. Em um dos filmes mais conhecidos de Spike Jonze, os personagens descobrem uma maneira de entrar na mente de outra pessoa (Quero ser John Malkovich) e é numa jornada como esta que todos somos inseridos em “Onde vivem os monstros”. Através da imaginação de Max, os aspectos de sua personalidade são divididos em diferentes monstros, com maior destaque para Carol, retrato de sua impulsividade e revolta perante a solidão e confusão que sente. Os acontecimentos na terra dos monstros são apenas um reflexo dos acontecimentos da casa de Max, no qual a monstro KW representa sua mãe, que se afasta do bando por que encontrou novos amigos (no caso da mãe, o namorado). Os amigos de KW falam em uma língua que Max não consegue entender, deixando ainda mais clara a falta de entendimento entre o mundo adulto e infantil.
A trilha sonora é um caso à parte. É raro encontrar uma trilha que combina tanto com o ritmo e visual de um filme, e essa trilha de Karen O, vocalista do Yeah Yeah Yeah’s e ex-namorada do diretor Jonze é perfeita, lúdica e inventiva. O visual do filme é tão bonito que dá vontade de congelar a imagem e fazer um quadro pra pendurar na sala.
Como na tagline do filme, “There's one in all of us”. Existe uma criança, assustada e imaginativa, em cada um de nós.
É ana, boa forma de ver o filme. Nunca tinha pensado nisso, mas eu qria congelar vários momentos do filme tbm, pra decorar meu quarto. hehehe
ResponderExcluiroutro ótimo texto! score!