domingo, 8 de julho de 2012

Shortcuts TTF #1

Mais uma etapa no Through The Frames, mais uma coluna sendo inaugurada. O blog tira a poeira da tesoura que corta a velha fita vermelha e abre mais um capítulo em sua história. Com o tempo, fui deixando de lado aquilo que eu mais gosto: as críticas. Para corrigir esse verdadeiro crime, sem ignorar a disponibilidade de tempo, que foi da duração de Berlin Alexanderplatz para a duração de um teaser trailer em minha vida, inauguro aqui a Shortcuts (uns podem pensar em atalhos, enquanto outros pensam em cortes rápidos e os mais fanáticos direcionarão suas memórias para as pequenas históriasde Altman).

A coluna funcionará assim: verei três filmes no cinema. Assim que os créditos finais do terceiro assistido rolarem pela tela, a Shortcuts entra em ação como o resumo dessa vida cinéfila. A estrutura é a mesma das críticas tradicionais do velho TTF, mas em versão mais curta, sucinta, resumida. Vamos começar então?



Para Roma com Amor (To Rome with Love/Woody Allen, 2012)

Nota: 6,5
Para ler escutando: Dean Martin - That's Amore

Para Roma com Amor começou sua trajetória como filme com um título muito mais apropriado, reverenciando um material classicamente italiano, episódico e previsível, o Decamerão. A referência no título pode até ter dado espaço a um nome genérico, que mais parece pertencer a uma comédia romântica de Garry Marshall lançada diretamente em DVD, mas o Decamerão ainda dá o tom em cada momento do novo filme de Woody Allen, mais um ponto baixo em sua carreira que mais parece um Eletrocardiograma saudável.

O filme baseia sua estrutura em quatro histórias-de-uma-piada-só que dariam certo como quadros em um excelente SNL, mas como a espinha dorsal de um filme falham miseravelmente, caindo no vórtex da repetição e da auto-caricatura que marca os piores filmes de Allen (e curiosamente, também marca os seus melhores). Roberto Benigni, uma escolha duvidosa de casting, ganha o único segmento com uma reflexão (mesmo que batida) sobre a fugacidade da fama dos reality shows, e não atrapalha o resultado. O segmento que acompanha o próprio Woody, Alison Pill (uma nova parceria coadjuvante de Woody, talvez sua nova Dianne Wiest?) e o cantor de ópera é interessante, mas não salva sozinho o resultado aloprado da película, enquanto os segmentos que acompanham o jovem casal italiano (com Alessandro Tiberi assustadoramente parecido com Robert De Niro em seus primeiros filmes) e o triângulo entre Mark Zuckerberg, ops, Jesse Eisenberg, Greta Gerwig e Ellen Page arrastando o desempenho da obra para o fundo como chumbo.

Depois de uma obra de sensbilidade ímpar como Meia-noite em Paris, Woody falhou no que faz de melhor: o roteiro, e escolheu a alta produtividade em detrimento da alta qualidade. Uma pena. Pelo menos, há o conforto da certeza de que o próximo será melhor, nessa carreira montanha-russa.



Sombras Da Noite (Dark Shadows/Tim Burton, 2012)

Nota: 6
Para ler escutando: Steve Miller Band (Fat Boy Slim version) - The Joker

O maior engano que alguém pode cometer enquanto analisa Sombras da Noite, nova parceria entre Tim Burton e Johnny Depp, é pensar por um minuto que Tim e Johnny levam todas essas suas incursões à sério. E Sombras da Noite marca talvez o ponto menos sério de toda a filmografia da dupla, um aglomerado de piadas óbvias sobre os anos 70, bom elenco (porém usado precariamente) e um visual absolutamente Burtoniano. A cena que ignora as leis da gravidade entre Eva Green e Johnny Depp está entre um dos melhores momentos da estética de Burton como diretor.

Sombras da Noite viaja sobre a linha tênue entre o despretensioso e o apenas kitsch, e se sua primeira metade, apesar de clichê, cai na primeira categoria, seu final exagerado, centrado em uma reviravolta desnecessária (e mal conduzida por Burton), desanda a diversão leve de "Sessão da Tarde dos anos 90" e entra em território trash. Sombras da Noite não é um bom filme, e é mais uma prova de que nem tudo são flores na parceria Burton/Depp, cada vez mais caricata. Mas no dia certo, com pipoca nas mãos e ouvido atento para a melhor trilha sonora do primeiro semestre de 2012, é difícil resistir ao passeio setentista com os Excêntricos Collins.


O espetacular homem-aranha (The Amazing Spider-man/Marc Webb, 2012)

Nota: 8,5
Para ler escutando: The Killers - This River is Wild

Na parede do quarto de Peter Parker, um cartaz chama a atenção de qualquer cinéfilo. Marc Webb teve a sabedoria, e o senso afinado de colocar um pôster do clássico de Hitchcock, Janela Indiscreta. Muitos acharão que isso apenas é um elemento de cena cool. Mas não. É algo que reafirma aquilo que está inscrito nos genes dos dois filmes: o conceito do cara normal colocado em uma situação extraordinária. Webb fez, em The Amazing Spider-Man, o que Sam Raimi falhou em três chances. Ele captou a essência de Peter Parker. O nerd que nunca deixa de ser um adolescente, John Hughesiano, com seus momentos de humor, com seus tropeços humanos, motivações humanas, e o herói que talvez, dentre todo o canon da Marvel e D.C., mais causa uma resposta emocional, uma torcida quase que maternal, paternal ou fraternal, no leitor/espectador.

Se uma biografia de uma banda ou músico deve seguir o compasso de seu estilo musical, acompanhar sua atmosfera como Control fez com Joy Division ou Sid & Nancy fez com o Sex Pistols, uma boa adaptação de HQs deve assimilar o espírito contido em cada quadro. É exatamente isso que Webb conseguiu, e mesmo com uma alteração na história (Lagarto assassinando Capt. Stacy), o diretor fez um filme que faz jus ao título de espetacular, arrancando lágrimas de qualquer um em seu final, e terminando com uma cena que ilude os menos informados que vêem uma porta sendo aberta para o romance, enquanto os fãs percebem ali os primeiros fios (ou teias) que abrem a porta para uma sequel trágica.

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