Filme: Guerra ao terror (The hurt locker, 2008)
Nota: 8
Para ler escutando: Percussion Gun, White Rabbits
A fragilidade pode se esconder atrás das fachadas mais fortes, um prédio ameaçado por uma bomba, um soldado extremamente corajoso ou uma diretora talentosa ao se deparar com um roteiro de tema difícil e polêmico. Pode-se dizer então que “Guerra ao terror”, de Kathryn Bigelow, é um filme sobre fragilidade, ou, praticamente um sinônimo, humanidade.
Esse filme, que já possui uma indicação quase certa pro Oscar 2009, saiu direto em DVD no Brasil e não recebeu nenhuma atenção da mídia ou campanha publicitária decente, pois seu elenco não possui estrelas (apenas participações-relâmpago de Ralph Fiennes, David Morse e Guy Pearce) e a diretora Bigelow é menos conhecida pelos seus trabalhos “K19-The Widowmaker” e “Caçadores de emoção” do que como ex-mulher do diretor mais bem-sucedido do ano, James Cameron. Mas, já na primeira cena de “Guerra ao terror” é possível chegar à conclusão de que a diretora tem um talento enorme que sua filmografia anterior não revelava. Ela cria um ambiente de tensão permanente, no qual em cada varanda, em cada beco, pode existir um inimigo. O filme segue um estilo próprio, saindo completamente dos clichês presentes em filmes que retratam guerras antigas, uma mudança que o torna, na minha opinião, o primeiro filme a representar bem o novo ritmo da guerra moderna. Outro destaque do filme é Jeremy Renner, que merece uma indicação (no mínimo) ao Oscar pela sua interpretação do Sargento Will James. O desconhecido ator constrói um personagem humano, que parece não ter nenhum medo da sua própria morte e gostar de ser um desativador de bombas, mas se mostra absurdamente sensível quando se trata da vida do outro. É um personagem interessante e complexo, tipo raro em filmes de guerra que tendem a cair na caricatura do bom soldado,patriota, corajoso e durão. James está lá para salvar vidas, não pelo seu país.
Porém, nem tudo nesse filme pode ser elogiado. A linha tênue que separa esse filme de se tornar uma propaganda militar americana algumas vezes é ultrapassada, e no meio de bons soldados americanos, sensíveis e despreparados, mas que parecem ver a guerra como uma fonte de adrenalina (o vício na adrenalina parece permear todos os filmes de Bigelow), a micro-aparição de David Morse como um coronel cruel e frio parece estar lá apenas para acalmar os que odeiam os EUA. É um filme que ignora o fator político de um fato intensamente político. Mas a culpa não é de Kathryn, que merece mais a estatueta de melhor direção do que seu ex-marido e sua super-produção Avatar. A diretora, que com um roteiro de temas e abordagem tão complicados, estava pisando em campo minado, mas conseguiu fazer de “Guerra ao terror” um filme que vai do filme de ação, tenso e emocionante, à um drama sobre a condição do soldado e a maneira com a qual cada um lida com a guerra. Para alguns como o personagem Eldridge, vêem a guerra como sinônimo de morte, e nela um erro pode ser fatal, para você ou para seu colega. Já para outros, como o Sgt. James, a guerra é um vício e a vida cotidiana não consegue suprir a necessidade de adrenalina. E para esses, a única solução é conseguir mais uma dose dessa droga que é a guerra.
Agora eu posso dizer q realmente "peguei" o feeling do filme. Percebi tudo o que você falou! Another score, principalmente pelo título...
ResponderExcluir