Fale o que quiser dos discos lançados em 2011, mas uma coisa é certa: o ano foi repleto de excelentes faixas avulsas. A lista de melhores faixas do ano, para mim, exigiu um trabalho quase que torturante de auto-edição. Por isso, deixo aqui na introdução quase que uma lista paralela. As minhas menções honrosas vão para as faixas que não entraram na lista por milésimos - High Hawk Season, do Mountain Goats, American Goldwing, do Blitzen Trapper, Yer Spring, do Hey Rosetta, Midnight City, do M83, The Look, do Metronomy, The Wilhelm Scream, de James Blake, Michigan, de The Milk Carton Kids, Circuital do My Morning Jacket, Ten-twenty-ten do Generationals, Wake and be fine do Okkervil River. Ufa, acabaram as menções.
Quase todas as listas de melhores faixas da blogosfera incluem apenas um pequeno player com as respectivas músicas em versão de estúdio. Mas Faustão já diria (e eu nunca diria que um dia citaria Faustão em um post): quem sabe, faz ao vivo. E esse conjunto de artistas, mestres em seus ofícios, merecem um reconhecimento especial ao talento que possuem para apresentar suas obras-primas perante o público. Música não é uma atividade restrita aos fones e às caixas de som do PC. É ao vivo que uma faixa mostra seu verdadeiro poder. Então, enquanto esses grupos não resolvem percorrer o Brasil com seus shows, aí está uma pequena coleção de vídeos, ao vivo e a cores, das melhores músicas com as quais 2011 nos presenteou.
20- Thurston Moore - Benediction
Demolished Thoughts perde sua força em sua uniformidade. Mas quando a fórmula acústica de Thurston Moore funciona perfeitamente, o resultado é Benediction, uma das faixas de beleza mais sutil em 2011.
19- Manchester Orchestra - Virgin
Catarse completa. Essa é a proposta de Simple Math, álbum conceito da Manchester Orchestra lançado em 2011, e trabalho completamente confessional de Andy Hull. Um disco impressionante em toda a sua tracklist, mas é Virgin que assombra pelos cantos e se torna monstruosa, em um bom sentido, ao vivo.
18- Laura Marling - Sophia
É difícil decidir entre Sophia e The Beast na hora de escolher o grande destaque do excelente A Creature I Don't Know. É uma questão constante de estado de espírito. Então, tudo o que posso dizer é que hoje, a vitória vai para o dedilhar rápido dos violões e mandolins de Sophia.
17- The Rural Alberta Advantage - Tornado '87
Uma faixa que equilibra a energia de um Tornado com a tristeza que a devastação causada pelo mesmo traz só poderia sair da voz de Nils Edenhoff, o novo Jeff Mangum, e a bateria frenética de Paul Banwatt.
16- Florence + The Machine - No Light No Light
Quando ouvi Ceremonials pela primeira vez, No Light No Light foi ofuscada por Shake it Out, What the water gave me e até Never let me go. Mas aí nosso amigo Jools Holland convocou Florence Welch para o seu programa, e o que ela fez foi mostrar como No Light No Light não é apenas a melhor música do seu novo álbum: é a sua melhor música.
15- Wild Flag - Romance
A música mais divertida de 2011 é uma declaração de amor... para a música, e seu poder de causar essa diversão e euforia que curiosamente, Romance encarna tão bem. É quase Inception. Um hino que saiu das guitarras de quatro veteranas. Se você ainda não for convencido do poder do simples rock'n'roll no trecho de Janet Weiss em Romance, pode desistir.
14- The Antlers - Every Night My Teeth Are Falling Out
Depois de um soco no estômago como o álbum Hospice, um dos melhores de 2009, o The Antlers possuia grandes expectativas nas costas. Burst Apart não chega à categoria de decepção, mas brilha em poucas músicas...mas quando brilha, é uma coisa como Every Night My Teeth Are Falling Out que nasce.
13- Bright Eyes - Shell Games
Conor Oberst não é apenas o nosso especialista em fundir folk, rock e até o tal do emo para fazer qualquer um chorar. Ele também sabe escrever uma das melhores músicas pop do ano, a peça símbolo da mudança pela qual o Bright Eyes passou no ótimo The People's Key, Shell Games. Everyone, on the count of three, all togheter now...
12- TV on the Radio - Will Do
E quando uma música muda sua opinião sobre uma banda? Eu não curtia TV On The Radio, especialmente pois meu primeiro contato com a banda foi com Dancing Choose, música de Dear Science que meus ouvidos continuam não aceitando. Mas ouvir Will Do, com sua suavidade e a belíssima voz de Tunde Adebimpe, virou o jogo.
11- Wye Oak - Civilian
Só preciso dizer que a primeira vez que ouvi essa faixa nos fones de ouvido, foi o momento em que a TV mostrou as primeiras imagens da Tsunami japonesa. E que a onda avançou exatamente no momento em que a música ganha força. Devastador. A faixa mais underrated do ano.
10- St. Vincent - Strange Mercy
É quase impossível escolher uma faixa que se destaca no conjunto coeso de Strange Mercy, mas enquanto listas de inúmeras publicações premiam Cruel e Surgeon, e enquanto a primeira faixa do álbum a ganhar minha preferência foi Dilletante, é a faixa-título que cresce a cada audição.
9- Foo Fighters - Arlandria
O melhor elogio que eu posso fazer à Arlandria: abri o vídeo para o colocar aqui no post e tudo o que poderia pensar era na distância que separa Dezembro do dia 7 de Abril. Sincera e agressiva canção feita por Grohl para o estado em que cresceu, Arlandria é melódica e densa, e pode figurar sem timidez entre as melhores faixas da carreira do Foo Fighters. Se você não cantou "You and what army, Arlandria?", você não viveu 2011 apropriadamente.
8- The Black Keys - Lonely Boy
Você, por sinal, também não viveu 2011 apropriadamente se não dançou os mais novos minutos de perfeição blues-rock do duo Black Keys, Lonely Boy. Ainda não conheci uma pessoa, seja lá qual for seu gosto musical, que ficasse imune ou não curtisse Lonely Boy. Irresistível.
7- R.E.M. - Uberlin
Infelizmente, Überlin não tem um vídeo ao vivo sequer. Afinal, o R.E.M. anunciou no início do ano que já não faria mais turnês, nem ao menos para divulgar seu Collapse into now. Lembram quando isso parecia o fim do mundo, a pior notícia possível? Mal sabíamos que isso era apenas a ponta de um iceberg capaz de destruir o casco do Titanic.
6- The Decemberists - This is why we fight
Acho que esse era o hino Decemberistiano que Colin Meloy sempre buscou. This is why we fight, com suas raízes bem fundamentadas no R.E.M. de fases como Life's Rich Pageant, basicamente afirma que mesmo com as dificuldades que surgem pelo caminho (dificuldades que fizeram parte da trajetória recente do grupo folk de Portland, Oregon), vale a pena lutar.
5- Fleet Foxes - The Shrine/An Argument
Se a música fosse dividida em duas faixas distintas, tanto The Shrine quando An Argument mereceriam um lugar na lista. Mas Pecknold e cia. tiveram a sabedoria de reunir tudo em uma sinfonia prog-folk irretocável, que fica ainda melhor ao vivo, como você pode conferir no vídeo acima (mas prepara: a vontade de um show do Fleet Foxes será intensa após o vídeo).
4- Adele - Someone Like You
Não é qualquer compositor que tem a coragem de pegar uma faca, arrancar o coração e empacotar na forma de disco. E ainda, é claro, jogar sal nas próprias feridas a cada apresentação ao vivo, perante milhares de fãs. Coragem que deve ser premiada, na obra-prima das baladas românticas de 2011. Adele pode ter certeza que Someone Like You aparecerá em shows de calouros e álbuns de covers nos próximos dez, vinte ou trinta anos. E isso não é pra qualquer um.
3- Elbow - Lippy Kids
Ah, a sensação proporcionada por Lippy kids. A vontade de reencontrar todos os amigos que você teve na vida, desde aqueles do prézinho até os que você viu pela última vez na semana passada. A vontade de andar pelo corredor do seu velho colégio. Clichê, mas a nostalgia contida nas notas esparsas do piano do Elbow é impressionante, e me emociona toda vez. Além disso, se você coloca a faixa sincronizada com a cena final de Os Incompreendidos, elas se unem perfeitamente. Isso já era motivo pra sua presença em qualquer lista.
2- Bon Iver - Holocene
Holocene é apenas a melhor música do melhor disco do ano. Também é a melhor música de um dos maiores nomes do new-folk, vencendo pérolas de tempos e chalés passados como Skinny Love, Creature Fear e Flume.
1- Wilco - Art Of Almost
Cada disco do Wilco reúne um conjunto de pérolas, mas um clássico, um momento que nos faz revisitar nossa lista de preferidas da banda para arrumar um espaço para uma nova demonstração insana de talento, sempre se sobressai. Conheço muitos incrédulos em relação ao conjunto de The Whole Love. Mas não conheço ninguém que não reconheça a genialidade da faixa que o abre, Art of Almost. Art of Almost merece seu lugar no mesmo olimpo que sustenta Ashes of American Flags, Hummingbird, Via Chicago, Impossible Germany e por aí vai. Ao final de Art of Almost, a única dúvida que pode passar por sua cabeça é a de qual air instrument escolher para acompanhar a faixa, seja uma air guitar intensa de Nels Cline, air drums para a batida de Glenn Kotche... e por sinal, gostaria de informar: se eu escolhesse expandir as regras e inserir mais de uma faixa de cada artista nessa lista, One Sunday Morning não ficaria de fora de um top 3.
Bonus List: Cenas de um próximo capítulo - 5 Músicas que indicam que um bom ano vem aí
5- Bowerbirds - Tuck the darkness in
2011, o ano do folk. Mas 2012 não dá sinais de que o gênero será substituido tão cedo. E o Bowerbirds gravou essa pérola nos estúdios de Justin Vernon para provar isso.
4- Tennis - Origins
O Tennis saiu do iate e buscou Patrick Carney, do Black Keys, para polir o som vintage do grupo. O resultado é mais do que promissor.
3- Cloud Nothings - Stay Useless
Tudo indica que a melhor música pop do ano que vem já está aí para ser ouvida. E chega das mãos de uma das melhores estreias de 2011, Dylan Baldi e seu Cloud Nothings.
2- Nada Surf - When I Was Young
O Nada Surf se adapta e muda a cada momento, mas de maneira tão impecável que é até difícil definir qual é a melhor identidade do grupo. When I Was Young nem parece produzida pela mesma banda que cantava Popular, mas as duas bandas são igualmente perfeitas.
1- The Shins - For a Fool
Disco mais aguardado de 2012? Sim.
sábado, 24 de dezembro de 2011
domingo, 18 de dezembro de 2011
TTF Awards: melhores álbuns de 2011
Quase um ano separa o dia de hoje da última vez em que abri a página do Blogger. Era a noite do Oscar. E sentada aqui, ouvindo Decemberists (exatamente o mesmo álbum que eu ouvia durante a minha última postagem no TTF), parece que poucos instantes se passaram. Mas esses poucos instantes renderam bons filmes (mas o ano ainda se configura como um ano fraco) e bons álbuns. Vinte desses álbuns merecem uma atenção especial, por isso, estou aqui de volta ao bom e velho Through The Frames para compartilhar minha modesta lista de final de ano.
Quero avisar também que esse não é um post único para um pseudo-revival do blog. Depois de um ano agitado, no qual inúmeras ideias de críticas de filme ficaram apenas no plano das ideias e nunca ganharam a tela do PC, o blog está de volta, de verdade. Ou vocês achavam que eu deixaria o universo em paz em plena temporada de premiações em Hollywood?
Então, vamos à lista. 2011 foi um ano interessante. Nenhum lançamento supera a dupla que encabeçava a lista do ano passado (The Suburbs e High Violet) mas no volume total de bons discos, 2011 dá um banho em seu antecessor.
Confira a lista, curta, comente, critique, utilize de guia de presentes de natal para os amigos, ou para os inimigos...e até a próxima :D.
20- My Morning Jacket - Circuital
Não devíamos nos esquecer com tanta frequência do My Morning Jacket. Seus álbuns não causam comoção generalizada através da web, seu nome nunca é lembrado quando tecemos line-ups falsos porém esperados de festivais... Mas o grupo de Jim James não é apenas o eleito por publicações como uma das melhores bandas ao vivo da atualidade, é o responsável por um dos álbuns mais inspiradores de 2011.
My Morning Jacket - Holdin' on to black metal
19- Destroyer - Kaputt
Quando ouvi pela primeira vez Kaputt, faixa-título do novo álbum do Destroyer, meus ouvidos rejeitaram instantanemente aquele clima soft-rock "você acaba de sintonizar na Antena 1" da faixa. Os saxofones. Os vocais sussurados. Quase um ano após esse incidente, eis que resolvo conferir enfim toda a obra de Dan Bejar e... uau. Destaque para Chinatown, Blue Eyes e Savage Night at the Opera, o trio que me convenceu do poder de Kaputt.
Destroyer - Savage Night At The Opera
18- Megafaun - Megafaun
A paz na forma de disco. Não há stress que resista ou insônia que prevaleça perante Real Slow, faixa que abre esse disco. O Megafaun fez um álbum excelente em 2011, o tal ano do folk, que passou despercebido por tudo e todos. Um disco versátil, que flerta com o pop radiofônico em Second Friend e Everything e com um quase-dubstep em These Words. Uma fusão de Wilco e Avett Brothers, feita no porão de Justin Vernon.
Megafaun - Real Slow
17- PJ Harvey - Let England Shake
Em Let England Shake, existem dois diferentes álbuns. Um é aquele que você ouve sem muita atenção. É um bom álbum, com melodias intrigantes, mais um bom trabalho sonoro de PJ Harvey. O outro, é o que você percebe ao reparar em cada palavra dita por Polly Jean em seu estudo em 12 partes sobre a guerra e seus efeitos no consciente coletivo de um país. Esse sim devasta; e conquista uma vaga em qualquer lista que se preze.
PJ Harvey - The Words that Maketh Murder
16- The Rural Alberta Advantage - Departing
A transição de um álbum de estreia com o título de Hometowns para um com o nome Departing possui um valor simbólico muito grande. A relação de amor e ódio que permeava a excelente estreia da Rural Alberta Advantage (infelizmente desconhecida pelo grande público -ou até mesmo pelo pequeno público indie-), seja em um relacionamento, seja pela vida do interior canadense, se transformou em saudade e um desejo de se agarrar a cada detalhe da vida deixada no retrovisor, em faixas como Two Lovers, North Star e Tornado '87.
The Rural Alberta Advantage - North Star
15- Feist - Metals
Feist: a única que consegue equilibrar, em seu som, a sofisticação de Meryl Streep em O Diabo Veste Prada e a alegria pop desmedida de Meryl Streep em Mamma Mia (pesquisas indicam que 80% dos meus amigos cinéfilos acabam de fechar a janela do site após essa comparação. Mil perdões.). Essa não é a comparação mais ortodoxa já feita, mas descreve bem o trabalho da genial canadense. Continuando o curioso paralelo, em Metals, Feist priorizou a finesse adulta, deixou o pop animado de lado, e criou uma coleção de canções que vai do Jazz ao Art-rock. Metais nobres são assim mesmo: resistentes à oxidação do tempo, maleáveis em medida suficiente para transitar entre gêneros diferentes, e difíceis de encontrar na superfície.
Feist - How come you never go there
14- Laura Marling - A Creature I Don't Know
Ah, os efeitos de ouvir uma obra-prima composta por alguém com a mesma data de nascimento marcada na carteira de identidade que você. Não é fácil. Tudo que podemos fazer é reconhecer o brilhantismo de Laura Marling, que se supera a cada lançamento, e que com um pacote que incluia futuros clássicos do folk como Sophia, The Beast, Salinas e Night after Night, me deu a chance de me redimir pela ausência de I Speak Because I Can na lista de 2010.
Laura Marling - The Muse
13- Florence + The Machine - Ceremonials
É fácil odiar Florence Welch. Especialmente pois em um mundo no qual somos forçados a conviver com Ke$has e Rihannas em palcos principais do Rock in Rio, o pop grandioso e de fácil absorção é arquivado instantaneamente na pasta "Não, por favor". Mas Florence não tem outra escolha senão ser grande: é para canções com refrões épicos que sua voz foi feita, e é pra hinos escapistas que seu estilo existe. E é cheio desses momentos que chega Ceremonials, um disco que ousa ser ainda maior, e ainda melhor que Lungs.
Florence + The Machine - Shake it out
12- Bright Eyes - The People's Key
É difícil superar a definição de Conor Oberst para seu próprio The People's Key. "Nós estamos cansados do Americana, de raiz, seja lá qual for esse som. Pessoas dizem country mas eu nunca achei que fossemos country de verdade. Mas seja lá o que for esse elemento ou essa estética, está gasta pra mim. Então nós queríamos que fosse roqueiro,e na falta de um termo melhor, contemporâneo, ou moderno". Mas não é apenas um disco de rock, é um disco que mistura rock, rastafári, teorias e narrações, ora de maneira quase eletrônica, em Shell games, ora abraçando o lado deprê do Bright Eyes, nosso velho conhecido, na lindíssima Ladder Song.
Bright Eyes - Ladder Song
11- The Black Keys - El Camino
Antes do rock ser alvo de experimentações e mudanças drásticas, ele tinha um propósito bem definido. Essa adaptação festiva do blues era uma arma irresistível de diversão. Os tempos mudaram. Mas o Black Keys está aí para não deixar que o vagão do Rock divertido, dançante e pesado freie de vez. El Camino não é a salvação do rock (pois ele não precisa e nunca precisou de missão de resgate nenhuma) mas é a salvação de qualquer fim de semana dos próximos anos.
The Black Keys - Run Right Back
10- The Horrible Crowes - Elsie
Brian Fallon: quatro discos, quatro presenças nas minhas listas de final de ano. Chame isso de parcialidade, eu chamo de talento absurdo. Em 2011 Fallon só não superou a obra-prima The '59 Sound, com o filme-noir-em-forma-de-álbum Elsie, gravado com o projeto estreante The Horrible Crowes. Elsie é um disco sangrento, soturno, mas estranhamente delicado, perdido em algum lugar entre o punk e o post-punk.
The Horrible Crowes - Ladykiller
9- R.E.M. - Collapse into now
A vida realmente nos golpeou nessa. É até difícil comentar o fim de uma das bandas mais importantes na minha formação musical e na minha vida. Collapse into now é o ato final de uma peça que nos trouxe alguns dos momentos mais impressionantes, significativos, da história do rock, e faz por merecer essa importante missão de encerrar a brilhante carreira do R.E.M.. Mas entre Überlins, Oh My Hearts, Blues, está a crueldade de Michael Stipe e cia., que ao provar que a criatividade continua em alta, gera aquela pergunta chata na nossa cabeça: como viveremos sem esse tal de R.E.M.?
R.E.M. - Oh My Heart
8- Foo Fighters - Wasting Light
Em um ano com tantos fins trágicos de bandas (e algumas que se aproximam de fins parecidos), poucas coisas são tão agradáveis do que ver cinco amigos que ainda se divertem com cada minuto de sua profissão, mesmo após inúmeros tropeços e tragédias, bem retratados no documentário Back and Forth. E com Wasting Light, nós temos a chance de compartilhar toda essa diversão com eles. Alguns dizem que Wasting Light é o melhor álbum do Foo Fighters desde The Colour and the Shape. Acho isso uma pequena injustiça com There's Nothing Left to Lose. Mas o "retorno à velha forma" do Foo Fighters é inegável, e Wasting Light é formado por inúmeras pequenos clássicos, e parece mais pessoal, cru, do que qualquer coisa já feita pelo grupo.
Lá vai nosso herói de novo...Dave Grohl.
Foo Fighters e Bob Mould - Dear Rosemary
7- The Kills - Blood Pressures
Tem tanta energia contida no som que sai da guitarra de Jamie Hince que deveriam considerar Blood Pressures como um possível combustível alternativo. Blood Pressures é o álbum mais completo, coeso, do The Kills, e isso se reflete na difícil missão de se decidir por uma música favorita ou até mesmo um pequeno grupo de faixas que se destacam na obra. Talvez um empate entre a mais Kills de suas faixas, Heart is a Beating Drum, e o seu momento mais ousado, a balada The Last Goodbye.
The Kills - Heart is a beating drum
6- Adele - 21
Adele é oficialmente a "melhor amiga" de todo um planeta, uma missão nada fácil, afinal, ela apenas possui dois ombros para consolar a dor de cotovelo de aproximadamente 6.982 bilhões de pessoas nesse momento. Mas a amizade é uma via de mão dupla, e o mundo também possui 6.982 bilhões de pessoas que se preocupam com a jovem inglesa, se emocionam com cada apresentação de Someone Like You na qual Adele não contém o choro. Por outro lado? O ex de Adele conquistou 6.982 bilhões de inimigos. Talvez essa fosse a vingança planejada descrita em Rolling in the deep.
Adele - Rolling in the deep
5- Fleet Foxes - Helplessness Blues
Um conselho de amiga: compre o cd Helplessness Blues. Essa pérola folk dos Fleet Foxes não é apenas aquele cd que você quer no HD: é o tipo de disco melhor apreciado com o encarte precioso em mãos. Tudo na embalagem de Helplessness Blues remete ao tempo dos vinis, mas nada mais natural: afinal sua sonoridade também remete ao mesmo período.
Fleet Foxes - Bedouin Dress
4- Wilco - The Whole Love
O que faz de The Whole Love um álbum tão difícil de descrever, e especialmente, de escrever sobre? Talvez a culpa caia nos ombros do Wilco, que não falha, que insiste em manter uma carreira completamente impecável. Ou talvez seja toda a variedade do álbum, que pula de gênero em gênero e emula de Radiohead a Ryan Adams...sem deixar, hora nenhuma, de ser Wilco. Ou talvez, se eu falasse menos do Wilco no meu dia a dia, as palavras viriam com mais facilidade.
E para os que insistem em comparar todo álbum que os pobres norte-americanos lançam com o Yankee Hotel Foxtrot...isso é quase como comparar cada ganhador do Nobel de física com Albert Einstein. Afinal, 99,999% dos discos dos últimos 15 anos são piores que o Yankee Hotel Foxtrot (vocês sabem qual é a exceção à regra se me conhecem de alguma maneira).
Wilco - One Sunday Morning
3- The Decemberists - The King is Dead
Se essa lista levasse em conta como principal critério o nº de reproduções, The King is Dead levava o grande prêmio. Um disco que envelhece como vinho, e me acompanhou durante todo o ano, sem sinais de cansaço. Sou tão fascinada pela habilidade de Colin Meloy com as palavras que ouço sua música como uma criança que escuta um contador de histórias (e tive a chance de fazer algo próximo disso ao ler os primeiros capítulos de Wildwood, livro de Meloy). Como se um The King is Dead não fosse suficiente para agradar aos fãs, eles ainda retomaram o lado mais obscuro e literário com o ep Long Live The King, com todos seus funerais e sonetos de Dante Alighieri. Levantem suas taças para a mudança das estações.
The Decemberists - Don't Carry it All
2- St. Vincent - Strange Mercy
Ao desenvolver seu projeto solo, Annie Clark, guitarrista do Polyphonic Spree, escolheu adotar o nome de um hospital descrito pelo poeta britânico Dylan Thomas como "o lugar no qual a poesia chega para morrer". Dessa maneira, desde o batismo, uma identidade já estava formada: St. Vincent, sem nunca abandonar o lirismo e a melodia, não produz músicas "fáceis de digerir".
Strange Mercy é um álbum tão sufocante quanto sua capa revela, sem perder a veia pop. Enquanto Annie confessa que já "contou mentiras inteiras com um meio sorriso" e declara que não quer mais ser a Cheerleader de ninguém, ela transforma suas composições, catárticas como um diário, em contos absurdamente bem escritos sobre todas as crises possíveis: a existencial, a econômica... Li isso em algum lugar e resume bem: se a sociedade diz que Annie Clark não pode gritar, ela o faz com a guitarra, enquanto sua voz permanece imperturbável. E isso é o suficiente.
St. Vincent - Cheerleader
1- Bon Iver - Bon Iver
É possível escutar um álbum e não o ouvir? Sim. Eu poderia descrever aqui os motivos técnicos pelos quais Justino Vernão merece mais do que nunca essa posição de honra em minha lista, mas prefiro contar uma história.
No meu primeiro contato com o álbum Bon Iver, meus ouvidos, que aguardavam mais uma série de Skinny Loves ou Creature Fears, estranharam todo aquele verniz soft-rock. Deixei o disco de lado por alguns dias, até que o coloquei no MP3 Player, ao preparar uma playlist para minha viagem até o show de Paul McCartney no Rio.
Então foi em um ônibus, que cruzava a serra em uma madrugada, que eu realmente percebi cada nuance de Bon Iver, o álbum. Um disco feito para ser apreciado naquele frio que mesmo com três casacos, ainda quase congelava a ponta de meu nariz. Feito para ser conferido no silêncio total, enquanto todos os outros passageiros dormiam e a insônia me mantinha ali, com os ouvidos atentos aos fones e o olhar perdido em uma janela escura, atravessada pelo contorno das montanhas (gastei a poesia agora hein).
E aí que chega a resposta para a nossa pergunta: é sim, possível escutar um álbum e não o absorver completamente. Mas com as condições certas de luz, temperatura e estado de espírito, um novo disco se revela entre a neblina daquele que você havia escutado anteriormente. Holocene, Perth, Calgary, cada momento que parecia tão sutilmente construído, se agiganta. E o disco provoca uma resposta emocional intensa, não inserida por um estilo confessional de escrita, ou pela pompa instrumental... apenas pelo poder da música.
Bon Iver - Calgary
Quero avisar também que esse não é um post único para um pseudo-revival do blog. Depois de um ano agitado, no qual inúmeras ideias de críticas de filme ficaram apenas no plano das ideias e nunca ganharam a tela do PC, o blog está de volta, de verdade. Ou vocês achavam que eu deixaria o universo em paz em plena temporada de premiações em Hollywood?
Então, vamos à lista. 2011 foi um ano interessante. Nenhum lançamento supera a dupla que encabeçava a lista do ano passado (The Suburbs e High Violet) mas no volume total de bons discos, 2011 dá um banho em seu antecessor.
Confira a lista, curta, comente, critique, utilize de guia de presentes de natal para os amigos, ou para os inimigos...e até a próxima :D.
20- My Morning Jacket - Circuital
Não devíamos nos esquecer com tanta frequência do My Morning Jacket. Seus álbuns não causam comoção generalizada através da web, seu nome nunca é lembrado quando tecemos line-ups falsos porém esperados de festivais... Mas o grupo de Jim James não é apenas o eleito por publicações como uma das melhores bandas ao vivo da atualidade, é o responsável por um dos álbuns mais inspiradores de 2011.
My Morning Jacket - Holdin' on to black metal
19- Destroyer - Kaputt
Quando ouvi pela primeira vez Kaputt, faixa-título do novo álbum do Destroyer, meus ouvidos rejeitaram instantanemente aquele clima soft-rock "você acaba de sintonizar na Antena 1" da faixa. Os saxofones. Os vocais sussurados. Quase um ano após esse incidente, eis que resolvo conferir enfim toda a obra de Dan Bejar e... uau. Destaque para Chinatown, Blue Eyes e Savage Night at the Opera, o trio que me convenceu do poder de Kaputt.
Destroyer - Savage Night At The Opera
18- Megafaun - Megafaun
A paz na forma de disco. Não há stress que resista ou insônia que prevaleça perante Real Slow, faixa que abre esse disco. O Megafaun fez um álbum excelente em 2011, o tal ano do folk, que passou despercebido por tudo e todos. Um disco versátil, que flerta com o pop radiofônico em Second Friend e Everything e com um quase-dubstep em These Words. Uma fusão de Wilco e Avett Brothers, feita no porão de Justin Vernon.
Megafaun - Real Slow
17- PJ Harvey - Let England Shake
Em Let England Shake, existem dois diferentes álbuns. Um é aquele que você ouve sem muita atenção. É um bom álbum, com melodias intrigantes, mais um bom trabalho sonoro de PJ Harvey. O outro, é o que você percebe ao reparar em cada palavra dita por Polly Jean em seu estudo em 12 partes sobre a guerra e seus efeitos no consciente coletivo de um país. Esse sim devasta; e conquista uma vaga em qualquer lista que se preze.
PJ Harvey - The Words that Maketh Murder
16- The Rural Alberta Advantage - Departing
A transição de um álbum de estreia com o título de Hometowns para um com o nome Departing possui um valor simbólico muito grande. A relação de amor e ódio que permeava a excelente estreia da Rural Alberta Advantage (infelizmente desconhecida pelo grande público -ou até mesmo pelo pequeno público indie-), seja em um relacionamento, seja pela vida do interior canadense, se transformou em saudade e um desejo de se agarrar a cada detalhe da vida deixada no retrovisor, em faixas como Two Lovers, North Star e Tornado '87.
The Rural Alberta Advantage - North Star
15- Feist - Metals
Feist: a única que consegue equilibrar, em seu som, a sofisticação de Meryl Streep em O Diabo Veste Prada e a alegria pop desmedida de Meryl Streep em Mamma Mia (pesquisas indicam que 80% dos meus amigos cinéfilos acabam de fechar a janela do site após essa comparação. Mil perdões.). Essa não é a comparação mais ortodoxa já feita, mas descreve bem o trabalho da genial canadense. Continuando o curioso paralelo, em Metals, Feist priorizou a finesse adulta, deixou o pop animado de lado, e criou uma coleção de canções que vai do Jazz ao Art-rock. Metais nobres são assim mesmo: resistentes à oxidação do tempo, maleáveis em medida suficiente para transitar entre gêneros diferentes, e difíceis de encontrar na superfície.
Feist - How come you never go there
14- Laura Marling - A Creature I Don't Know
Ah, os efeitos de ouvir uma obra-prima composta por alguém com a mesma data de nascimento marcada na carteira de identidade que você. Não é fácil. Tudo que podemos fazer é reconhecer o brilhantismo de Laura Marling, que se supera a cada lançamento, e que com um pacote que incluia futuros clássicos do folk como Sophia, The Beast, Salinas e Night after Night, me deu a chance de me redimir pela ausência de I Speak Because I Can na lista de 2010.
Laura Marling - The Muse
13- Florence + The Machine - Ceremonials
É fácil odiar Florence Welch. Especialmente pois em um mundo no qual somos forçados a conviver com Ke$has e Rihannas em palcos principais do Rock in Rio, o pop grandioso e de fácil absorção é arquivado instantaneamente na pasta "Não, por favor". Mas Florence não tem outra escolha senão ser grande: é para canções com refrões épicos que sua voz foi feita, e é pra hinos escapistas que seu estilo existe. E é cheio desses momentos que chega Ceremonials, um disco que ousa ser ainda maior, e ainda melhor que Lungs.
Florence + The Machine - Shake it out
12- Bright Eyes - The People's Key
É difícil superar a definição de Conor Oberst para seu próprio The People's Key. "Nós estamos cansados do Americana, de raiz, seja lá qual for esse som. Pessoas dizem country mas eu nunca achei que fossemos country de verdade. Mas seja lá o que for esse elemento ou essa estética, está gasta pra mim. Então nós queríamos que fosse roqueiro,e na falta de um termo melhor, contemporâneo, ou moderno". Mas não é apenas um disco de rock, é um disco que mistura rock, rastafári, teorias e narrações, ora de maneira quase eletrônica, em Shell games, ora abraçando o lado deprê do Bright Eyes, nosso velho conhecido, na lindíssima Ladder Song.
Bright Eyes - Ladder Song
11- The Black Keys - El Camino
Antes do rock ser alvo de experimentações e mudanças drásticas, ele tinha um propósito bem definido. Essa adaptação festiva do blues era uma arma irresistível de diversão. Os tempos mudaram. Mas o Black Keys está aí para não deixar que o vagão do Rock divertido, dançante e pesado freie de vez. El Camino não é a salvação do rock (pois ele não precisa e nunca precisou de missão de resgate nenhuma) mas é a salvação de qualquer fim de semana dos próximos anos.
The Black Keys - Run Right Back
10- The Horrible Crowes - Elsie
Brian Fallon: quatro discos, quatro presenças nas minhas listas de final de ano. Chame isso de parcialidade, eu chamo de talento absurdo. Em 2011 Fallon só não superou a obra-prima The '59 Sound, com o filme-noir-em-forma-de-álbum Elsie, gravado com o projeto estreante The Horrible Crowes. Elsie é um disco sangrento, soturno, mas estranhamente delicado, perdido em algum lugar entre o punk e o post-punk.
The Horrible Crowes - Ladykiller
9- R.E.M. - Collapse into now
A vida realmente nos golpeou nessa. É até difícil comentar o fim de uma das bandas mais importantes na minha formação musical e na minha vida. Collapse into now é o ato final de uma peça que nos trouxe alguns dos momentos mais impressionantes, significativos, da história do rock, e faz por merecer essa importante missão de encerrar a brilhante carreira do R.E.M.. Mas entre Überlins, Oh My Hearts, Blues, está a crueldade de Michael Stipe e cia., que ao provar que a criatividade continua em alta, gera aquela pergunta chata na nossa cabeça: como viveremos sem esse tal de R.E.M.?
R.E.M. - Oh My Heart
8- Foo Fighters - Wasting Light
Em um ano com tantos fins trágicos de bandas (e algumas que se aproximam de fins parecidos), poucas coisas são tão agradáveis do que ver cinco amigos que ainda se divertem com cada minuto de sua profissão, mesmo após inúmeros tropeços e tragédias, bem retratados no documentário Back and Forth. E com Wasting Light, nós temos a chance de compartilhar toda essa diversão com eles. Alguns dizem que Wasting Light é o melhor álbum do Foo Fighters desde The Colour and the Shape. Acho isso uma pequena injustiça com There's Nothing Left to Lose. Mas o "retorno à velha forma" do Foo Fighters é inegável, e Wasting Light é formado por inúmeras pequenos clássicos, e parece mais pessoal, cru, do que qualquer coisa já feita pelo grupo.
Lá vai nosso herói de novo...Dave Grohl.
Foo Fighters e Bob Mould - Dear Rosemary
7- The Kills - Blood Pressures
Tem tanta energia contida no som que sai da guitarra de Jamie Hince que deveriam considerar Blood Pressures como um possível combustível alternativo. Blood Pressures é o álbum mais completo, coeso, do The Kills, e isso se reflete na difícil missão de se decidir por uma música favorita ou até mesmo um pequeno grupo de faixas que se destacam na obra. Talvez um empate entre a mais Kills de suas faixas, Heart is a Beating Drum, e o seu momento mais ousado, a balada The Last Goodbye.
The Kills - Heart is a beating drum
6- Adele - 21
Adele é oficialmente a "melhor amiga" de todo um planeta, uma missão nada fácil, afinal, ela apenas possui dois ombros para consolar a dor de cotovelo de aproximadamente 6.982 bilhões de pessoas nesse momento. Mas a amizade é uma via de mão dupla, e o mundo também possui 6.982 bilhões de pessoas que se preocupam com a jovem inglesa, se emocionam com cada apresentação de Someone Like You na qual Adele não contém o choro. Por outro lado? O ex de Adele conquistou 6.982 bilhões de inimigos. Talvez essa fosse a vingança planejada descrita em Rolling in the deep.
Adele - Rolling in the deep
5- Fleet Foxes - Helplessness Blues
Um conselho de amiga: compre o cd Helplessness Blues. Essa pérola folk dos Fleet Foxes não é apenas aquele cd que você quer no HD: é o tipo de disco melhor apreciado com o encarte precioso em mãos. Tudo na embalagem de Helplessness Blues remete ao tempo dos vinis, mas nada mais natural: afinal sua sonoridade também remete ao mesmo período.
Fleet Foxes - Bedouin Dress
4- Wilco - The Whole Love
O que faz de The Whole Love um álbum tão difícil de descrever, e especialmente, de escrever sobre? Talvez a culpa caia nos ombros do Wilco, que não falha, que insiste em manter uma carreira completamente impecável. Ou talvez seja toda a variedade do álbum, que pula de gênero em gênero e emula de Radiohead a Ryan Adams...sem deixar, hora nenhuma, de ser Wilco. Ou talvez, se eu falasse menos do Wilco no meu dia a dia, as palavras viriam com mais facilidade.
E para os que insistem em comparar todo álbum que os pobres norte-americanos lançam com o Yankee Hotel Foxtrot...isso é quase como comparar cada ganhador do Nobel de física com Albert Einstein. Afinal, 99,999% dos discos dos últimos 15 anos são piores que o Yankee Hotel Foxtrot (vocês sabem qual é a exceção à regra se me conhecem de alguma maneira).
Wilco - One Sunday Morning
3- The Decemberists - The King is Dead
Se essa lista levasse em conta como principal critério o nº de reproduções, The King is Dead levava o grande prêmio. Um disco que envelhece como vinho, e me acompanhou durante todo o ano, sem sinais de cansaço. Sou tão fascinada pela habilidade de Colin Meloy com as palavras que ouço sua música como uma criança que escuta um contador de histórias (e tive a chance de fazer algo próximo disso ao ler os primeiros capítulos de Wildwood, livro de Meloy). Como se um The King is Dead não fosse suficiente para agradar aos fãs, eles ainda retomaram o lado mais obscuro e literário com o ep Long Live The King, com todos seus funerais e sonetos de Dante Alighieri. Levantem suas taças para a mudança das estações.
The Decemberists - Don't Carry it All
2- St. Vincent - Strange Mercy
Ao desenvolver seu projeto solo, Annie Clark, guitarrista do Polyphonic Spree, escolheu adotar o nome de um hospital descrito pelo poeta britânico Dylan Thomas como "o lugar no qual a poesia chega para morrer". Dessa maneira, desde o batismo, uma identidade já estava formada: St. Vincent, sem nunca abandonar o lirismo e a melodia, não produz músicas "fáceis de digerir".
Strange Mercy é um álbum tão sufocante quanto sua capa revela, sem perder a veia pop. Enquanto Annie confessa que já "contou mentiras inteiras com um meio sorriso" e declara que não quer mais ser a Cheerleader de ninguém, ela transforma suas composições, catárticas como um diário, em contos absurdamente bem escritos sobre todas as crises possíveis: a existencial, a econômica... Li isso em algum lugar e resume bem: se a sociedade diz que Annie Clark não pode gritar, ela o faz com a guitarra, enquanto sua voz permanece imperturbável. E isso é o suficiente.
St. Vincent - Cheerleader
1- Bon Iver - Bon Iver
É possível escutar um álbum e não o ouvir? Sim. Eu poderia descrever aqui os motivos técnicos pelos quais Justino Vernão merece mais do que nunca essa posição de honra em minha lista, mas prefiro contar uma história.
No meu primeiro contato com o álbum Bon Iver, meus ouvidos, que aguardavam mais uma série de Skinny Loves ou Creature Fears, estranharam todo aquele verniz soft-rock. Deixei o disco de lado por alguns dias, até que o coloquei no MP3 Player, ao preparar uma playlist para minha viagem até o show de Paul McCartney no Rio.
Então foi em um ônibus, que cruzava a serra em uma madrugada, que eu realmente percebi cada nuance de Bon Iver, o álbum. Um disco feito para ser apreciado naquele frio que mesmo com três casacos, ainda quase congelava a ponta de meu nariz. Feito para ser conferido no silêncio total, enquanto todos os outros passageiros dormiam e a insônia me mantinha ali, com os ouvidos atentos aos fones e o olhar perdido em uma janela escura, atravessada pelo contorno das montanhas (gastei a poesia agora hein).
E aí que chega a resposta para a nossa pergunta: é sim, possível escutar um álbum e não o absorver completamente. Mas com as condições certas de luz, temperatura e estado de espírito, um novo disco se revela entre a neblina daquele que você havia escutado anteriormente. Holocene, Perth, Calgary, cada momento que parecia tão sutilmente construído, se agiganta. E o disco provoca uma resposta emocional intensa, não inserida por um estilo confessional de escrita, ou pela pompa instrumental... apenas pelo poder da música.
Bon Iver - Calgary
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