domingo, 27 de maio de 2012
Cannes 2012: palpites para a festa dos "Auteurs"
A foto acima é suficiente para definir a minha paixão por um certo festival que, ano após ano, mostra que em uma cidade paradisíaca, com praias impecáveis e hotéis luxuosos, as verdadeiras atrações turísticas estão nas janelas que ela empresta para arte do resto do mundo, ou mesmo no ato de caminhar sobre as pegadas dos maiores gênios da história do cinema, esperando um dia que as pegadas no tapete vermelho sejam suas. O Festival de Cannes.
Quantos grandes filmes já tiveram suas estreias na Croisette? Quantos cineastas históricos definiram ali seus destinos? Quantas estrelas deram seus primeiros passos nos calçadões do pequeno grande festival mais celebrado do cinema?
Se o Oscar é um novo álbum de Bruce Springsteen, uma reafirmação da qualidade de tudo que é tradicional, com o bônus de crítica social e mensagens reconfortantes, Cannes é um novo disco do Radiohead, uma viagem por vezes desconfortável, que divide o mundo entre aplausos e vaias e instiga a criatividade de futuros "auteurs" que prefeririam o belo estojo da Palma de Ouro em sua estante do que qualquer outro troféu.
Prever os resultados de Cannes não é fácil. Enquanto os grandes prêmios dos EUA ou UK possuem uma lógica interna permanente, inerente à tal de "academia", e vários indicadores como os prêmios das guilds e crítica, a lógica interna de Cannes muda a cada ano, a cada novo júri. A única constante, que retorna ano após ano? O respeito pela "sétima arte" que justifica a palavra "arte" em tamanho título de nobreza.
Melhor roteiro - Wes Anderson (Moonrise Kingdom) O consenso geral é simples: Wes Anderson fez o seu filme mais completo desde Rushmore em Moonrise Kingdom. E parte dos elogios está direcionada ao roteiro, cheio de personagens humanos e bem construídos.
Melhor direção - Alain Resnais (You Ain’t Seen Nothin’ Yet!) Alguns críticos já antecipam uma vitória "final" para o auteur de idade avançada Alain Resnais, que lançou em 2012 o que deve ser seu "A Prairie Home Companion". Uma homenagem final para um mito que nos presenteou com a obra prima Hiroshima Mon Amour e nunca ganhou um prêmio de "mise-en-scene" na Croisette? Nada mais justo.
Melhor ator - Mads Mikkelsen (The Hunt) Um homem encarando uma acusação de pedofilia é o personagem principal do tão elogiado "retorno à velha forma" do diretor Thomas Vintenberg, e o escolhido para dar vida a esse protagonista conflituoso é o ator Mads Mikkelsen, que pelo que indica a crítica, fez um ótimo trabalho. O prêmio pode ir ainda para o monstro sagrado Trintignant, por Amour, mas como o filme já levará outro prêmio na noite francesa...
Melhor atriz - Marion Cotillard (Rust and Bone) Um prêmio francês para a mais importante atriz francesa a despontar nos últimos anos. Cannes fica perto de casa ao premiar Marion por sua performance brutal em Rust and Bone, novo filme de Jacques Audiard (já viu "O Profeta"? Não? Assista agora) que dividiu opiniões no festival.
Jury Prize - Cosmopolis (David Cronenberg) Sim, dividiu opiniões. Sim, possui em seu elenco um ator odiado por muitos. Mas a nova obra de Cronenberg tem um fator político-filosófico que deve agradar Nanni Moretti e seus companheiros de júri, e representa um retorno de um dos diretores favoritos do festival.
Grand Prix - Holy Motors (Leos Carax) Ousado demais para um jurí tão artisticamente convencional como o liderado por Nanni Moretti e composto por Alexander Payne, Andrea Arnold, Ewan McGregor e Diane Kruger (temos um Jean-Paul Gaultier como a exceção que prova a regra), mas marcante demais para ser esquecido, a obra psicodélica de Leos Carax leva o famoso prêmio de "segundo lugar".
Palme D'Or - Amour (Michael Haneke) Sua segunda palma de ouro? Com apenas 3 anos de diferença? Haneke pode até não ter merecido, de acordo com o consenso da crítica, a vitória em 2009 por A Fita Branca, mas parece ter encontrado o tom com seu filme aparentemente devastador sobre a verdadeira natureza do amor, na velhice. Uma escolha mais convencional em um ano de um júri mais comedido.
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