domingo, 18 de dezembro de 2011

TTF Awards: melhores álbuns de 2011

Quase um ano separa o dia de hoje da última vez em que abri a página do Blogger. Era a noite do Oscar. E sentada aqui, ouvindo Decemberists (exatamente o mesmo álbum que eu ouvia durante a minha última postagem no TTF), parece que poucos instantes se passaram. Mas esses poucos instantes renderam bons filmes (mas o ano ainda se configura como um ano fraco) e bons álbuns. Vinte desses álbuns merecem uma atenção especial, por isso, estou aqui de volta ao bom e velho Through The Frames para compartilhar minha modesta lista de final de ano.

Quero avisar também que esse não é um post único para um pseudo-revival do blog. Depois de um ano agitado, no qual inúmeras ideias de críticas de filme ficaram apenas no plano das ideias e nunca ganharam a tela do PC, o blog está de volta, de verdade. Ou vocês achavam que eu deixaria o universo em paz em plena temporada de premiações em Hollywood?

Então, vamos à lista. 2011 foi um ano interessante. Nenhum lançamento supera a dupla que encabeçava a lista do ano passado (The Suburbs e High Violet) mas no volume total de bons discos, 2011 dá um banho em seu antecessor.

Confira a lista, curta, comente, critique, utilize de guia de presentes de natal para os amigos, ou para os inimigos...e até a próxima :D.



20- My Morning Jacket - Circuital

Não devíamos nos esquecer com tanta frequência do My Morning Jacket. Seus álbuns não causam comoção generalizada através da web, seu nome nunca é lembrado quando tecemos line-ups falsos porém esperados de festivais... Mas o grupo de Jim James não é apenas o eleito por publicações como uma das melhores bandas ao vivo da atualidade, é o responsável por um dos álbuns mais inspiradores de 2011.

My Morning Jacket - Holdin' on to black metal



19- Destroyer - Kaputt
Quando ouvi pela primeira vez Kaputt, faixa-título do novo álbum do Destroyer, meus ouvidos rejeitaram instantanemente aquele clima soft-rock "você acaba de sintonizar na Antena 1" da faixa. Os saxofones. Os vocais sussurados. Quase um ano após esse incidente, eis que resolvo conferir enfim toda a obra de Dan Bejar e... uau. Destaque para Chinatown, Blue Eyes e Savage Night at the Opera, o trio que me convenceu do poder de Kaputt.

Destroyer - Savage Night At The Opera



18- Megafaun - Megafaun
A paz na forma de disco. Não há stress que resista ou insônia que prevaleça perante Real Slow, faixa que abre esse disco. O Megafaun fez um álbum excelente em 2011, o tal ano do folk, que passou despercebido por tudo e todos. Um disco versátil, que flerta com o pop radiofônico em Second Friend e Everything e com um quase-dubstep em These Words. Uma fusão de Wilco e Avett Brothers, feita no porão de Justin Vernon.

Megafaun - Real Slow



17- PJ Harvey - Let England Shake

Em Let England Shake, existem dois diferentes álbuns. Um é aquele que você ouve sem muita atenção. É um bom álbum, com melodias intrigantes, mais um bom trabalho sonoro de PJ Harvey. O outro, é o que você percebe ao reparar em cada palavra dita por Polly Jean em seu estudo em 12 partes sobre a guerra e seus efeitos no consciente coletivo de um país. Esse sim devasta; e conquista uma vaga em qualquer lista que se preze.

PJ Harvey - The Words that Maketh Murder



16- The Rural Alberta Advantage - Departing

A transição de um álbum de estreia com o título de Hometowns para um com o nome Departing possui um valor simbólico muito grande. A relação de amor e ódio que permeava a excelente estreia da Rural Alberta Advantage (infelizmente desconhecida pelo grande público -ou até mesmo pelo pequeno público indie-), seja em um relacionamento, seja pela vida do interior canadense, se transformou em saudade e um desejo de se agarrar a cada detalhe da vida deixada no retrovisor, em faixas como Two Lovers, North Star e Tornado '87.
The Rural Alberta Advantage - North Star



15- Feist - Metals

Feist: a única que consegue equilibrar, em seu som, a sofisticação de Meryl Streep em O Diabo Veste Prada e a alegria pop desmedida de Meryl Streep em Mamma Mia (pesquisas indicam que 80% dos meus amigos cinéfilos acabam de fechar a janela do site após essa comparação. Mil perdões.). Essa não é a comparação mais ortodoxa já feita, mas descreve bem o trabalho da genial canadense. Continuando o curioso paralelo, em Metals, Feist priorizou a finesse adulta, deixou o pop animado de lado, e criou uma coleção de canções que vai do Jazz ao Art-rock. Metais nobres são assim mesmo: resistentes à oxidação do tempo, maleáveis em medida suficiente para transitar entre gêneros diferentes, e difíceis de encontrar na superfície.

Feist - How come you never go there


14- Laura Marling - A Creature I Don't Know

Ah, os efeitos de ouvir uma obra-prima composta por alguém com a mesma data de nascimento marcada na carteira de identidade que você. Não é fácil. Tudo que podemos fazer é reconhecer o brilhantismo de Laura Marling, que se supera a cada lançamento, e que com um pacote que incluia futuros clássicos do folk como Sophia, The Beast, Salinas e Night after Night, me deu a chance de me redimir pela ausência de I Speak Because I Can na lista de 2010.

Laura Marling - The Muse


13- Florence + The Machine - Ceremonials

É fácil odiar Florence Welch. Especialmente pois em um mundo no qual somos forçados a conviver com Ke$has e Rihannas em palcos principais do Rock in Rio, o pop grandioso e de fácil absorção é arquivado instantaneamente na pasta "Não, por favor". Mas Florence não tem outra escolha senão ser grande: é para canções com refrões épicos que sua voz foi feita, e é pra hinos escapistas que seu estilo existe. E é cheio desses momentos que chega Ceremonials, um disco que ousa ser ainda maior, e ainda melhor que Lungs.

Florence + The Machine - Shake it out


12- Bright Eyes - The People's Key

É difícil superar a definição de Conor Oberst para seu próprio The People's Key. "Nós estamos cansados do Americana, de raiz, seja lá qual for esse som. Pessoas dizem country mas eu nunca achei que fossemos country de verdade. Mas seja lá o que for esse elemento ou essa estética, está gasta pra mim. Então nós queríamos que fosse roqueiro,e na falta de um termo melhor, contemporâneo, ou moderno". Mas não é apenas um disco de rock, é um disco que mistura rock, rastafári, teorias e narrações, ora de maneira quase eletrônica, em Shell games, ora abraçando o lado deprê do Bright Eyes, nosso velho conhecido, na lindíssima Ladder Song.

Bright Eyes - Ladder Song


11- The Black Keys - El Camino

Antes do rock ser alvo de experimentações e mudanças drásticas, ele tinha um propósito bem definido. Essa adaptação festiva do blues era uma arma irresistível de diversão. Os tempos mudaram. Mas o Black Keys está aí para não deixar que o vagão do Rock divertido, dançante e pesado freie de vez. El Camino não é a salvação do rock (pois ele não precisa e nunca precisou de missão de resgate nenhuma) mas é a salvação de qualquer fim de semana dos próximos anos.

The Black Keys - Run Right Back


10- The Horrible Crowes - Elsie

Brian Fallon: quatro discos, quatro presenças nas minhas listas de final de ano. Chame isso de parcialidade, eu chamo de talento absurdo. Em 2011 Fallon só não superou a obra-prima The '59 Sound, com o filme-noir-em-forma-de-álbum Elsie, gravado com o projeto estreante The Horrible Crowes. Elsie é um disco sangrento, soturno, mas estranhamente delicado, perdido em algum lugar entre o punk e o post-punk.

The Horrible Crowes - Ladykiller


9- R.E.M. - Collapse into now

A vida realmente nos golpeou nessa. É até difícil comentar o fim de uma das bandas mais importantes na minha formação musical e na minha vida. Collapse into now é o ato final de uma peça que nos trouxe alguns dos momentos mais impressionantes, significativos, da história do rock, e faz por merecer essa importante missão de encerrar a brilhante carreira do R.E.M.. Mas entre Überlins, Oh My Hearts, Blues, está a crueldade de Michael Stipe e cia., que ao provar que a criatividade continua em alta, gera aquela pergunta chata na nossa cabeça: como viveremos sem esse tal de R.E.M.?

R.E.M. - Oh My Heart



8- Foo Fighters - Wasting Light

Em um ano com tantos fins trágicos de bandas (e algumas que se aproximam de fins parecidos), poucas coisas são tão agradáveis do que ver cinco amigos que ainda se divertem com cada minuto de sua profissão, mesmo após inúmeros tropeços e tragédias, bem retratados no documentário Back and Forth. E com Wasting Light, nós temos a chance de compartilhar toda essa diversão com eles. Alguns dizem que Wasting Light é o melhor álbum do Foo Fighters desde The Colour and the Shape. Acho isso uma pequena injustiça com There's Nothing Left to Lose. Mas o "retorno à velha forma" do Foo Fighters é inegável, e Wasting Light é formado por inúmeras pequenos clássicos, e parece mais pessoal, cru, do que qualquer coisa já feita pelo grupo.

Lá vai nosso herói de novo...Dave Grohl.

Foo Fighters e Bob Mould - Dear Rosemary


7- The Kills - Blood Pressures

Tem tanta energia contida no som que sai da guitarra de Jamie Hince que deveriam considerar Blood Pressures como um possível combustível alternativo. Blood Pressures é o álbum mais completo, coeso, do The Kills, e isso se reflete na difícil missão de se decidir por uma música favorita ou até mesmo um pequeno grupo de faixas que se destacam na obra. Talvez um empate entre a mais Kills de suas faixas, Heart is a Beating Drum, e o seu momento mais ousado, a balada The Last Goodbye.

The Kills - Heart is a beating drum


6- Adele - 21

Adele é oficialmente a "melhor amiga" de todo um planeta, uma missão nada fácil, afinal, ela apenas possui dois ombros para consolar a dor de cotovelo de aproximadamente 6.982 bilhões de pessoas nesse momento. Mas a amizade é uma via de mão dupla, e o mundo também possui 6.982 bilhões de pessoas que se preocupam com a jovem inglesa, se emocionam com cada apresentação de Someone Like You na qual Adele não contém o choro. Por outro lado? O ex de Adele conquistou 6.982 bilhões de inimigos. Talvez essa fosse a vingança planejada descrita em Rolling in the deep.

Adele - Rolling in the deep


5- Fleet Foxes - Helplessness Blues

Um conselho de amiga: compre o cd Helplessness Blues. Essa pérola folk dos Fleet Foxes não é apenas aquele cd que você quer no HD: é o tipo de disco melhor apreciado com o encarte precioso em mãos. Tudo na embalagem de Helplessness Blues remete ao tempo dos vinis, mas nada mais natural: afinal sua sonoridade também remete ao mesmo período.

Fleet Foxes - Bedouin Dress


4- Wilco - The Whole Love

O que faz de The Whole Love um álbum tão difícil de descrever, e especialmente, de escrever sobre? Talvez a culpa caia nos ombros do Wilco, que não falha, que insiste em manter uma carreira completamente impecável. Ou talvez seja toda a variedade do álbum, que pula de gênero em gênero e emula de Radiohead a Ryan Adams...sem deixar, hora nenhuma, de ser Wilco. Ou talvez, se eu falasse menos do Wilco no meu dia a dia, as palavras viriam com mais facilidade.

E para os que insistem em comparar todo álbum que os pobres norte-americanos lançam com o Yankee Hotel Foxtrot...isso é quase como comparar cada ganhador do Nobel de física com Albert Einstein. Afinal, 99,999% dos discos dos últimos 15 anos são piores que o Yankee Hotel Foxtrot (vocês sabem qual é a exceção à regra se me conhecem de alguma maneira).

Wilco - One Sunday Morning


3- The Decemberists - The King is Dead

Se essa lista levasse em conta como principal critério o nº de reproduções, The King is Dead levava o grande prêmio. Um disco que envelhece como vinho, e me acompanhou durante todo o ano, sem sinais de cansaço. Sou tão fascinada pela habilidade de Colin Meloy com as palavras que ouço sua música como uma criança que escuta um contador de histórias (e tive a chance de fazer algo próximo disso ao ler os primeiros capítulos de Wildwood, livro de Meloy). Como se um The King is Dead não fosse suficiente para agradar aos fãs, eles ainda retomaram o lado mais obscuro e literário com o ep Long Live The King, com todos seus funerais e sonetos de Dante Alighieri. Levantem suas taças para a mudança das estações.

The Decemberists - Don't Carry it All



2- St. Vincent - Strange Mercy

Ao desenvolver seu projeto solo, Annie Clark, guitarrista do Polyphonic Spree, escolheu adotar o nome de um hospital descrito pelo poeta britânico Dylan Thomas como "o lugar no qual a poesia chega para morrer". Dessa maneira, desde o batismo, uma identidade já estava formada: St. Vincent, sem nunca abandonar o lirismo e a melodia, não produz músicas "fáceis de digerir".

Strange Mercy é um álbum tão sufocante quanto sua capa revela, sem perder a veia pop. Enquanto Annie confessa que já "contou mentiras inteiras com um meio sorriso" e declara que não quer mais ser a Cheerleader de ninguém, ela transforma suas composições, catárticas como um diário, em contos absurdamente bem escritos sobre todas as crises possíveis: a existencial, a econômica... Li isso em algum lugar e resume bem: se a sociedade diz que Annie Clark não pode gritar, ela o faz com a guitarra, enquanto sua voz permanece imperturbável. E isso é o suficiente.

St. Vincent - Cheerleader


1- Bon Iver - Bon Iver

É possível escutar um álbum e não o ouvir? Sim. Eu poderia descrever aqui os motivos técnicos pelos quais Justino Vernão merece mais do que nunca essa posição de honra em minha lista, mas prefiro contar uma história.

No meu primeiro contato com o álbum Bon Iver, meus ouvidos, que aguardavam mais uma série de Skinny Loves ou Creature Fears, estranharam todo aquele verniz soft-rock. Deixei o disco de lado por alguns dias, até que o coloquei no MP3 Player, ao preparar uma playlist para minha viagem até o show de Paul McCartney no Rio.

Então foi em um ônibus, que cruzava a serra em uma madrugada, que eu realmente percebi cada nuance de Bon Iver, o álbum. Um disco feito para ser apreciado naquele frio que mesmo com três casacos, ainda quase congelava a ponta de meu nariz. Feito para ser conferido no silêncio total, enquanto todos os outros passageiros dormiam e a insônia me mantinha ali, com os ouvidos atentos aos fones e o olhar perdido em uma janela escura, atravessada pelo contorno das montanhas (gastei a poesia agora hein).

E aí que chega a resposta para a nossa pergunta: é sim, possível escutar um álbum e não o absorver completamente. Mas com as condições certas de luz, temperatura e estado de espírito, um novo disco se revela entre a neblina daquele que você havia escutado anteriormente. Holocene, Perth, Calgary, cada momento que parecia tão sutilmente construído, se agiganta. E o disco provoca uma resposta emocional intensa, não inserida por um estilo confessional de escrita, ou pela pompa instrumental... apenas pelo poder da música.

Bon Iver - Calgary

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